DO "NEW YORK TIMES"
Um dia depois de garantir a indicação do seu partido como candidata à Presidência, Hillary Clinton afirmou que "ainda estava processando" as emoções do momento enquanto ouvia comentários de pessoas de todo o mundo, que expressavam tanto entusiasmo por seu sucesso quanto profunda ansiedade com relação ao seu rival republicano Donald Trump.
Em uma entrevista, Hillary disse que embora outros países já tenham sido liderados por mulheres, esse marco seria diferente caso venha a acontecer nos Estados Unidos.
| Robyn Beck - 24.mai.2016/AFP | ||
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| A candidata à Presidência dos Estados Unidos Hillary Clinton, durante discurso em Los Angeles |
Ela classificou as demandas do sistema político norte-americano como mais sacrificantes em termos pessoais, e mais difíceis.
"Acredito realmente que o nosso sistema seja provavelmente o mais desafiador do planeta", disse Hillary. "Se você é primeiro-ministro, é escolhido por seus pares", ela continuou. "Se é presidente, disputa o cargo Estado a Estado, mas usualmente com o apoio de um partido, e você não tem dinheiro para custear sozinho uma campanha".
Mas, ela acrescentou, "as mulheres candidatas enfrentam todas o mesmo escrutínio e as mesmas questões sobre nós mesmas, e por isso existem semelhanças".
MOMENTO HISTÓRICO
As implicações de sua conquista da indicação democrata para a disputa presidencial - a primeira mulher a consegui-la dentro de um dos dois grandes partidos norte-americanos - se tornaram rapidamente claras para Hillary, 68, nos últimos dias.
Mulheres proeminentes e muitos líderes homens "me procuraram nos últimos dias para me encorajar e me dizer o quanto essa eleição significa para seus países e o mundo".
"É algo que ainda estou processando", disse Hillary.
| Mike Blake/Reuters | ||
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| A democrata Hillary Clinton em evento em Compton, na Califórnia |
ATAQUES DE TRUMP
Os comentários dela surgiram dias antes dos planos de Trump para fazer um grande discurso cujo objetivo será reviver os escândalos que envolveram Hillary e seu marido Bill nos anos 90, e criticar a fundação familiar que ela dirigiu.
Hillary prometeu que não responderá a ataques pessoas e disse que continuaria a usar as palavras de Trump contra ele.
"Estou respondendo à sua falta muito aparente de qualificações para ser presidente com base naquilo que ele disse e faz, e na pessoa inadequada para o posto em termos de temperamento que ele é", disse Hillary.
Ela se uniu a líderes republicanos como Paul Ryan, o presidente da Câmara dos Deputados, no repúdio aos comentários de Trump na semana passada de que um juiz federal de origem mexicana, Gonzalo Curiel, havia demonstrado parcialidade contra Trump devido às suas origens.
| Spencer Platt/Getty Images/AFP e Pablo Martinez Monsivais/ Associated Press | ||
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| Os candidatos à Presidência dos EUA Donald Trump e Hillary Clinton |
Hillary foi além de sua caracterização inicial das declarações de Trump, afirmando na quarta-feira (8) que o ataque dele a Curiel com base na etnia deste era "um ataque repulsivo e racista".
Mas embora ela tentasse retratar uma firmeza férrea em sua posição de resistência a Trump, e a determinação de não permitir que os ataques dele a tirem do caminho traçado, Hillary ofereceu um vislumbre do custo que reviver alguns de seus momentos públicos mais baixos e mais humilhantes poderia acarretar.
INSPIRAÇÃO MATERNA
Ao longo de sua segunda campanha pela indicação à presidência, Hillary vem extraindo inspiração de sua mãe, Dorothy Rodham, que nasceu pobre e foi negligenciada por sua família, mas ensinou a filha, desde pequena, a enfrentar aqueles que tentavam intimidá-la e a sempre se defender.
"Ela sempre foi um apoio muito firme de todas as maneiras, em geral em termos pessoais, mas isso a teria empolgado demais, ela estaria muito orgulhosa", disse Hillary sobre como sua mãe teria visto os eventos dos últimos dias.
Mas ela também sugeriu que sua mãe teria tentado protegê-la contra os ataques pesados que estão por vir. "Ela teria ficado um pouco apreensiva", disse. "Estou dando um grande passo".
PALESTRAS E POLÊMICA
Hillary ofereceu uma defesa vigorosa de uma decisão que a prejudicou durante toda a temporada de primárias - o fato de que tenha aceitado pagamentos generosos por palestras feitas em bancos de Wall Street, uma prática que mesmo os mais ardorosos de seus partidários consideram inexplicável e negativa.
Hillary definiu as palestras, pelas quais recebia pagamentos da ordem de centenas de milhares de dólares, como "a norma" para pessoas que tenham sido secretárias de Estado. "Na verdade considero que a prática faça sentido", ela acrescentou.
Pressionada a explicar melhor o motivo para que tenha aceitado fazer essas palestras, depois da crise financeira de 2008 e do movimento Occupy Wall Street, Hillary reiterou que ela havia proposto "o plano mais específico" entre os apresentados por qualquer candidato para a regulamentação setor financeiro.
"Muita gente sabe que você tem um assento de primeira fila para acompanhar aquilo que está acontecendo no mundo, e que por isso é possível que você tenha observações interessantes a compartilhar sobre questões políticas ou econômicas", explicou Hillary. "Para mim, esse é o motivo para que as palestras tenham acontecido, e o assunto sobre o qual falei ao fazer aquelas palestras".
PROPÓSITO NACIONAL
Durante a entrevista, Hillary parecia como que estar tentando compreender o significado de sua vitória, e o clima em geral irrequieto do país. Ela também parecia estar tentando retomar temas que propôs publicamente, às vezes causando zombaria, em seus primeiros anos na Casa Branca - a questão de determinar se os Estados Unidos perderam o seu senso compartilhado de missão, seu espírito de comunidade.
"É importante que as pessoas saibam que são parte de um propósito nacional mais amplo", disse Hillary. "Faz grande diferença que as pessoas possam ter empregos com dignidade e propósito".
"Pensei muito sobre o assunto, e falei sobre ele ocasionalmente", ela disse, sobre a necessidade de "mais amor e mais gentileza". Ou, como ela declarou em 1993, tomando por base as reflexões do organizador político republicano Lee Atwater, em seu leito de morte, "um pouco mais de coração, muito mais irmandade".
"Creio que, nesta campanha, tentei retomar uma vez mais alguns desses temas", ela afirmou.
Tradução de PAULO MIGLIACCI


