A interrupção de investimentos e do consumo diante do quadro eleitoral indefinido aprofunda a crise do mercado de trabalho
A pouco menos de cinquenta dias do primeiro turno, o cenário eleitoral continua indefinido. Pior para os brasileiros, principalmente para aqueles que dependem da recuperação da economia para voltar a ter alguma renda. Obras, investimentos e até o consumo estão paralisados diante da ausência de um favorito claro para ser o futuro presidente. Os números mais recentes mostram um quadro dramático para o trabalhador. E ainda há uma agravante: não existe perspectiva de melhora significativa nos próximos meses. O país já tem quase 13 milhões de desempregados. Além disso, há um contingente crescente de pessoas que trabalham menos horas por dia do que gostariam e outro de pessoas que desistiram de procurar ocupação porque cansaram de tanto insucesso e espera. Ou seja, na prática, o desemprego atinge um número ainda mais expressivo de brasileiros.
O trabalhador que, por qualquer motivo, parou de procurar emprego recebe o nome de “desalentado”. Ele personifica a pior etapa da deterioração do mercado de trabalho. Em geral, quem perde o emprego ainda tenta, por meses ou até anos, encontrar alguma vaga que recupere sua renda mensal. Na falta de uma posição com carteira assinada, muitos aceitam trabalhar por conta própria ou sem registro. São as subocupações, que nem sempre representam uma jornada usual e, na maioria das vezes, pagam menos. Quando não aparece uma alternativa nem na informalidade, a pessoa acaba desistindo e aguarda alguma recuperação do mercado antes de voltar a buscar um emprego. É aí que começa o desalento. Havia 4,8 milhões de pessoas nessa situação precária no fim de junho. É uma massa que cresceu com velocidade assustadora: quatro anos atrás, o número de desalentados no país não chegava a 1,5 milhão. O total de desempregados há dois anos ou mais também bateu recorde: 3,2 milhões de pessoas.
Os efeitos da paralisia são dramáticos. Ter milhões de brasileiros fora do mercado de trabalho significa uma perda de produtividade permanente. Isso porque crises duradouras geram um contingente de profissionais cujos conhecimentos e habilidades se tornam obsoletos. “No momento em que o setor privado voltar a contratar, a tendência é que esses trabalhadores sejam preteridos e tenham menos chances de retomar a carreira do ponto em que estavam quando foram demitidos”, diz Sergio Firpo, economista do Insper. Isso explica por que estados com menor criação de vagas e economia menos diversificada têm taxas de desalento maiores. No Maranhão e em Alagoas, o número de desalentados representa mais de 15% da força de trabalho total. Tais pessoas dependem da renda de familiares para sobreviver ou entram na camada de pobreza, tornando-se dependentes de programas sociais como o Bolsa Família. Outro fenômeno preocupante é o aumento do número de homens no desalento, que triplicou em quatro anos. Historicamente, mulheres são mais propensas a desistir, ainda que temporariamente, de procurar uma vaga. Apesar do crescimento do grupo de mulheres que chefiam lares, a maior fonte de rendimento de grande parte dos domicílios brasileiros continua sendo o homem trabalhador. Isso significa que famílias inteiras ficaram vulneráveis.
Por fim, a percepção de que a recuperação da economia e, portanto, do mercado de trabalho vai demorar estimula as pessoas a desistir de procurar emprego. A retomada talvez só ocorra em meados de 2019, e isso também depende de quem ganhar a eleição. A greve dos caminhoneiros, em maio, cortou o último fio de esperança de uma expansão com algum vigor neste ano. Investidores e empresários congelaram os projetos novos. A ordem é esperar pelas propostas do próximo presidente ou até mesmo acompanhar os acontecimentos nos primeiros meses do novo mandato. “Ainda que a reforma da Previdência saia do papel e haja uma recuperação da confiança de empresários e consumidores, a economia demorará a engrenar”, diz Cosmo Donato, da LCA Consultores. Para ele, o retorno do desemprego ao patamar pré-crise levará pelo menos uma década. “São problemas que só serão corrigidos a longo prazo, com a execução das reformas e investimento em educação”, afirma o economista. Até que isso aconteça, ficaremos congelados, quase parados no tempo.