IstoE
Governo transforma eventos no Palácio do Planalto em comícios onde, ao lado da presidente, movimentos ligados ao PT falam em cometer ilegalidades e ameaçam levar o País ao caos
Um dos principais erros no qual um governante pode incorrer é o de misturar governo com Estado. Usar o poder concedido pelo eleitor em benefício próprio. É o que faz a presidente Dilma Rousseff. Enquanto o País permanece órfão de direção, a petista usa a estrutura paga pelos contribuintes para promover atos contra o impeachment. Nos últimos dias, Dilma transformou o Palácio do Planalto, sede do Executivo do País, em um palanque.
As ilegalidades vão além da utilização privada da coisa pública. Nos eventos, a presidente e aliados repaginam a estratégia do medo usada na campanha à reeleição. Tornam-na uma espécie de tática do terrorismo. Não se limitam ao discurso da última eleição de que benefícios sociais acabariam com a saída dela do cargo. Ultrapassaram as ofensas a outras instituições.
Eles agora inflamam ameaças, em pleno Palácio do Planalto, de que um sucessor de Dilma não terá paz ou de que propriedades rurais de parlamentares favoráveis à cassação serão invadidas. Frases que pronunciadas em um ambiente normal violariam preceitos da Constituição e configurariam crimes previstos no Código Penal. Ditas dentro da sede do Executivo, atentam contra a democracia.
ANTIDEMOCRÁTICO
Integrantes do MST incitam a violência no Palácio do
Planalto. Dilma e ministros assistem passivos
Atemorizar a população se tornou uma estratégia política corriqueira da presidente Dilma. Na disputa de 2014, a campanha petista se baseou em martelar que adversários extinguiriam benefícios sociais, tirariam direitos trabalhistas e levariam a economia ao colapso. Um vídeo produzido pelo marqueteiro João Santana, preso na Lava Jato, sugeria que Marina Silva, então no PSB, tiraria comida da mesa das famílias pobres. Outras peças publicitárias afirmavam que a vitória do senador Aécio Neves (PSDB-MG) traria desemprego. O sucesso desta tática perdeu força de lá para cá. Evidenciaram-se os erros da gestão atual. A inflação cresceu, colocando em risco o legado do Plano Real. O desemprego disparou.
A economia encolheu. Programas como o “Minha Casa, Minha Vida” ou o Ciência sem Fronteiras, vitrines petistas, sofreram cortes. Tampouco as conquistas trabalhistas foram poupadas. A equipe econômica defendeu uma reforma na previdência como parte do ajuste fiscal. Restou ao governo e aos aliados radicalizar o discurso e usar os movimentos sociais ligados ao PT para ameaçar levar o País ao caos em caso de cassação.
Nas últimas semanas, Dilma intensificou a agenda. Ampliou o número de presenças públicas, principalmente no Palácio do Planalto. São, na prática, atos contra o impeachment com entidades e personalidades que ainda apóiam a petista. Cerimônias pouco – ou nada - relacionadas a programas do governo cercadas de discursos inflamados. O ápice entre a mistura da estratégia do terror com a partidarização da coisa pública ocorreu na sexta-feira 1. Movimentos sociais participaram de cerimônia em que Dilma assinou a regularização de propriedades rurais para quilombolas e sem-terras. O encontro, no entanto, serviu a outro propósito.
A petista quis demonstrar que organizações rurais, como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), radicalizarão em caso de impeachment. “A forma de enfrentar a bancada da bala contra o golpe é ocupar as propriedades deles ainda lá nas bases, lá no campo”, afirmou Aristides Santo, secretário da Contag. “Nós vamos incomodar também as casas, as fazendas e as propriedades deles”, disse, a poucos metros de Dilma, em tom de ameaça a parlamentares.
O discurso carrega na origem uma violação contra a Constituição. Goste-se ou não, o direito à propriedade privada está previsto lá. Ameaçar alguém também é crime tipificado no código penal. Mas mais grave ainda é um presidente da República ser condescendente com estas práticas de aliados. Supera o imoral. É ilegal. Pode configurar prevaricação.
O LÍDER
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva inflama militantes
As ameaças do dirigente da Contag não foram as primeiras. Desde que a legitimidade de Dilma começou a ser questionada e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a condição de investigado, outros movimentos ligados ao PT ameaçam inflamar o País. Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), tornou pública a intimidação.
“Não haverá um dia de paz no Brasil. Podem querer derrubar o governo, podem prender arbitrariamente o Lula ou quem quer que seja, podem querer criminalizar os movimentos populares, mas achar que vão fazer isso e depois vai reinar o silêncio e a paz de cemitério é uma ilusão”, afirmou. E foi além na estratégia do terror.
“Este País vai ser incendiado por greves, por ocupações, mobilizações, travamentos. Se forem até as últimas consequências nisso não vai haver um dia de paz no Brasil.” Uma retórica alinhada com outras entidades, como o MST e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
DISCURSO DO MEDO
Guilherme Boulos, coordenador do MTST, promete
radicalizar se Dilma for cassada ou Lula preso
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva figura como um dos artífices da estratégia do terror. Tenta se beneficiar das ameaças para intimidar aqueles que o investigam. Em evento no Sindicato dos Bancários na sexta-feira 4, mostrou disposição de ir ao confronto. “Vão ter que me enfrentar nas ruas deste país”, afirmou. “Se estão precisando de alguém para animar esta tropa, o animador está aqui”, complementou. Os chefes da tropa de Lula deram seus recados no evento.
O presidente da CUT, Vagner Freitas, conclamou: “Erraram o golpe (os defensores do impeachment) e agora nos vamos para cima deles, na rua. Aceitamos as regras do jogo, mas não venham nos destruir. Não vamos ser derrotados e ficar olhando.”
O presidente do PT, Rui Falcão, foi mais claro: “Vamos pisar na cabeça dos que atentam contra a democracia.” O conceito de democracia do governo é sui generis. Um impeachment, seguindo os pressupostos legais, é golpe. Usar a estrutura do Estado e intimidar os adversários são práticas do jogo.