sexta-feira, 8 de abril de 2016

Na EPOCA - A guerra do impeachment


Ana Clara Costa e Talita Fernandes - Epoca

O Palácio do Planalto não governa. Trabalha apenas para manter a presidente Dilma Rousseff – à base da oferta de cargos e verbas para qualquer um que ofereça votos. Problema: o PMDB faz o mesmo


Surpreso com o rápido avanço do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, há pouco mais de duas semanas, o ex-presidente José Sarney (PMDB-­AP) aconselhou seu círculo mais chegado de deputados sobre como proceder na Câmara. “Deixem o Marun (Carlos Marun, do PMDB de Mato Grosso do Sul) comprar as brigas com o governo e fiquem calados, sem atrair atenção”, disse, em uma conversa em sua casa. 
“Na hora da votação, votem como quiserem.” Os presentes entenderam isso mais como orientação estratégica do que como mero conselho. O Sarney que orientou deputados a jogar na ambiguidade é o mesmo que, em seguida, recebeu em sua casa a presidente Dilma Rousseff para dar conselhos para enfrentar a barafunda. Dilma sabe que Sarney tem de ser cortejado. Por isso, na semana passada alocou o ex-­ministro Gastão Vieira, aliado de Sarney, na presidência do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). 
“Uma vida cheia de inesperados desafios. Acabo de ser nomeado presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, do Ministério da Educação. Orem por mim”, escreveu Gastão em sua conta no Twitter. O FNDE é responsável por políticas educacionais do Ministério da Educação (MEC) e por convênios com todos os Estados.

Capa edição 930 (Foto: Época )
Dilma não tem opção. Na semana passada, o governo se entregou à troca de cargos e verbas por votos contra o impeachment. Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ministros e assessores cuidaram apenas disso. As energias do Palácio do Planalto se concentraram em salvar o mandato da presidente – e os empregos de centenas de partidários –, em detrimento da administração do país. O momento é bom para quem quer pedir. Dilma está disposta a entregar o que tem em troca do menor sinal de apoio, em uma dinâmica de distribuição que independe de qualquer critério, como competência, afinidade com a área ou ideologia. Há espaço para acomodar desde gente do gigante PMDB, que não quer sair, até o nanico PTN, passando pelos voláteis PP e PR.

O PP tem sido, nas últimas semanas, um dos principais alvos de investida do Palácio do Planalto.  Ao tesoureiro do partido, Ricardo Barros (PP-PR), foi oferecido o Ministério da Saúde, o maior orçamento federal, de R$ 88 bilhões. Até o momento, o titular é Marcelo Castro, do PMDB. O governo diz que a entrada do PP na Saúde será garantida se seu presidente, o senador Ciro Nogueira, conseguir convencer metade da bancada de 49 deputados a votar contra o impeachment. Dilma conta com Nogueira. Sugeriu a ele que abrisse as torneiras do fundo partidário do PP nas campanhas de eleições municipais de deputados que votarem contra o impeachment. 
Na quarta-feira, Ciro informou o governo que o PP não deixaria a base de apoio, como fez o PMDB, e daria os votos necessários. No mesmo dia, no entanto, a conversa com os deputados foi outra. 
“Vocês têm um compromisso comigo até a votação”, disse Ciro. 
“No dia de votar, estão liberados para fazerem o que quiserem. Mas até lá eu preciso mostrar para a presidente que eu tenho respaldo do partido.” Como Sarney, Ciro pediu aos deputados silêncio em relação ao governo; o voto é escolha de cada um. O cálculo de Nogueira é cristalino: se o impeachment for barrado na Câmara, ainda que sem todos os votos do PP esperados pelo governo, Dilma precisará entregar algo ao partido para governar até 2018. Se o impeachment for aprovado, a maioria do PP terá capital para negociar espaço em um possível governo Temer. Os diálogos para isso, inclusive, já acontecem com emissários do vice-­presidente.

 

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