sábado, 22 de agosto de 2020

"A era da decadência", por Marcelo Tognozzi

Steve Bannon: tornou-se 1 alvo

Enganou muitos por muito tempo

Mas não escapou da Justiça

Trump já havia se livrado dele com desonra...

Os procuradores de Nova Iorque pegaram Steve Bannon. Há tempos ele vinha sendo percebido como uma pessoa tóxica por políticos da ala conservadora. O próprio Donald Trump já havia se livrado dele com desonra, dizendo que Steve chorou como uma criança quando foi demitido no dia 5 de abril de 2017.

Seu estilo de fazer política na base do tudo ou nada, esticando a corda da polarização ao máximo e no limite do risco, fez dele um alvo. Foi acusado de enganar os doadores de um movimento para a construção de um muro na fronteira com o México, embolsando parte do dinheiro.

Menos de um ano depois de deixar a equipe da Casa Branca, Bannon ressurgiu no escândalo da empresa britânica Cambridge Analytica, a qual manipulou dados de pelo menos 87 milhões de usuários do Facebbok para fins políticos, sem que eles soubessem. Bannon era parceiro da Cambridge e trabalhava para emplacar um esquema global de manipulação de opinião pública que, de acordo com as investigações, contaria com a vista grossa dos comandantes do Facebook.

Passou a financiar diretamente a direita europeia como principal benemérito do Instituto Dignitatis Humanae, instalado no monastério de Trisulti, nas montanhas de Collepardo perto de Roma. O Instituto é ligado à ala conservadora da Igreja Católica, dirigido por cardeais opositores do Papa Francisco. Todos alcançaram o topo da hierarquia religiosa nomeados por João Paulo 2º e Bento 16.

A ideia de transformar o monastério de 800 anos numa escola de formação de líderes da nova direita mundial, com um currículo que incluía filosofia, teologia, história, economia e política não agradou aos moradores da área e o Ministério da Cultura da Itália tentou barrar o projeto. Mas Bannon brigou na Justiça e, no fim de maio, conseguiu fazer valer o arrendamento do prédio por 19 anos.

A Jistiça norte-americana fixou fiança de US$ 5 milhões a Steve Bannon. Até o dinheiro da fiança precisará explicar de onde veio. Pelas acusações publicadas no The New York Times, entre elas fraude, terá muita dor de cabeça pela frente. Até então escapara ileso de todas as confusões em que se meteu.

Agora, além da questão jurídica, Bannon terá de lidar com as consequências sobre a sua reputação de consultor político, o que não é pouco para alguém com inserção mundial, abençoado pelos cardiais conservadores e criador do grupo The Moviment com representantes nos quatro cantos do planeta. O abalo na reputação do ex-estrategista político de Trump acabou respingando no clã dos Bolsonaro, a quem ele andou dando alguns palpites. Mas isso é café pequeno.

O caso de política envolvendo um dos arquitetos da vitória de Donald Trump em 2016 é apenas a ponta do iceberg da decadência que contamina a política americana nesta primeira metade do século 21. Nos últimos 20 anos, 41 políticos foram presos nos Estados Unidos, a maioria por corrupção. Há curiosidades como um tal Jim Traficant, deputado pelo Partido Democrata eleito por Ohio, que pegou 10 anos.

Em 2016, Ravi Singh, filho de imigrantes indianos conhecido como o Guru das Campanhas, foi condenado a 15 meses de prisão por financiamento eleitoral ilegal. Sua empresa, a ElectionMall, fechos as portas. Singh trabalhou como consultor da campanha do tucano José Serra em 2010 e ajudou a eleger Juan Manoel dos Santos na Colômbia. Dick Morris, conselheiro político de Bill Clinton também teve sua reputação ferida por escândalos com prostitutas e dividas com o fisco que quase o mandaram para a cadeia em 2010.

Lincoln dizia que você pode enganar alguns por algum tempo, muitos por muito tempo, mas não pode enganar todos todo o tempo. A corrupção tem sido uma marca da era Trump. Um redemoinho engolidor de políticos e seus assessores, movido a dólares e interesses de todo tipo. No mês passado, o presidente da Câmara dos Deputados de Ohio Lary Householder, do Partido Republicano, foi preso acusado de liderar um esquema de roubalheira que lavou pelo menos 60 milhões de dólares.

Agora, Bannon foi pego enganando otários que acreditam ser um muro a solução de todos os seus problemas. Bannon enganou muitos, mas não escapou da Justiça. Deve ser terrível viver num país tomado pela corrupção endêmica.

Poder360