sábado, 9 de abril de 2016

Shakespeare para todos

Ana Weiss - IstoE


No ano em que se completam quatro séculos de sua morte, o autor é revisto em peças, mostras e eventos que comprovam o alcance inesgotável de sua obra


William Shakespeare – ou Gulielmos Shakespeare, conforme o único documento que comprova o seu nascimento, a certidão de batismo – morreu há exatos quatro séculos deixando 36 das peças mais encenadas da história, textos que colocaram o filho de um fabricante de luvas de pelica de Stratford-upon-Avon no panteão dos autores mais estudados de todo o mundo. Apesar de tanta pesquisa e do tempo decorrido, ainda aparecem novidades sobre o bardo.
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ACHADO
A edição do ''Primeiro Fólio'' encontrada na Escócia
Na quinta-feira 7, uma nova cópia da série “Primeiro Fólio”, reunião de todas as suas peças compiladas por dois editores no ano da sua morte (impressa só sete anos depois) foi encontrada em uma velha mansão da Ilha de Bute, na Escócia. A exibição da peça secular até outubro no Mount Stuart House é uma parte mínima das realizações que estão previstas para este o aniversário da morte do mais influente autor de teatro de todos os tempos. Segundo o programa Shakespeare Lives, só as celebrações oficiais reúnem, no mundo, pelo menos 500 milhões de pessoas.
No Brasil, as comemorações começam agora e continuarão durante todo o ano. Vai ter Shakespeare na Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, em julho, e durante os Jogos Olímpicos, em agosto. O British Council vai concentrar as realizações deste mês em que também é celebrada a data do nascimento do autor de “Macbeth”, com espetáculos, mostras de filmes e visitas ilustres do universo shakespeariano como a de Greg Hicks, ator da Royal Shakespeare Company, considerado o maior intérprete de sua geração.
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FAROL 
A crítica Barbara Heliodora (acima), deixou escrito um último 
livro (abaixo) sobre a simplicidade do dramaturgo
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A crítica Barbara Heliodora, maior especialista brasileira no bardo, lançou pouco antes de morrer, no ano passado, um livro que é um verdadeiro guia para mergulhar no universo de tragédias e comédias que vão se espalhar pelos palcos e salas de cinema. “Shakespeare – O que as Peças Contam”, da Edições de Janeiro, é um manual esclarecedor da maior razão do sucesso atemporal de Shakespeare, o seu alcance popular. “O simples fato de enquadrar Shakespeare no rol de homenageados e ilustres impede o reconhecimento de um aspecto importantíssimo: a sua simplicidade”, escreveu a crítica teatral mais implacável de seu tempo.
Shakespeare fez espetáculos de rua, para gente iletrada e sem anteparos cênicos e cenográficos como hoje todos lembramos de suas peças: Hamlet segurando a caveira do pai, com muralhas dinamarquesas ao fundo, ou Julieta em sua sacada italiana de pedra a esperar o seu amado Romeu. A crítica explica que o sucesso ainda em vida não afastou o autor da plateia popular. Mas que sua formação – que incluía um latim sólido ministrado por professores de Oxford e história da filosofia grega – o levou a costurar questões éticas e morais e a escrever sobre a natureza no mal e sua presença constante na vida humana em versos de alcance de uma criança.
"Nas ações dos homens Shakespeare encontrava sua essência"
Barbara Heliodora, em "Shakespeare – O que as Peças Contam"
A psicanálise de Sigmund Freud foi uma das áreas do conhecimento que muito usou os personagens shakespearianos para explicar a lógica nas relações humanas. Aquilo tudo a mais entre o céu e a terra que não sonha a nossa vã filosofia.
Fotos: Divulgação