sábado, 23 de julho de 2016

Com estrelas do partido, Hillary usará convenção para se contrapor a Trump

Cláudia Trevisan - O Estado de São Paulo
ENVIADA ESPECIAL / CLEVELAND, EUA

“Somos todos americanos”, disse neste sábado, 23, em espanhol o candidato a vice-presidente de Hillary Clinton, o senador Tim Kaine, na primeira vez em apareceu em público ao lado de sua companheira de chapa desde o anúncio de seu nome, na sexta-feira. A frase é uma rejeição implícita à retórica do republicano Donald Trump, que colocou o combate à imigração no centro de sua campanha.
Os democratas se reúnem a partir de segunda-feira para oficializar a nomeação de Hillary, em uma convenção desenhada para projetar unidade depois da longa e agressiva disputa pela nomeação protagonizada pela ex-secretária de Estado e o senador Bernie Sanders.
Foto: Josh Haner/The New York Times
Convenção democrata
Preparativos para a Convenção Nacional Democra, na Filadélfia 
O encontro também servirá para marcar diferenças com o opositor Partido Republicano que vão além de questões programáticas. Trump foi consagrado na semana passada em uma convenção desfalcada de muitos dos principais líderes da legenda, entre os quais os dois últimos republicanos a ocupar a Casa Branca e os dois últimos derrotados em suas tentativas de se elegerem ao cargo.
Hillary terá a seu lado todos os líderes democratas de peso, entre os quais o atual presidente, Barack Obama, o vice-presidente, Joe Biden, e o ex-presidente Bill Clinton, que comandou os Estados Unidos de 1993 a 2001. Sanders, também participará da convenção e manifestará apoio à candidata em discurso previsto para segunda-feira.
O principal opositor de Trump na disputa pela nomeação republicana, Ted Cruz, explicitou as fissuras do Partido Republicano ao rejeitar endossar o nome do bilionário em discurso aos milhares de delegados reunidos na convenção da legenda em Cleveland, Ohio. O governador do Estado, John Kasich, outro pré-candidato derrotado por Trump, manteve distância do evento.
A mesma posição foi adotada por Jeb Bush, o preferido da elite republicana, que deixou a disputa logo no início depois de receber um número decepcionante de votos.
O contraste entre as duas convenções também ficará evidente nas visões de futuro dos dois partidos. Trump fez um discurso apocalíptico na quinta-feira, no qual descreveu os Estados Unidos como um país em decadência, mergulhado no caos e na violência e ameaçado por inimigos domésticos e externos. Seu novo lema é a defesa da lei e da ordem.

Souvenires republicanos

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Os democratas devem festejar os quase oito anos de gestão de Obama, mas reconhecer que há desafios pela frente. A popularidade do atual presidente está em alta e as estatísticas mostram que o desemprego está no mais baixo patamar desde a crise de 2008. “Os democratas dirão que há muito a ser feito, mas também muito a festejar, em oposição à visão republicana de que o fim está próximo”, disse ao Estado o professor de Ciência Política da Southern Methodist University, Cal Jillson.
Em sua opinião, outra diferença entre os dois eventos será o grau de organização. A convenção que marcou a consagração de Trump foi uma das mais caóticas da história recente do Partido Republicano. Mais aguardado pronunciamento da noite de abertura da convenção, o discurso de Melania Trump teve trechos copiados do que foi realizado por Michelle Obama em 2008, quando seu marido conquistou a candidatura democrata à presidência. E as frases plagiadas foram justamente as que falavam sobre valores, caráter e integridade.
Mas o momento mais caótico veio na quarta-feira, quando Cruz subiu ao palco sob aplausos e o deixou sob vaias dos milhares de republicanos reunidos em Cleveland. Segundo colocado na disputa pela candidatura do partido, o senador texano disse no dia seguinte que não se comportaria como um “cachorrinho servil” de Trump. Na sexta-feira, o candidato retrucou e disse não querer o apoio do ex-adversário.
Nada parecido ao plágio de Melania e ao discurso de Cruz deve ocorrer no evento que formalizará a candidatura da ex-secretária de Estado e não apenas porque o partido de Hillary está mais unido que o de Trump. “A convenção democrata será muito mais organizada, porque o grupo de Hillary Clinton está envolvido há anos na organização desses eventos”, disse Jillson.
O armistício entre a candidata e Sanders foi obtido depois de ela se comprometer a assumir algumas das principais posições defendidas pelo senador durante a campanha, entre as quais o aumento do salário mínimo de US$ 7,25/hora para US$ 15,00/hora, a mudança nas regras de financiamento de campanha e a rejeição ao acordo de livre comércio Tratado da Parceria Transpacífico (TTP).
Tudo isso empurrou Hillary e sua plataforma para a esquerda. Defensor do TPP, o escolhido como candidato a vice anunciou que passará a se opor ao acordo, que é defendido por Obama, mas depende de ratificação do Congresso para entrar em vigor.