
Ana Paula Ribeiro - O Globo
O aumento das provisões para devedores duvidosos e o crédito mais fraco afetaram os resultados do Banco do Brasil. A instituição financeira, a maior do país, viu seu lucro cair 18% no segundo trimestre, para R$ 2,465 bilhões. No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 4,824 bilhões, um tombo de 45%, também gerado pelos gastos necessários para lidar com possíveis calotes.
O BB considera essas provisões como um efeito extraordinário, ou seja, que não deve se repetir. Ao desconsiderar esse efeito, o lucro ajustado ficou no segundo trimestre em R$ 1,801 bilhão, uma queda de 40,8% na comparação com igual trimestre do ano passado e uma alta de 40% em relação aos três primeiros meses do ano. Já no acumulado do semestre, o lucro ajustado ficou em R$ 3,087 bilhões, recuo de 49,1%.
A expectativa do banco é que os gastos com provisões comecem a cair, à medida que a economia dê sinais de melhoria.
Com a atividade econômica ainda fraca, o banco piorou as suas projeções para desempenho da carteira de crédito, o que deve ser compensado por maiores receitas com tarifas. Em relação às provisões, a expectativa é de uma normalização no segundo semestre.
— Com a estabilidade do cenário econômico uma melhora da inadimplência vai ocorrer concomitantemente. Tivemos alguns acontecimentos extraordinários no trimestre — disse Paulo Rogério Caffarelli, presidente do BB.
O índice de inadimplência (atrasos acima de 90 dias) chegou a 3,27%, ante 2,60% no trimestre anterior e 1,89% em junho de 2015. Essa elevação, segundo o banco, está relacionado a uma empresa de óleo e gás, cuja totalidade de crédito foi colocada em inadimplência. O nome não foi citado, mas todos os grandes bancos já fizeram provisões bilionárias para a Sete Brasil. Ainda sobre o aumento das provisões, a operadora Oi entrou em recuperação judicial em junho, o que contribuiu para o aumento das provisões - mesmo que o crédito ainda não esteja em atraso de mais de 90 dias.
O banco cortou a projeção para o crescimento de sua carteira de crédito ampliada neste ano para o intervalo de queda de 2% a alta de 1%. A previsão anterior era de expansão entre 3% e 6%. Essa piora se deve principalmente ao desempenho esperado para os empréstimos às empresas, que devem cair entre 6% e 10%, ante estimativa anterior de crescimento de 1% a 4% neste ano.
Além de crédito menor, o banco está gastando mais com provisões. No segundo trimestre elas cresceram 59,5% sobre um ano antes, a R$ 8,277 bilhões.
— Mas no segundo semestre já vamos ver uma redução das provisões, acompanhando a melhora do cenário econômico — disse.
RECEITA DE TARIFAS CRESCE
O resultado só não foi pior devido ao aumento das receitas com tarifas. O Banco do Brasil elevou em 12,8% as receitas com tarifas por serviços prestados, que atingiram R$ 6,063 bilhões no segundo trimestre. Esse movimento deve continuar. Caffarelli nega que isso signifique aumento das tarifas. Segundo ele, a maior receita decorre de mais serviços ofertados.
— Não é aumento de tarifa, mas uma elevação dos volumes de serviços oferecidos. Temos mais de 60 milhões de clientes e a maior parte da receita vem de 18 milhões deles. Então há espaço para o crescimento da oferta de serviços — afirmou.
Segundo o banco, 60% do resultado do banco vem de operações de crédito, 30% de tarifas e 10% da área de tesouraria. A tendência de acordo com o executivo é que a fatia de tarifas cresça ao longo do tempo.
As despesas operacionais, porém, subiram 12,2% na comparação anual, para R$ 13,010 bilhões , avançando 2,7% sobre os três primeiros meses do ano.
O banco acredita que, com mais receitas, melhora da margem financeira (que ocorre quando uma operação de crédito é renovada com juros mais elevados), controle das despesas e gestão da sprovisões podem ajudar no aumento da rentabilidade do banco.
— Temos espaço para isso. O banco quer uma rentabilidade compatível com os pares privados. Isso vai ocorrer com maiores margens, mais receitas com serviços, gestão das provisões e controle de despesas — disse Caffarelli.
A rentabilidade do banco chegou a 14,1%, um aumento em relação aos 10,7% do segundo trimestre do ano passado. No entanto, é bem abaixo do registrado pelos principais concorrentes. No Itaú, essse retorno sobre o patrimônio foi de 20,8% entre abril e junho e o do Bradesco, de 17,4%.
Apesar da queda do lucro, Rafael Ohmachi, analista da Guide Investimentos, viu como positivo o resultado. Segundo ele, no médio prazo, será positivo para o desempenho das ações do banco essa busca por maior rentabilidade.
— O banco quer aumentar a sua rentabilidade com aumento dos spreads, porque isso fará a margem financeira subir. Isso ajuda o resultado em um ambiente de fraco crescimetno do crédito. Sobre as despesas com provisões, isso deve começar a melhorar no médio prazo — avaliou.