terça-feira, 18 de agosto de 2020

"Reflexão sobre os argumentos de uma minoria que saiu em defesa do chororô do ator Diogo Vilela", por Marcelo Rates Quaranta

 

Esse texto a respeito do chororô do Diogo Vilela tomou uma repercussão que eu não esperava. Foram milhares de compartilhamentos e felizmente o apoio em massa de 99,99% das pessoas que leram.

Há sim um senso comum de que a mamata da Lei Rouanet criou uma casta de dependentes (eu diria mamadores) e que hoje estão inconformados com as mudanças nos critérios, que atendiam sempre os "amigos do rei".

Uma parte ínfima, porém, achou escabroso o que eu falei, e partiu em defesa de tal prática, com o argumento de que o governo não ajuda os artistas. Quem patrocina os artistas são as empresas, e essas têm renúncia fiscal.

Tem lógica isso?

Será que essas pessoas - geralmente estúpidas até no entendimento do que falam - fazem alguma ideia do que estão falando?

Quando uma empresa patrocina um artista com base no limite de captação autorizado pelo Ministério da Cultura, parte desse financiamento serve como ISENÇÃO de impostos ou renúncia fiscal do governo, que deixa de receber (muitas vezes cifras de alguns milhões). Ora, se o governo faz uma renúncia dessa parcela que lhe é devida e o dinheiro foi para o artista, é claro que o governo está co-patrocinando!

Acontece que aquilo que o governo arrecada na forma de impostos é usado na educação, saúde, segurança, custeio da máquina pública e etc. Se ele abre mão de parte dos impostos de quem patrocina um artista, alguém tem que repor esse dinheiro.

Quem? Nós!

Não se inventa dinheiro para cobrir as despesas. Então nós acabamos co-patrocinando os artistas indiretamente. E tome-lhe impostos e criar impostos pra cobrir esses e outros buracos.

Supondo que não seja assim, e que o governo apenas tenha uma arrecadação menor e por isso tem que cortar gastos com segurança, saúde e etc... Da mesma forma nós saímos prejudicados. Logo, acaba pesando nas nossas costas do mesmo jeito.

Apesar de no meu texto eu não ter desmerecido o ator Diogo Vilela em lugar nenhum em relação ao seu talento (por sinal o acho talentoso e gosto do trabalho dele), continuo afirmando que por mais talentoso que um artista seja, nós não temos que financiar seus projetos com os nossos impostos, que são uma parte significativa dos nossos salários e rendimentos. Eles que se virem como todo empresário ou empreendedor se vira. Não são diferentes e nem melhores que nós.

E vamos em frente, que o brasileiro tem que acordar às 4:30 da manhã pra pegar o ônibus lotado, porque não tem patrocínio de ninguém.


Jornal da Cidade