Ao rifar Marília Arraes, PT repete o passado e sacrifica o futuro
Aos 34 anos, Marília Arraes cresceu e apareceu como vereadora do Recife. Neta de Miguel Arraes, prima de Eduardo Campos, ela mostrou ousadia ao romper com os herdeiros oficiais do clã. Deixou o PSB, que comanda o estado como uma capitania hereditária, e se filiou ao PT. Na oposição, despontava como forte candidata ao governo de Pernambuco.
Não será mais. Numa decisão , o petismo sacrificou sua maior promessa de renovação no Nordeste. O partido rifou Marília para facilitar a reeleição de Paulo Câmara. Em troca, o PSB deixou Ciro Gomes sozinho na corrida presidencial. A vereadora acusou seu partido de vender sua cabeça “a preço de banana”. É o velho pragmatismo petista de volta à cena.
Em 1998, o Rio foi palco de uma barganha parecida. Líder das passeatas de 68, Vladimir Palmeira enfeitiçou a militância e ameaçou o reinado do brizolismo. Sob as ordens de Lula e José Dirceu, o partido implodiu sua candidatura para se aliar ao PDT. A intervenção resultou na vitória de Anthony Garotinho. Em pouco tempo, ele se livrou dos petistas e os amaldiçoou com o apelido de “partido da boquinha”.
“Cansamos de dizer que aquilo seria uma grande burrice”, lembra Vladimir, duas décadas depois. “A partir dali, o PT do Rio acabou. Milhares de filiados saíram do partido, que deixou de ter qualquer possibilidade de governar o estado”, acrescenta.
Afastado da política, o velho militante vê a história se repetir em Pernambuco. “Tudo isso para isolar o Ciro, porque o Lula não quer ninguém no lugar dele”, avalia. “O risco é a esquerda ficar fora do segundo turno, vendo um duelo do Alckmin com o Bolsonaro”.
Por Bernardo Mello Franco, O Globo