sábado, 9 de abril de 2016

Igor Gielow: "Kolyas"

Folha de São Paulo


No gentil e oscarizado drama tcheco "Kolya" (1996), uma das cenas finais mostra o protetor local do garoto russo que empresta seu nome ao filme flagrando agentes repressivos que o atormentaram a comemorar nas ruas a queda do regime comunista ao qual serviam.

Brasília não é Praga, infelizmente para quem mora na capital brasileira, mas este é um dos epílogos possíveis para o roteiro com ares farsescos que se desenrola no cerrado.

Por aqui, policiais do presente torturam a soldo, mas agitarão felizes bandeirinhas do reinado a seguir, se for o caso. Lula sabe disso, Temer também. Dilma, bom, ela parece não saber de muita coisa mais.

O enredo então salta 18 anos para desembarcar na tragédia cinematográfica de outro Kolya, o também russo protagonista do igualmente premiado"Leviatã", retrato seco da corrupção dos rincões na era Putin.

Como no filme mais recente, há uma sensação de impotência no ar brasiliense. Os personagens parecem todos comprometidos com algum tipo de trama inaudita.
O pêndulo do fim efetivo do ex-governo Dilma havia entrado a semana esboçando reação ao impedimento; nesta sexta (8), a enxurrada de notícias ruins para o PT e o Planalto o empurrou de volta a um meio-termo com viés de baixa para os petistas.

Os dados que emergem da delação da Andrade confirmam a vocação apocalíptica da fase atual da Lava Jato, e dificilmente o futuro reserva bálsamo ao resto do mundo político.

Mais rapidamente e por continuidade delitiva, parece impossível ao modo petista de governar, e houve um tempo em que isso era slogan eleitoral, sobreviver. Quem hoje brinda à "refundação" do governo pode, mesmo que a pantomima se imponha, correr para agitar as bandeirinhas do "novo" em breve.

Para a desgraça do Brasil, o final do filme está mais para a desgraceira russa de 2014 do que à esperança contida da película tcheca.