sexta-feira, 8 de abril de 2016

Deu no Jornal Nacional: Executivos da Andrade dividem delação em seis temas

TV Globo

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Jornal Nacional teve acesso a novos trechos da delação premiada.
Empresa deveria doar R$ 100 milhões a campanha, diz executivo



O Jornal Nacional teve acesso a novos trechos da delação premiada de executivos ligados à empreiteira Andrade Gutierrez.

Eles mencionam o pagamento de propina a três governadores responsáveis pela construção de estádios da copa do mundo.
A delação também detalha a contribuição pra campanha da presidente Dilma Rousseff, em 2014.
Segundo o documento, sete empresas doaram, no total, R$ 700 milhões. Algumas chegaram a R$ 180 milhões. A Andrade entrou com R$ 100 milhões.

Os executivos da Andrade Gutierrez dividiram as confissões em seis temas: desvios em obras da usina de Belo Monte; do Complexo Petroquímico do Rio, Comperj; da Ferrovia Norte Sul, da Usina de Angra 3; em estádios da Copa do Mundo; e em campanhas eleitorais.

O ex-presidente da construtora Otávio Azevedo contou que ouviu do ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, que as sete empresas mais beneficiadas em contratos com o governo tinham um compromisso: cada uma deveria doar R$ 100 milhões, totalizando R$ 700 milhões para a campanha eleitoral.
A construtora já tinha repassado R$ 60 milhões e foi cobrada, segundo a delação, porque o repasse foi feito ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto. A solução foi pagar os R$ 40 milhões que restavam a Edinho.

A Andrade Gutierrez também destinou propina em obras de estádios da Copa. Do contrato do Mané Garrincha, em Brasília, saiu repasse para o ex-governador Agnelo Queiroz, do PT; da arena da Amazônia, em Manaus, para o ex-governador Eduardo Braga, do PMDB, hoje ministro de Minas e Energia.
E do Maracanã, propina para Sérgio Cabral, do PMDB, então governador do Rio. Segundo a delação, Cabral também recebeu propina de obras no Comperj.

Os executivos explicaram também que a participação da Andrade Guttierrez em obras do setor elétrico foi uma compensação, uma estratégia para garantir espaço à segunda maior empreiteira do Brasil no esquema. Isso porque ela foi menos contemplada nos contratos da Petrobras, dedicados principalmente à Odebrecht e à Camargo Corrêa.
Além de políticos, os desvios também tiveram outros beneficiários. No caso da usina de Angra 3, no Rio, segundos os delatores, a propina foi toda direcionada ao almirante Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear. Os pagamentos foram feitos a uma empresa dele.
A Aratec, que pertence ao almirante, já é investigada na Lava Jato por ter recebido da Andrade Gutierrez R$ 4,5 milhões pagos por meio de intermediários.
Na delação, os executivos também foram questionados sobre pagamentos de palestras ao ex-presidente Lula por meio da empresa dele, a Lils. Eles negaram irregularidades e confirmaram pagamentos por cinco palestras. Segundo eles, as palestras foram efetivamente prestadas por Lula.
A defesa de João Vaccari Neto reafirmou que tudo se limita à palavra de um delator e que nenhuma comprovação disso existe ou existirá por não ser verdade.
O ex-governador do Rio Sérgio Cabral negou e manifestou indignação com as afirmações do delator que envolvem  o nome dele.
O ex-governador do Distrito Federal Agnelo Queiroz afirmou que, enquanto todo o teor do inquérito não for divulgado, é impossível comentar o assunto. O advogado dele disse que o cliente desconhece qualquer fato citado na colaboração premiada.
Eduardo Braga afirmou que saiu do governo do Amazonas em março de 2010 sem ter assinado contrato ou pagamento de obras relacionadas com a Copa do Mundo, inclusive a Arena da Amazônia.

Ele disse ainda que recebe com indignação e surpresa a citação do nome dele, e que, se tais citações realmente ocorreram, foram fruto de engano ou má-fé.

O PMDB disse que jamais recebeu recursos irregulares e não autorizou ninguém a usar o nome do partido para buscar recursos ilegalmente.

PT nega as acusações e afirma que todas as doações ocorreram estritamente dentro dos parâmetros legais e foram declaradas à Justiça Eleitoral.

Odebrecht não quis se manifestar.
A defesa de Othon Luiz Pinheiro não retornou as nossas ligações.

Em nota à TV Globo, o coordenador jurídico da campanha de reeleição de Dilma, Flávio Caetano, afirmou que a suposta delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, se confirmada, é mentirosa.
A coordenação afirmou ainda que todas as doações à campanha presidencial foram espontâneas e que não houve o alegado acordo de pagamento de R$ 700 milhões por sete empresas, e que nenhuma delas doou R$ 100 milhões.
Flávio Caetano disse ainda que é mentirosa a afirmação de que a Andrade Gutierrez teria doado R$ 40 milhões. Que a empresa doou, segundo a coordenação de campanha, exatos R$ 20 milhões. 

A construtora Camargo Corrêa disse que firmou acordo de leniência para colaborar com a Justiça, corrigir irregularidades e ressarcir prejuízos causados.