
SÃO PAULO — Os desdobramentos de duas cirurgias a que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) foi submetido depois de ter sido ferido à faca quando fazia campanha, semana passada, em Juiz de Fora, levaram o comando de sua candidatura a redefinir, mais uma vez, a estratégia política até a eleição. Embora apresente evolução clínica e nenhum sinal de infecção, Bolsonaro voltou para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), após procedimento de desobstrução intestinal.
Diante do quadro, familiares e aliados avaliam que o candidato ficará impossibilitado de atuar diretamente na campanha, e não poderá até mesmo gravar vídeos, justamente uma das iniciativas que serviriam para abastecer os canais de comunicação do candidato. Para manter a candidatura em evidência, uma das alternativas é que dirigentes se dividam em compromissos da campanha. Também reforçarão, nas plataformas digitais, o discurso de que Bolsonaro terá condições de retomar as atividades num eventual segundo turno. Além disso, a campanha pretende utilizar vídeos previamente gravados antes da hospitalização.
Nas imagens, Bolsonaro apresentará propostas e rebaterá críticas de adversários.
De acordo com um interlocutor do partido, existe material inédito para ser usado até as eleições. Antes da realização do segunda cirurgia, uma gravação estava prevista para domingo, ainda no leito do hospital. Com a alteração de seu quadro de saúde, a captação de imagens não deve se realizar.
Nesta quinta-feira, um dos filhos do candidato, Flávio Bolsonaro, em entrevista à rádio 97,1 FM, do Rio de Janeiro, fez um desabafo sobre a situação clínica do pai, e disse que a orientação médica é a de que ele evite falar.
- Ele não está conseguindo nem falar direito, então não pode ir para a internet para fazer transmissão ao vivo, conversar com todo mundo. A orientação médica é que nem fale, porque quando fala acumula gases e pode ocasionar mais dor ainda - explicou o filho.
Um dos principais aliados de Bolsonaro, o presidente do PSL de São Paulo, Major Olímpio, verbalizou as dificuldades da campanha. Ele acredita que a ausência de Bolsonaro, principalmente em agendas públicas, deve fazer com que diminua o número de simpatizantes nas ruas.
Uma das orientações da equipe médica que acompanha Bolsonaro no Hospital Albert Einstein é que se diminua o número de visitas. Desde que foi internado, o candidato resolveu visita de familiares, aliados e até artistas que foram prestar solidariedade. Alguns gravaram vídeo e fizeram foto.
Jussara Soares e Tiago Alencar, O Globo