Analisar um discurso é igual interpretar uma realidade, ou uma obra de arte: depende do olhar. Para os críticos, Bolsonaro decepcionou; para os admiradores, o presidente encantou. Como ser objetivo, e não subjetivo, nessa avaliação?
Minha tentativa se apega à escrita. Relendo com calma o discurso, separei 20 colocações feitas pelo presidente do Brasil na abertura da Assembleia Geral da ONU. Aglutinei-as em 3 temas.
Sobre economia:
- Estamos adotando políticas que nos aproximem de países que se desenvolveram e consolidaram suas democracias. Não pode haver liberdade política sem que haja também liberdade econômica. E vice-versa.
- O livre mercado, as concessões e as privatizações já se fazem presentes hoje no Brasil. A economia está reagindo, ao romper os vícios e amarras de quase 2 décadas de irresponsabilidade fiscal, aparelhamento do Estado e corrupção generalizada.
- Estamos abrindo a economia e nos integrando às cadeias globais de valor. Em apenas 8 meses concluímos os dois maiores acordos comerciais da história do país, firmados entre o Mercosul e a União Europeia, e entre o Mercosul e a Área Europeia de Livre Comércio (EFTA).
- Estamos prontos para iniciar nosso processo de adesão à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Já estamos adiantados, adotando as práticas mundiais mais elevadas em todo os terrenos, desde a regulação financeira até a proteção ambiental.
Sobre meio ambiente, Amazônia e indígenas:
- Nossa política é de tolerância zero para com a criminalidade, aí incluídos os crimes ambientais.
- É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade e um equívoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta é o pulmão do mundo.
- A visão de um líder indígena não representa a de todos os índios brasileiros. Muitas vezes alguns desses líderes são usados como peça de manobra por governos estrangeiros.
- Infelizmente, algumas pessoas, de dentro e de fora do Brasil, apoiadas em ONGs, teimam em tratar e manter nossos índios como verdadeiros homens das cavernas.
- O Brasil agora tem um presidente que se preocupa com aqueles que lá estavam antes da chegada dos portugueses. O índio não quer ser latifundiário pobre em cima de terras ricas.
- O mundo necessita ser alimentado. A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura, já o Brasil usa apenas 8% de terras para a produção de alimentos. E 61% do nosso território é preservado.
- Qualquer iniciativa de ajuda ou apoio à preservação da Floresta Amazônica, ou de outros biomas, deve ser tratada em pleno respeito à soberania brasileira.
Sobre democracia, política e cidadania:
- O Brasil reafirma seu compromisso intransigente com os mais altos padrões de direitos humanos, com a defesa da democracia e da liberdade, de expressão, religiosa e de imprensa.
- Há pouco, presidentes que me antecederam desviaram centenas de bilhões de dólares comprando parte da mídia e do Parlamento, tudo por um projeto de poder absoluto.
- Foram julgados e punidos graças ao patriotismo, perseverança e coragem de um juiz que é símbolo no meu país, o Dr. Sérgio Moro, nosso atual Ministro da Justiça e Segurança Pública.
- O Brasil que represento é um país que está se reerguendo, revigorando parcerias e reconquistando sua confiança política.
- Durante as últimas décadas, nos deixamos seduzir, sem perceber, por sistemas ideológicos de pensamento que não buscavam a verdade.
- A ideologia se instalou no terreno da cultura, da educação e da mídia, dominando meios de comunicação, universidades e escolas. A ideologia invadiu nossos lares para investir contra a célula mater de qualquer sociedade saudável, a família.
- O politicamente correto passou a dominar o debate público para expulsar a racionalidade e substituí-la pela manipulação, pela repetição de clichês e pelas palavras de ordem.
- Nas questões do clima, da democracia, dos direitos humanos, da igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres, e em tantas outras, tudo o que precisamos é isto: contemplar a verdade.
- O Brasil vem trabalhando para reconquistar a confiança do mundo, diminuindo o desemprego, a violência e o risco para os negócios, por meio da desburocratização, da desregulamentação e, em especial, pelo exemplo.
Aqui está o conteúdo básico, tirando algumas adjetivações. Aposto que, sem visão pré-concebida, o discurso de Bolsonaro agrada à grande maioria dos brasileiros. Basta ler, e verificar a coerência com os propósitos que o conduziram ao Planalto.
Sendo assim, fica, então, a dúvida: por que jornalistas e analistas políticos foram tão ácidos em seus comentários sobre o discurso de Bolsonaro na ONU?
Resposta: simplesmente pelo fato de Bolsonaro ter sido genuíno, verdadeiro, em sua fala. Queriam que ele se transmutasse, se ensaboasse pela diplomacia. Mas não. Ele reafirmou, e o fez com altivez, as razões políticas de sua vitória. Do seu jeito.
Esse é o ponto-chave. Bolsonaro tem orgulho em representar a ruptura da velha ordem política no Brasil. Bolsonaro não dissimula nem tergiversa. Ele assume ser o aríete dessa mudança. Ele age como se recebesse uma missão divina.
Quando jornalistas escrevem, desaprovando, que Bolsonaro “falou apenas para seu público”, se esquecem que o público dele representa a maioria da nação. Não me refiro apenas aos ferrenhos “bolsonaristas”.
Gente como eu, que o apoiou para evitar o retorno do PT ao poder, dele espera exatamente isso: que reafirme, na ONU e alhures, que o Brasil se cansou daquela sua política velhaca, que valoriza a figuração para esconder a malandragem.
Menos importa, neste momento, as bravatas ideológicas e culturais. Decência na vida pública é o que manda agora. Botar a casa em ordem, enfrentar a desgraça que desmoralizou nossa democracia.
Bolsonaro não foi eleito pela sua simpatia. Nós queremos coerência. Vimos isso na ONU. A Assembleia Geral se calou ouvindo o presidente do Brasil dizer, com todas as letras, que nossa bandeira voltou a ser verde-amarela.
E a honestidade tomou conta da República. O resto, vemos depois.