Ao discursar na inauguração do Estádio Aquático Olímpico, no Rio de Janeiro, Dilma Rousseff disse, nesta sexta-feira: “Acho que um clima de quanto pior, melhor não interessa ao país, não interessa à necessária estabilidade econômica e política do país. Se nós somos capazes de fazer uma olimpíada, se somos capazes de fazer uma paralimpíada, somos capazes de fazer também o nosso país voltar a crescer. Para isso, um elemento é fundamental —o elemento da convergência, o elemento do diálogo e o elemento da parceria.”
Sempre que não sabe muito bem o que fazer, Dilma propõe o “diálogo”. Repete a estratégia às vésperas da votação do pedido de impeachment na Câmara. O problema é que, antes de dialogar com terceiros, Dilma precisa ter uma boa conversa com o espelho. Sua imagem refletida talvez lhe informe que sua credibilidade evaporou.
Em outubro de 2014, logo que foi confirmada sua vitória sobre o rival Aécio Neves por pouco mais de 3 milhões de votos, Dilma disse o seguinte no discurso da vitória: “Essa presidente está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo. […] O calor liberado no fragor da disputa pode e deve agora ser transformado em energia construtiva de um novo momento no Brasil.” A energia virou vapor.
Em dezembro de 2014, ao receber no Tribunal Superior Eleitoral o diploma de presidente reeleita, Dilma soou específica: “Chegou a hora de firmarmos um grande pacto nacional contra a corrupção, envolvendo todos os setores da sociedade e todas as esferas de governo.” Ela avisou: “Vou convidar todos os Poderes da República e todas as forças vivas da sociedade para elaborarmos, juntos, uma série de medidas e compromissos duradouros.” Era lero-lero.
Hoje, Dilma chama os opositores de “golpistas” e reclama dos “vazamentos seletivos” dos bueiros estourados pela Lava Jato. Sua estridência aumenta à medida que os investigadores se aproximam da caixa registradora de sua campanha à reeleição.
Quanto à capacidade de o país retomar o crescimento, a maioria dos brasileiros informa nas pesquisas que é incapaz de enxergar a competência de Dilma. E a presidente é incapaz de demonstrá-la.
Num ambiente assim, Dilma arrisca-se a passar à história como inventora de um tipo inusitado de diálogo. O diálogo de mão única.