quinta-feira, 28 de julho de 2016

Hillary Clinton é mais qualificada que eu para ser presidente, diz Obama

Marcelo Ninio - Folha de São Paulo


Exatos doze anos depois do marcante discurso na convenção democrata que o projetou nacionalmente quando ainda era senador, o presidente dos EUA, Barack Obama, voltou a falar no encontro de seu partido nesta (quarta), desta vez para tentar impulsionar a candidatura de Hillary Clinton à Casa Branca.

"Jamais houve alguém, homem ou mulher, nem eu ou Bill (Clinton), mais preparado do que Hillary para servir como presidente dos Estados Unidos", disse Obama, voltando-se para o ex-presidente, que estava na platéia. "Espero que você não se importe, Bill, só estou falando a verdade".

Aaron P. Bernstein/Getty Images/AFP
O presidente dos EUA, Barack Obama, discursa nesta quarta-feira (27) na Convenção Democrata

O presidente dos EUA, Barack Obama, discursa nesta quarta-feira (27) na Convenção Democrata

A preparação de Hillary já havia sido destacada pelo presidente em seu discurso de apoio, em maio, e no comício que os dois fizeram juntos, no final de junho.

A América já é grande e forte, disse Obama, rebatendo a retórica do candidato republicano, o magnata Donald Trump, cujo slogan de campanha promete "fazer a América grande novamente". O magnata não oferece soluções reais, apenas slogans e medo, afirmou.

Enfileirando ações de seus quase oito anos de governo para mostrar que o país já é grande, o presidente buscou fazer um contraste otimista ao discurso sombrio de Trump na convenção republicana da semana passada, em que descreveu uma nação à beira do abismo econômico e sob ameaça iminente de ser alvo de inimigos externos como o grupo terrorista Exército Islâmico.

"Nosso país foi testado por guerras e recessão. Estou diante de vocês para dizer que estou mais otimista sobre o futuro da América do jamais estive", disse Obama. "E só há uma candidata que tem essa visão de futuro, e ela é Hillary Clinton".

Que diferença oito anos fazem —e não só o cabelo grisalho, do qual o presidente fez troça. "Estou mais maduro", brincou. Em 2008, quando disputou a candidatura democrata à Casa Branca contra Hillary, Obama dizia que ela era capaz de dizer qualquer coisa para ser eleita, ironizava sua antipatia e a criticava por ficar do lado das grandes corporações, enquanto trabalhadores perdiam empregos.

Agora que está na reta final de sua Presidência, ele derrama-se em elogios à ex-rival e se tornou o principal cabo eleitoral de Hillary, que, na terça (26), foi oficializada a candidata presidencial do Partido Democrata.

Obama foi a grande atração do terceiro dos quatro dias da convenção democrata na Filadélfia, consolidando uma relação que deixou para trás a tensão de 2008 para virar parceria política e, dizem eles, amizade. "Travamos uma disputa dura, por um ano e meio. Porque Hillary é durona", disse Obama, lembrando da campanha. "Fiquei esgotado".

PESO

Popular entre os democratas e com a aprovação em alta entre o público geral (51%, segundo o Gallup), o presidente poderá ter papel de peso nesta eleição.

Ele é capaz de atrair votos que podem decidir a eleição a favor de Hillary, como os de negros, mulheres e, sobretudo, os jovens (público com o qual ela se sai mal), disse à Folha Kyle Kondik, especialista em pesquisas eleitorais da Universidade da Virgínia.

"Hillary vai ter que reproduzir a coalizão de Obama, e o apoio do presidente pode ser decisivo", diz Kondik. "Se os jovens e negros forem votar em massa em novembro, será muito difícil ela deixar a vitória escapar." O voto nos EUA não é obrigatório.

Para Obama, além do interesse partidário, uma vitória de Hillary significa a manutenção de políticas importantes de seu governo, como a reforma do sistema de saúde e o acordo nuclear com o Irã, entre outras que Donald Trump promete revogar.

Comparada com a guerra suja na corrida presidencial deste ano, sobretudo no Partido Republicano, a disputa entre Hillary e Obama em 2008 pode parecer suave se vista à distância de oito anos.

Mas no calor do embate, poucos acreditavam que eles seriam capazes de se reconciliar, muito menos que Obama a convidaria para ser secretária de Estado.

Pouco antes, Hillary alertava para o perigo de alguém inexperiente como ele chegar à Presidência e o atacava por ligações com um empresário condenado por corrupção. Ben Rhodes, que trabalhou na campanha de Obama e é um de seus principais assessores de política externa, confessou ter ficado "chocado" quando soube do convite.

A passagem de Hillary pelo governo fortaleceu seu currículo para a campanha atual, mas agora fornece munição para os rivais republicanos a atacarem por incidentes ocorridos quando chefiava a diplomacia americana: o ataque ao consulado americano em Benghazi (Líbia), em 2012, que deixou quatro mortos, incluindo o então embaixador dos EUA no país, e o controverso uso de um servidor privado de e-mails para correspondência oficial.