Ah, Dilma Rousseff, Dilma Rousseff…
A mulher segue dando entrevistas por aí. Estamos a três dias da instalação da sessão do Senado que dará início a seu julgamento, e ela segue esperneando, contra todas as evidências.
Itamar assumiu a Presidência em definitivo 87 dias depois de ter dado início à interinidade, com o afastamento de Collor. No dia 19, Temer completou 100 dias no poder ainda sob o signo da provisoriedade. Mais: Collor renunciou assim que o Senado se reuniu para julgá-lo — o procedimento, diga-se, teve continuidade, e se votou seu impeachment, embora ele já não tivesse mais mandato. Dilma diz que vai até o fim.
Por isso a votação que selou o destino do hoje senador por Alagoas foi breve. Afinal, nem presidente ele era mais. Dilma, que jura que não vai renunciar, quer que a coisa se estenda por uma semana. No dia 29, está previsto o seu pronunciamento no Senado.
As diferenças não são só essas: afastado, ninguém deu muita bola para o que Collor tinha a dizer; um gato-pingado ou outro se atreviam a falar em sua defesa. Nem mesmo partido ele tinha. Aquele pelo qual se elegera, o PRN, já havia se esfacelado porque, a rigor, nunca chegou a existir. Era só um arranjo eleitoreiro.
Com Dilma, é diferente. Aliás, procurem o noticiário da época. Raramente se agregava o adjetivo “interino” à palavra “presidente” quando se falava em Itamar. A situação de Temer, nesse particular, é bem mais difícil.
Dilma concedeu mais uma entrevista, desta vez ao programa Conexão Repórter, do SBT, que foi ao ar na madrugada desta segunda. Ganha um pirulito de presente quem adivinhar a tese central de sua fala: oh, sim! Ela disse que o impeachment é… golpe!!! Aliás, deve ser o golpe mais lento da história da política, não é mesmo?
A Afastada voltou a fazer a confusão de que mais gosta: confundir crime de responsabilidade com falta de honestidade pessoal — e essas são coisas absolutamente distintas. Nem entro no mérito de sua honradez pessoal (já volto ao tema). O fato é que um anjo de bondade pode cometer um crime de responsabilidade — e é disso que ela está sendo acusada. Esse é o fato jurídico. Ela atentou contra a Lei Orçamentária. Mas está caindo também porque levou o país ao buraco. Essa é a questão política. Mas quê… Tomando bugalho por alho, voltou a evocar a tal honestidade para chamar o processo de golpe.
Dilma admitiu erros? Um o outro. Mas o principal, diz ela, ora vejam, foi Michel Temer, escolhido para vice. Para começo de conversa, não se tratou de uma opção pessoal. O acordo era partidário. Em segundo lugar, destaque-se que o agora presidente, quando na coordenação política, foi absolutamente fiel a Dilma. E eficaz. Ela e sua turma, liderada por Aloizio Mercadante, é que decidiram defenestrá-lo.
Ela disse também que errou ao imaginar que a crise teria uma solução rápida. A Afastada só não admite que a barafunda econômica que está aí foi criada por ela mesma — antes, obviamente, das tentativas de consertar as bobagens, o que também não deu em nada.
Dilma tem outra tese interessante: disse que Temer quer apressar o impeachment — de que maneira estaria sendo apressado, ela não diz… — porque teme as delações premiadas. Parece piada: por tudo o que se sabe até agora e pelos dados que vazaram das apurações, ele não será esmagado por revelações, mas ela sim.
A propósito: quando confrontada com informações oriundas da delação de João Santana, seu marqueteiro, dá uma resposta realmente fabulosa. O homem assegura que Dilma tinha plena consciência do caixa dois e que autorizou a operação, mobilizando, para tanto, Guido Mantega, seu ministro da Fazenda, o que é consistente, tudo indica, com revelações feitas pelos executivos da Odebrecht.
O que ela tem a dizer? Isto: “Ele [Santana] confessou, é responsabilidade dele. Eu não reconheço, eu não paguei. Primeiro, tem que investigar e ver se pagou; quem pagou e como pagou. Não tenho certeza se ele mentiu ou se falou a verdade. Não vou assumir responsabilidade do que eu não sei, não controlo e não sei como foi feito”.
Entendi.
Se houve a safadeza, então foi coisa do PT. Ela não tem nada com isso.
Corolário: se Dilma voltar à Presidência, pelo visto, não terá nem o apoio do partido que a elegeu.
É do balacobaco!