quarta-feira, 26 de agosto de 2020

J.R. Guzzo: "Argentina prova que não há nada de ruim que não possa piorar"

 argentinos

O presidente da Argentina, Alberto Fernández | Foto: REPRODUÇÃO/INTERNET

Quando as coisas parecem estar indo mal no Brasil, e em geral é assim que elas parecem na maior parte do tempo, sempre é um consolo olhar um pouco para Argentina. Raramente, ali, o governo deixa de lado alguma chance para errar – e o resultado é que eles estão sempre piorando o que já é o pior. 

Justo agora, com o país metido na crise sem tamanho que o coronavírus trouxe para o continente e para o mundo em geral, o presidente da República e as forças políticas a quem serve decidiram estatizar, para efeitos práticos, os serviços de internet, de telefonia celular e de televisão paga. 

É a Argentina querendo ficar igual à Venezuela, Cuba e outros paraísos da igualdade.

Oficialmente não foi utilizada a palavra “estatização”, mas é disso que se trata na vida real. 

O governo declarou que a internet, o celular e a TV a cabo são “serviços públicos essenciais”, cujo acesso deve ser garantido para “todos e para todas” – bem, só por esse “todas” já dá para se sentir perfeitamente para onde está indo a procissão. 

O centro da questão é simples: a partir de agora, é o Estado quem realmente manda em toda essa área. 

Para começo de conversa, já congelaram as tarifas “até o fim do ano”. 

Num país que acumulou quase 16% de inflação apenas nos sete primeiros meses de 2020, não é preciso ser nenhum Prêmio Nobel de Economia para ver o que o peronismo de novo reinante na Argentina vai fazer com a comunicação eletrônica. Operar com prejuízo permanente e sem limites é prerrogativa exclusiva do Estado.

A decisão vai exatamente na mesma direção do resto: confisco fiscal nas exportações, taxação dos produtos agrícolas como se fossem artigos de luxo, tabelamento de preços, 330 bilhões de dólares de dívida externa, confusão com o FMI, calote à vista. 

Lembram-se do Brasil de 30 ou 40 anos atrás, com “as missões do FMI”, os “empréstimos-ponte”, os clubes de credores e outras maravilhas? Pois é. 

A Argentina continua nessa mesma balada, convencida de que quanto pior a situação, mais o Estado deve se meter em tudo. 

A estatização da internet e do celular não tem nada a ver, é claro, com garantir “acesso” à coisa nenhuma; destina-se unicamente a aumentar o poder dos que controlam a máquina pública.

A maioria dos argentinos acha que assim é melhor. Não há, desse jeito, nenhuma possibilidade de esperar algo diferente. É cada vez mais do mesmo.

Gazeta do Povo