quarta-feira, 22 de julho de 2020

Preso pela PF, Júnior da Qualicorp construiu império do zero e era próximo de políticos, como Serra

O empresário José Seripieri Filho, de 52 anos, fundador e ex-presidente da administradora de planos de saúde Qualicorp, era conhecido no mercado como um administrador astuto e que, segundo pessoas próximas, sempre esteve próximo de figuras de poder, independentemente do partido que estivesse no Planalto. Uma fonte, porém, se disse surpresa com a proximidade – e a generosidade – de Júnior, como é conhecido, com o senador José Serra (PSDB). 
Segundo apurou o Estadão, a aproximação entre os dois começou em 2010, quando um amigo em comum apresentou o fundador da Qualicorp ao então candidato à Presidência da República. Nessa época, a companhia era líder de setor. Quem conhece Júnior, no entanto, garante que a proximidade do empresário com figuras poderosas não se resumiu a tucanos. O círculo de amizade também incluía petistas. 

Junior
empresário José Seripieri Filho, de 52 anos, fundador 
e ex-presidente da Qualicorp Foto: Julia Moraes/Fiesp
O bilionário Júnior – que já apareceu na lista de bilionários formulada pela revista Forbes – começou de baixo e é visto como um empresário que se fez sozinho. Ainda menor de idade, levava e trazia bugigangas do Paraguai. Queria ser médico, mas não passou no vestibular. Resultado: com ajuda do pai, acabou virando vendedor de planos de saúde. 

Pulo do gato

Uma das principais anedotas da trajetória de Júnior é o fato de ser gago. Ele contornou a questão ao trocar as vendas por telefone pelas de porta em porta. Foi por conhecer intimamente os problemas e os custos das operadoras que ele decidiu tirar as áreas comercial e administrativa das contas dessas companhias: acabou criando um negócio que virou “queridinho” da Bolsa.
Muita gente no mercado credita a Júnior uma “invenção” no mercado de saúde privada: a criação dos planos coletivos de categoria. Em vez de um grande grupo de usuários ser necessariamente reunido por uma empresa, os segurados também passaram a ser agregados por sindicatos e outras entidades. É uma forma mais fácil e lucrativa do que captar consumidores individualmente. A inovação foi consolidada depois de uma mudança na legislação do setor.
Há pelo menos dez anos a Qualicorp é uma empresa disputada no mercado e querida por investidores. Recebeu aportes de grandes fundos internacionais – como os americanos General Atlantic e Carlyle – e realizou uma bem-sucedida abertura de capital (arrecadou, em valores de 2011, cerca de R$ 1 bilhão). Júnior manteve-se presidente da companhia até 2019.

Operação Paralelo
Agentes da Polícia Federal carregam malotes na sede da corporação, 
após busca e apreensão da Operação Paralelo nesta terça-feira, 21
Foto: Werther Santana/Estadão
Sua saída também veio acompanhada de uma polêmica. Em 2018, dentro do pacote de sua transição profissional, Júnior negociou com os demais acionistas um prêmio de R$ 150 milhões. O episódio assustou o mercado e, à época, os papéis da Qualicorp despencaram. Ao longo de 2019, com o esclarecimento das condições, as ações voltaram a subir. 
Júnior acabou deixando o negócio com uma cláusula de não competição que o impedia de atuar no setor de saúde por um longo período. No entanto, essa condição acabou sendo renegociada depois que ele decidiu comprar um negócio que estava dentro da Qualicorp – o plano de saúde QSaúde. 

De saída

O empresário praticamente zerou sua posição acionária na Qualicorp depois de ter deixado a presidência da companhia – a transição foi consequência da entrada da Rede D’Or no rol de acionistas da companhia. Hoje, sua participação giraria estaria abaixo de 3%. Pelas regras atuais do mercado brasileiro, acionistas com menos de 5% do capital não precisam revelar o tamanho real de sua posição.

Apesar disso, o envolvimento do nome do ex-controlador em um escândalo político não agradou os investidores da companhia. Os papéis ordinários da Qualicorp fecharam o dia com queda de 6,41%, cotados a R$ 29,81 – a maior baixa do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro no dia. / COLABOROU ANDRÉ VIEIRA

Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo