O represamento dos dados e o não registro da data dos primeiros sintomas podem ser a explicação para o número recorde de novos casos registrados no Brasil na última semana
Nesta semana, o país assistiu a uma turbulência nos registros da covid-19. Na quarta-feira, 22, os números atingiram novos recordes no Brasil e no estado de São Paulo. Naquele dia, o painel do Ministério da Saúde contabilizou 67.860 novos casos de contaminação pelo vírus chinês em todo o Brasil, sendo 16.777 deles só em São Paulo. Um aumento de quase 27 mil no país e mais de 10 mil no estado, em comparação com o dia anterior.
As autoridades paulistas, no entanto, ponderam que a alta recente não representa a realidade da propagação da doença. Coordenador do Centro de Contingência do coronavírus no Estado de São Paulo, o médico Paulo Menezes defende que, para entender o que realmente está ocorrendo, é preciso trabalhar com a contagem de casos a partir da data dos primeiros sintomas. Ele também chama a atenção para o represamento dos dados na última semana em nível estadual e federal.
Segundo Menezes, existem dois bancos de dados para contabilizar os casos de covid-19 no Brasil. O primeiro, chamado Sivep-Gripe, registra pacientes hospitalizados. O segundo, para casos leves que não necessitam de internação, é chamado eSUS-VE.
“O volume de informação no eSUS-VE é muito grande”, disse Menezes. “Só no estado de São Paulo, estamos falando de algo próximo a 2 milhões de notificações por dia. Por ser um sistema pesado, ele apresentou instabilidade desde quinta-feira, 16 de julho, até a segunda-feira, 20. Os municípios tiveram dificuldade de atualizar os dados de notificação de casos leves”.
Como as informações recomeçaram a ser atualizadas de uma única vez, no dia 22 foram registrados mais de 16 mil casos confirmados e, no dia 23, mais de 12 mil. Menezes ponderou, inclusive, que os números bem mais altos que o normal (que giram em torno de 7,5 mil por dia) devem continuar por mais algum tempo.
Os números reais
Para resolver a contaminação nos dados e identificar o real quadro da pandemia, Menezes defende que se analise a data do início dos sintomas e não a de confirmação da doença. “Isso permite ver, de fato, a tendência do que está ocorrendo”, acredita. Poucos estados, entretanto, acrescentam essa informação às planilhas disponibilizadas por suas secretarias e pelo Ministério da Saúde.
Em junho, a revista Oeste publicou uma reportagem especial justamente para mostrar como estatísticas desencontradas e falta de critérios na consolidação de dados atrapalham a gestão pública e o dia a dia de empresas e cidadãos na guerra contra o coronavírus.
O represamento dos dados e o não registro da data dos primeiros sintomas podem ser a explicação para o número recorde de novos casos registrados no Brasil nos últimos sete dias. Na semana que se encerrou no sábado, 25, foram 319.653 contaminados pelo vírus chinês, contra 235.010 da semana anterior (um aumento de 26,4%).
Isso explicaria porque o crescimento no número de óbitos não seguiu a mesma proporção. Subiram de 7.303, na semana passada, para 7.677 – um aumento de 4,8%.
O Estado de São Paulo
Em São Paulo, contudo, quase 100% dos registros apresentam a data dos primeiros sintomas. Através da análise desses números é possível constatar que, embora 16.777 novos casos tenham sido registrados em 22 de julho, apenas 265 pessoas tiveram o início dos sintomas naquela data.
Do fim do represamento até hoje (de 22 a 25 de julho), por exemplo, 56.812 casos foram confirmados no estado. Desse montante, apenas 1.524 começaram a apresentar os sintomas neste período.
Até o momento, o pico foi em 1º de junho, quando os primeiros sintomas da doença apareceram para 8.360 pessoas no Estado. Em julho, o maior registro diário ainda não chegou a 8.000.
Até agora, o estado de São Paulo confirmou 479 mil casos de coronavírus. Destes, 21.517 morreram e 319.848 já se curaram da doença.
Branca Nunes e Artur Piva, Revista Oeste