Para Erhardt Graeff, a articulação política dos jovens
pela internet tem consequências sérias no mundo “real”
Os jovens nascidos a partir dos anos 1990 dificilmente se lembram de um mundo sem internet. Fazem parte de uma geração integralmente conectada. É pelas redes sociais que se relacionam com os amigos e com o mundo. Sendo assim, é natural que digitalizem também seu engajamento político e social e articulem virtualmente suas opiniões a respeito das decisões políticas que os afetam. “É provável que uma quantidade maior de pessoas esteja se engajando com política agora, graças ao acesso diário a espaços de expressão cívica e política encontrados nas redes sociais”, diz Erhardt Graeff, pesquisador do laboratório de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.

Não há contradição entre os jovens estarem engajados em debates profundamente políticos – relacionados a educação, segurança, violência sexual e racismo, entre outros – e, ao mesmo tempo,decepcionados com a política tradicional. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), compilados pelo jornal O Globo, o número de jovens entre 16 e 24 anos filiados a partidos políticos caiu 56% nos últimos sete anos. Em 2009, eram mais de 300 mil filiados. Hoje, são cerca de 132 mil. Em levantamento feito pelo DataFolha em 2015, 69% dos jovens da mesma faixa etária afirmaram não ter preferência por nenhum partido. E, entre os adolescentes com 16 e 17 anos, para os quais o voto é facultativo, a presença nas urnas caiu 31% de 2010 para 2014 – entre uma eleição e outra, mais de 800 mil jovens optaram por não votar. Nos Estados Unidos a situação é semelhante.
Pesquisa feita pelo The Center for Generational Kinetics, grupo especializado em estudos de gerações, mostra que menos da metade (47%) dos jovens acha importante votar e somente 26% confiam nos representantes políticos eleitos. “Eles têm baixa lealdade a partidos políticos e estão mais interessados no progresso de questões individuais, como os direitos dos homossexuais e a desigualdade social”, diz Graeff.
ÉPOCA – Como os jovens nascidos a partir dos anos 1990, chamados por alguns de Geração Z, engajam-se social e politicamente?
Erhardt Graeff – A atual geração de jovens se engaja socialmente tanto off-line como on-line. Alguns críticos temem que a participação maciça nas petições on-line, o “ativismo hashtag” e o compartilhamento de memes políticos significa que os jovens estão se abstendo das eleições, de marchas de protesto e do compartilhamento de notícias. Porém, não temos nenhuma pesquisa que sugira que esse declínio esteja realmente acontecendo. E certas ações, como marchas de protesto, historicamente atraem somente uma pequena porcentagem dos cidadãos. Na verdade, é mais provável que uma quantidade maior de pessoas esteja se engajando com política agora, graças ao acesso diário a espaços de expressão cívica e política encontrados nas redes sociais.
Erhardt Graeff – A atual geração de jovens se engaja socialmente tanto off-line como on-line. Alguns críticos temem que a participação maciça nas petições on-line, o “ativismo hashtag” e o compartilhamento de memes políticos significa que os jovens estão se abstendo das eleições, de marchas de protesto e do compartilhamento de notícias. Porém, não temos nenhuma pesquisa que sugira que esse declínio esteja realmente acontecendo. E certas ações, como marchas de protesto, historicamente atraem somente uma pequena porcentagem dos cidadãos. Na verdade, é mais provável que uma quantidade maior de pessoas esteja se engajando com política agora, graças ao acesso diário a espaços de expressão cívica e política encontrados nas redes sociais.
ÉPOCA – As atividades da Geração Z acontecem somente on-line ou ela também age na “vida real”?
Graeff – As redes sociais oferecem condições mais equitativas para os jovens, que são muitas vezes marginalizados em espaços tradicionais – como em prefeituras municipais – por sua aparente ingenuidade sobre política. Atividades on-line podem complementar atividades off-line. O “ativismo hashtag” tem sido particularmente bem-sucedido como uma ferramenta para amplificar as mensagens de marchas de protesto e ocupações em todo o mundo e ajudado a reunir públicos diversos em torno de uma causa. Por exemplo, na Espanha, o movimento 15M deu origem ao partido político Podemos.
Graeff – As redes sociais oferecem condições mais equitativas para os jovens, que são muitas vezes marginalizados em espaços tradicionais – como em prefeituras municipais – por sua aparente ingenuidade sobre política. Atividades on-line podem complementar atividades off-line. O “ativismo hashtag” tem sido particularmente bem-sucedido como uma ferramenta para amplificar as mensagens de marchas de protesto e ocupações em todo o mundo e ajudado a reunir públicos diversos em torno de uma causa. Por exemplo, na Espanha, o movimento 15M deu origem ao partido político Podemos.
ÉPOCA – Quais são as principais características da Geração Z quando o assunto é política?
Graeff – Pesquisas sobre o engajamento da juventude contemporânea sugerem que os jovens têm baixa lealdade a partidos políticos e estão mais interessados no progresso de questões individuais, como os direitos dos homossexuais e a desigualdade social. Essas tendências também estão cruzando gerações agora. A desconfiança nos parlamentos é um fenômeno global. Os jovens simplesmente olham para o futuro e são mais rápidos em livrar-se de tradições tribais e de partidos políticos.
Graeff – Pesquisas sobre o engajamento da juventude contemporânea sugerem que os jovens têm baixa lealdade a partidos políticos e estão mais interessados no progresso de questões individuais, como os direitos dos homossexuais e a desigualdade social. Essas tendências também estão cruzando gerações agora. A desconfiança nos parlamentos é um fenômeno global. Os jovens simplesmente olham para o futuro e são mais rápidos em livrar-se de tradições tribais e de partidos políticos.
ÉPOCA – Quais as consequências dessa atitude?
Graeff – Sob essas condições, o nacionalismo populista está se espalhando globalmente, preenchendo uma lacuna no orgulho nacional em que a política tradicional falhou. Muitos jovens são atraídos para a promessa de grandes mudanças e restabelecimento do orgulho nacional.
Graeff – Sob essas condições, o nacionalismo populista está se espalhando globalmente, preenchendo uma lacuna no orgulho nacional em que a política tradicional falhou. Muitos jovens são atraídos para a promessa de grandes mudanças e restabelecimento do orgulho nacional.
ÉPOCA – Como deverá ser o mundo que esses jovens assumirão?
Graeff – O mundo não deve ignorar a juventude política ou civicamente. Os jovens são a maioria em muitos países em desenvolvimento. A Primavera Árabe mostra o que acontece quando os jovens são ignorados social, política e economicamente e quando sua capacidade de articulação on-line e off-line é desconsiderada. Mas a juventude não pode ser parte apenas da revolução, ela precisa ser parte da governança também.
Graeff – O mundo não deve ignorar a juventude política ou civicamente. Os jovens são a maioria em muitos países em desenvolvimento. A Primavera Árabe mostra o que acontece quando os jovens são ignorados social, política e economicamente e quando sua capacidade de articulação on-line e off-line é desconsiderada. Mas a juventude não pode ser parte apenas da revolução, ela precisa ser parte da governança também.