sexta-feira, 8 de abril de 2016

Metade das obras da Petrobras dará prejuízo


Impasse. Direção da Petrobras tem que decidir se gasta mais para concluir as obras ou abandona projetos - O Globo / Guilherme Leporace


Ramona Ordoñez - O Globo



Projetos como Comperj e Abreu e Lima outras refinarias já geraram perdas de US$ 50 bilhões


Quase metade dos principais projetos que a Petrobras tem em carteira — iniciados na segunda metade da década passada — dará prejuízo quando entrar em operação. A informação é de uma pessoa próxima à estatal, para a qual uma das maiores dificuldades da atual direção da companhia e do Conselho de Administração é encontrar uma solução para cada um desses empreendimentos.

Segundo a fonte, somente o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no Rio, a Refinaria Abreu e Lima (Renest), e o complexo Petroquímico Suape, ambos em Pernambuco, as refinarias Premium I e II, no Maranhão e Ceará, e vários projetos de biocombustíveis somam prejuízos de US$ 50 bilhões. Só o Comperj e a Renest representam perdas de US$ 34 bilhões ao cofres da Petrobras.

Em cada projeto, a companhia avalia se vale a pena gastar mais recursos para concluir a obra e conseguir obter algum retorno, ou se é melhor assumir o prejuízo e abandonar o empreendimento. A maioria desses projetos está envolvida no escândalo de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato.


Relatórios feitos em 2014, na gestão anterior da Petrobras, afirmam que os 59 maiores projetos da estatal tiveram uma redução de US$ 45 bilhões na sua previsão de rentabilidade futura, passando de US$ 109 bilhões para US$ 64 bilhões, segundo revelou o jornal “Valor Econômico” em sua s edições de ontem e quarta-feira. Segundo o jornal, a Petrobras chegou a aprovar investimentos de US$ 26 bilhões em uma refinaria e em dois complexos petroquímicos, mesmo sabendo que não dariam retorno. Esses relatórios foram enviados na semana passada a membros do Conselho de Administração.

— Desde 2010 os analistas do mercado já alertavam que os excessivos investimentos não eram compatíveis com o retorno esperado — disse o analista Flávio Conde, do site WhatsCall.

Para Paulo Figueiredo, diretor de Operações da FN Capital, decisões desse tipo mostram o uso político da estatal.

— Aprovar projeto que se sabia que daria prejuízo prova que a Petrobras era usada como instrumento político. Agora todos os projetos devem ser revistos, e os investimentos devem ser direcionados para os que mostrem um pouco mais de rentabilidade — disse Figueiredo.

Um outro executivo próximo à empresa explicou que os relatórios internos que analisam a viabilidade econômica dos projetos são feitos semestralmente. Segundo ele, a nova diretoria, que assumiu em fevereiro de 2015, tinha conhecimento desses relatórios desde fins de 2014, como também elaborou outros nos dois semestres de 2015.

— Todas essas avaliações desses relatórios já foram consideradas para as baixas contábeis feitas principalmente em 2014. Hoje o balanço da Petrobras está "limpo"— afirmou o executivo.

‘NÃO SIGNIFICA OTIMISMO EXAGERADO’

Em nota, a Petrobras afirma que faz análises de desempenho econômico periodicamente. A empresa diz que tem enfrentado “as complexidades relacionadas à implementação de projetos na indústria de petróleo gás”. Ela acrescenta que “eventuais desvios expressivos nas variáveis gerenciáveis não significam necessariamente otimismo exagerado no planejamento dos projetos”. A estatal cita aspectos como capacidade da cadeia de fornecedores e custos.

As baixas contábeis totalizaram R$ 94,4 bilhões, quais R$ 44,6 bilhões referentes a 2014 e outros R$ 49,8 bilhões, ao ano passado.

A duplicação da fábrica de lubrificantes da Petrobras Distribuidora (BR), em Duque de Caxias, é um dos projetos em análise. Os R$ 160 milhões previstos de investimentos já foram gastos, mas só metade das obras estão prontas. O projeto está sendo investigado por uma Comissão Interna de Apuração (Cia) da própria BR.

Procurada a BR não revelou quanto faltaria para a conclusão das obras e informou que esses valores ainda estão sendo avaliados. Mas segundo fonte ligada ao projeto, seriam necessários mais R$ 200 milhões para concluir a duplicação da fábrica.

Segundo a BR, a retomada do projeto "encontra-se em fase de aprovação junto à Diretoria Executiva e ao Conselho de Administração."

— É uma decisão difícil porque metade está pronto, e os equipamentos já chegaram — informou a empresa.