Jackson Hole, uma pequena cidade na região montanhosa do Wyoming, foi um dos centros mais importantes do mundo financeiro ontem, quando o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, defendeu mais uma vez a estratégia de elevação gradual dos juros nos Estados Unidos. Embora seja uma estação de inverno, ponto de atração de esquiadores, Jackson Hole é internacionalmente mais famosa no verão, quando abriga a conferência anual do Federal Reserve, a mais influente autoridade monetária do mundo.
Qualquer pista sobre a evolução dos juros e da política de crédito na maior potência econômica e financeira mexe com todos os mercados, afeta os fluxos de capitais e movimenta o câmbio. Num ano de severa turbulência cambial, com tem sido 2018, a política do Fed é especialmente importante para as economias mais vulneráveis a choques por suas fraquezas externas ou internas. O Brasil é uma delas.
Enquanto o mundo acompanhava o discurso de Jerome Powell, o Dansk Bank, um dos maiores da Europa do Norte e um dos grandes do mercado global, divulgava uma lista de “cinco novos frágeis entre os emergentes”. A relação inclui o Brasil, ao lado de Argentina, África do Sul, Rússia e Turquia. No primeiro conjunto de cinco frágeis, elaborado em 2013 por um analista do banco americano Morgan Stanley, apareciam Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e Turquia. Várias vezes citado em listas desse tipo, o Brasil continua no grupo, embora seu balanço de pagamentos esteja saudável, a dívida externa seja pequena e o País disponha da segurança de reservas superiores a US$ 370 bilhões.
Rússia, África do Sul e Turquia têm problemas diplomáticos com os Estados Unidos, estão sujeitas a pressões e, em alguns casos, até a sanções econômicas. O caso da Turquia é agravado pela má condição de suas contas externas, pela inflação elevada e pela sujeição do banco central à influência do presidente Recep Tayyip Erdogan.
No caso do Brasil, a instabilidade cambial tem sido acentuada, segundo o banco, pela presença do ex-presidente Luiz Inácio da Silva nas pesquisas de intenções de votos e pelo risco de eleição de um político sem compromisso com a recuperação das finanças oficiais. O comentário destaca a dívida pública próxima de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e o risco de fortes pressões do mercado no caso de vitória de Lula. O cenário básico, segundo o informe, é de vitória de um candidato conservador, mas de muita instabilidade do real antes da eleição.
A inclusão do Brasil na lista dos frágeis é relevante, mesmo num relatório sem grande novidade, porque mais uma vez chama a atenção para a imagem do País no mercado financeiro global. O texto é especialmente significativo por causa da menção à dívida pública. A referência a uma proporção próxima de 90% do PIB é baseada no critério do Fundo Monetário Internacional (FMI). Pelo critério brasileiro, o número está pouco abaixo de 80%. Por qualquer padrão, o endividamento é muito alto para um país emergente. Problemas desse tipo indicam risco de insolvência. Não é um risco imediato, mas está no radar do mercado financeiro e todos os candidatos à Presidência deveriam estar conscientes disso.
Antes da divulgação da lista do Dansk Bank, o Brasil já estava sujeito a fortes pressões cambiais. O real foi uma das moedas mais depreciadas neste ano. Não houve grandes danos até agora, nem o Banco Central foi forçado a elevar o juro básico para enfrentar o problema cambial. Mas o perigo permanece e pode aumentar, mesmo se o Fed continuar elevando os juros americanos muito devagar e sem transformar os sustos, frequentes até agora no mercado financeiro, em pânico.
Candidatos com algum bom senso e uma visão menos provinciana deveriam esforçar-se para tranquilizar os mercados e atenuar a turbulência cambial. Seria uma forma de evitar, entre outros efeitos, uma inflação maior e uma alta provável dos juros. O presidente eleito seria um beneficiário desse cuidado – e o País também. Mas a maioria dos candidatos parece viver em outro mundo, onde nenhum desses problemas existe ou importa.