quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Petrobras: credores temem nova dívida com lastro em petróleo

Com Blog do Geraldo Samor - Veja


Com o mercado internacional fechado para a Petrobras e o mercado local bem apertado, o CFO da Petrobras, Ivan Monteiro, está cogitando levantar dinheiro novo através da securitização ou da venda futura de petróleo.
Numa securitização, a Petrobras dá como garantia seu faturamento com a venda de petróleo nos próximos anos, ‘casando’ seus fluxos de recebimento com o pagamento da dívida.
Numa venda futura de petróleo, a estatal recebe à vista e entrega o petróleo a prazo. (A antiga OGX fez uma operação deste tipo com a Shell em 2011.)
Ambas são operações comuns entre as empresas de energia mais endividadas porque, como há garantia, o custo de levantar esta dívida tende a ser menor.
O problema é que isso prejudicaria os atuais detentores de títulos de dívida da Petrobras.
A estatal tem hoje cerca de 58 bilhões de dólares em dívidas no mercado de títulos, isto é, nas mãos de centenas de fundos internacionais, e não nos bancos.
Os donos destes títulos não têm garantia alguma — por isto esta dívida é chamada de ‘unsecured’ — mas, como não há credores ‘com lastro’ hoje, os ‘sem lastro’ seriam os primeiros a serem pagos se a Petrobras entrasse em recuperação judicial (a antiga concordata) — depois, é claro, dos trabalhadores e do Fisco.
Portanto, se a Petrobras levantar novas dívidas dando como garantia o fluxo do petróleo, os atuais credores perderiam seu lugar na fila, sua prioridade na hora de receber o pagamento — um processo conhecido como ’subordinação’.
Isto aumentaria o desconforto entre eles, e levaria os títulos da Petrobras a cair ainda mais.
A situação mostra a dificuldade da Petrobras — cuja dívida subiu para cerca de 500 bilhões de reais com o novo patamar do dólar — em equacionar seu endividamento num momento em que o petróleo e a confiança do mercado na empresa se encontram em níveis historicamente baixos.
Pelos contratos que regem os títulos da Petrobras sem garantia, a empresa pode emitir dívidas com lastro no valor de até 20% dos ativos da Petrobras Global Finance (PGF), a subsidiária que a Petrobras usa para emitir dívida no mercado internacional. Nos cálculos de um investidor, isso permitiria à empresa levantar pelo menos 10 bilhões de dólares.
A Petrobras mencionou a possibilidade de emitir essa dívida lastreada numa reunião com detentores de seus títulos na semana passada.
A reação foi negativa, e os títulos da empresa caíram mais um pouco logo em seguida. “Os investidores disseram, ‘Seu equity [ações] hoje não vale nada, quem ainda te dá capital são os investidores de crédito, e você está dizendo que vai fazer um negócio que prejudica todos eles?’,” disse um dos presentes.
A dívida da Petrobras no mercado internacional paga hoje de 10% a 15% ao ano, dependendo do vencimento.