quinta-feira, 20 de agosto de 2020

"Renan Calheiros, a história de um 'pilantra'", por Wagner Hertzog

 

O Brasil é um dos países com maior carga tributária do mundo, pagamos impostos em praticamente tudo, ainda que a maioria destes impostos sejam indiretos. Não obstante, eles dilaceram nossa prosperidade financeira de forma implacável, sem que muitas vezes sejamos capazes de perceber isso.

Determinados produtos, por exemplo — como vinhos e destilados —, podem ficar até 400% mais caros por causa dos impostos.

Como o custo Brasil nunca para de crescer — justamente por conta dos gastos exorbitantes do estado brasileiro —, a máquina pública invariavelmente transformou a população em uma grande nação de escravos que devem trabalhar compulsoriamente para bancar todos os seus custos, não importa quão monumental venha a ser o sacrifício imposto a sociedade produtiva.

Essa é uma das razões pelas quais tantos indivíduos ingressam na política.

Como a possibilidade de fazer fortuna no estado brasileiro é enorme, não faz sentido abrir uma empresa, produzir, ter que arcar com a folha de pagamento de funcionários, fornecedores, contratar um profissional da área contábil, ter que lidar com gastos exorbitantes e pagar uma montoeira de impostos, se é muito mais fácil virar um parasita governamental, e surrupiar por força de lei quem produz.

Renan Calheiros nessa questão é um "ótimo" exemplo a ser citado, por ser o arquétipo do político brasileiro padrão. Renan Calheiros nunca trabalhou um único dia sequer de trabalho árduo, honesto e decente em toda a sua vida. Fez imensurável fortuna na política, e hoje é um dos coronéis do Alagoas, um dos estados mais pobres, violentos, atrasados e subdesenvolvidos da federação.

Na política desde os anos 1990, Renan Calheiros vem se perpetuando como senador pelo estado do Alagoas desde 1995. Fez carreira como político — no caso dele, o termo correto seria parasita — profissional.

Nunca fez nada de relevante pelo Brasil ou pelo seu estado. Antes de ingressar na política, Renan era um indivíduo pobre. Dormia de favor na casa de um amigo, e sua única posse era um carro usado. Hoje, ele possui inúmeras propriedades, empresas, ações e fazendas, e é um dos indivíduos mais ricos de Alagoas.

Desde muito cedo, no entanto, Renan mostrou a que veio. Seu objetivo sempre foi saquear a nação com ganância e voracidade. Extorquir o contribuinte para financiar sua vida extravagante sempre foi a sua única prioridade.

A eclosão do Renangate — como foi chamado o polêmico caso do pagamento de propinas da empreiteira Mendes Júnior a uma amante de Renan — resultou em um escândalo que fez o mandatário renunciar à presidência do Senado.

No final de 2016, Renan virou réu no STF por acusações de peculato. O caso envolveu novamente a empreiteira Mendes Júnior, que teria pago propinas a Renan para implementar políticas clientelistas que favorecessem a companhia. Esse foi apenas o início de uma longa jornada de contravenções, que vieram para mostrar o oportunista imoral que é Renan Calheiros.

Citado na Operação Lava Jato, antes mesmo de virar réu no STF, o procurador geral da República, na época, Rodrigo Janot, solicitou a prisão de Renan Calheiros, juntamente com o senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney.

Em 2013, Renan Calheiros comprou uma mansão em Brasília, no valor de 2 milhões de reais. Verificou-se que a aquisição era incompatível com sua renda, que na época era de pouco mais de cinquenta mil reais.

Quando o TSE pediu justificativas a Renan sobre a aquisição do imóvel, mostrando que as parcelas mensais de 152 mil para a compra da residência eram incompatíveis com os seus rendimentos financeiros, Renan afirmou que possuía renda oriunda de atividade "pública e privada".

Depois de uma consistente averiguação de todo o seu patrimônio, não foi possível confirmar a veracidade das justificativas apresentadas por Renan Calheiros. Sem dúvida nenhuma, havia muita falcatrua envolvida na aquisição do imóvel. Imobiliárias da região afirmaram que a propriedade adquirida por Renan não sairia por menos de 3 milhões de reais.

Como a justiça no Brasil é lenta, e a lei foi feita para favorecer os corruptos, as acusações que viram inquéritos arrastam-se em processos letárgicos e sonolentos, que normalmente não dão em nada.

Com um STF que simplesmente adora proteger o crime organizado, é evidente que a justiça na República Federativa da Corrupção não chega nunca a lugar nenhum. Permanecemos atolados sempre no mesmo lugar.

Indivíduo que se tornou milionário com a política, Renan Calheiros é o político tupiniquim por excelência. Nunca fez nada de útil ou relevante, a não ser aumentar consideravelmente o seu patrimônio, graças à apropriação indevida de dinheiro público, Astuto e dissimulado como uma raposa velha, o senador alagoano sempre soube jogar o jogo da velha política fazendo alianças oportunas, e consolidando o coronelismo com os barões da plutocracia nordestina, tornando-se um mestre no sistema da troca de favores, o que lhe garantiu uma posição de liderança entre os mandatários da viciada e decrépita política nacional .

Uma das políticas fundamentais de gente como Renan Calheiros, especialmente no nordeste, é manter deliberadamente a população na mais torpe e deplorável pobreza.

Isso — além de gerar capital político — transforma gente como ele em herói nas épocas de eleições, pela concessão de benefíciozinhos assistencialistas irrelevantes, auferidos para mitigar a pobreza de forma superficial, com o objetivo de angariar a aparência de benfeitor. Isso transforma esses barões políticos, como Renan Calheiros, em salvadores aos olhos de pessoas mais humildes, ingênuas demais para perceber como são feitas de idiotas pelos oligarcas da velha política.

Renan Calheiros é parte da podridão funesta que infecta a política nacional há décadas. Sujeira atrás de sujeira, conchavos, eleições compradas, subornos, trocas de favores, um sistema político clientelista impregnado de falcatruas, mortes encomendadas, disseminação sistemática da pobreza, dilaceração da livre iniciativa e domínio total do poder público por oligarquias que estão permanentemente encasteladas em invioláveis e blindadas torres de marfim — que irradiam esplendor e beleza em meio a um cenário de degradação e pobreza crônicas — são elementos que descrevem de forma realista a deplorável situação da política nacional, e denunciam de maneira incisiva o porquê o Brasil permanece um país miserável, pobre e estagnado.

O Brasil é refém de ditaduras oligárquicas e de plutocracias mafiosas que se perpetuam no poder dominando a máquina pública, e mantendo a população submissa a diretrizes estatais extorsivas, perversas e discricionárias.

A degradante situação de um estado como Alagoas se perpetua em decorrência da miséria difundida pelo sistema do coronelismo, e do subdesenvolvimento que isso gerou como consequência da concentração de poder de máfias políticas locais. Renan Calheiros — como muitos outros políticos antes dele —, soube se aliar às facções dominantes, e tirar proveito do degradante cenário regional do seu estado natal para enriquecer, e se tornar um integrante da aristocracia política.

Como todos que fazem parte deste sistema, o seu único interesse é acumular poder, aumentar o seu patrimônio e difundir a miséria e a pobreza entre a população, para manter a dependência da sociedade no estado e garantir o seu curral eleitoral. A situação regional de Alagoas o treinou para Brasília, e agora ele faz parte da elite política federal que perpetua as condições escravagistas que mantém toda a sociedade brasileira refém de um estado perdulário, desonesto, mafioso e soviético.

Renan Calheiros é mais um dos pilantras que você financia através dos impostos exorbitantes que o estado o obriga a pagar. Indivíduo repugnante — completamente desprovido de caráter —, Renan Calheiros é mais um dentre centenas de políticos que ficaram ricos surrupiando o seu dinheiro.

E acima de tudo, perpetuando esse sistema funesto de deplorável escravidão, para que no final, você pague a conta. Você come pão e toma água, enquanto eles desgustam caviar e os mais sofisticados espumantes importados, tudo pago com o seu dinheiro. Esse é o sistema que eles construíram e pretendem manter a todo custo.

Wagner Hertzog

Jornal da Cidade