É evidente que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) fica numa situação muito delicada com o vazamento de aspectos da delação premiada da Andrade Gutierrez. Ele teria sido beneficiário de recursos oriundos de contratos com a Eletronorte. Em seu depoimento-bomba, o senador Delcídio do Amaral (MS) também disse que a estatal atende a seus interesses.
Bem, vamos ver. Eleito vice-presidente do PMDB em recente convenção, Jucá assumiu a presidência da legenda em lugar de Michel Temer, vice-presidente da República.
Temer pediu para se afastar para evitar a mistura indesejável de canais. Como o partido passou a ser um alvo do governo, ficaria impróprio que o vice-presidente respondesse em nome do partido. Então Jucá assumiu a presidência da sigla. Ocorre que ele já é investigado num inquérito, decorrente da delação do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC.
Vamos lá: um dos casos, pois, está só na fase do inquérito, e o outro nem lá chegou. Existe, obviamente, a chance de que Jucá seja inocente. Não se trata aqui de prejulgar ninguém.
Vivem-se dias, no entanto, muito pouco convencionais. Com o que já está aí, o desejável seria que ele se afastasse do comando do partido. A permanência no cargo só dá azo a que se diga que o processo de impeachment lida com dois pesos e uma medida.
Obviamente, não é assim. Afinal, se Jucá deveria se afastar do comando da sigla, dado o que há contra ele, o que dizer de Dilma Rousseff? Também ela não deveria fazer o mesmo? Pois é: aqui vai uma das diferenças entre “nós” e “eles”: eu acho que os dois têm de ser afastados — um do comando do país, e o outro, do partido.
Já os petistas certamente gostariam de ver Jucá fora. Desde que Dilma fique dentro.
A nossa moral, definitivamente, não é igual à deles. E olhem que a diferença entre os respectivos danos causados por um e por outro, na hipótese de ser verdade tudo o que dizem contra o senador, é abismal.