Ana Paula Ribeiro - O Globo
Ibovespa recuou 2,32% com com pesquisas eleitorais mostrando avanço de Dilma. Bolsas globais também caíram
Em dia de queda nas principais bolsas internacionais, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o cenário eleitoral brasileiro amplifica a aversão a riscos envolvendo ativos do país. Esse novo dia de mau humor fez o dólar subir 1,46% e fechar a R$ 2,4830 na compra e a R$ 2,4850 na venda, o maior patamar desde 8 de dezembro de 2008, quando a moeda americana terminou o pregão cotada a R$ 2,501. Já o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário local, fechou em queda de 2,32%, aos 52.858 pontos.
Luis Fernando Moreira, operador da Dascam Corretora de Câmbio, afirmou que o cenário eleitoral colabora para esse movimento de alta de dólar e que em breve a divisa deve atingir R$ 2,50, patamar em que já está no mercado futuro da BM&FBovespa. Os contratos negociados com vencimento em novembro já estão nesse patamar e, para dezembro, foram negociados a R$ R$ 2,522.
— A alta está ligada a fatores políticos, com a subida de Dilma Rousseff nas pesquisas de intenções de voto. E também há os dados ruins da economia, o que também contribuiu para uma depreciação do real — explicou.
Moreira acrescentou, no entanto, que o dólar está ganhando força frente a diversas moedas, tanto de países desenvolvidos como emergentes. A possibilidade de novos incentivos por parte do Banco Central Europeu (BCE), para estimular a economia nos países da zona do euro, pode arrefecer esse movimento.
BOLSA EM QUEDA
É também o cenário político que intensificou a queda da Bolsa. O diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer, afirmou que o movimento do Ibovesta nesta terça-feira foi um mix do mau humor externo com o cenário político. No entanto, o que prevalece é a preocupação em relação à disputa pela Presidência da República.
— A queda da Bovespa está exacerbada. Por outro lado, há um fluxo forte de estrangeiro na Bolsa, que é o maior volume da história. Esse grupo de investidores, que visa o longo prazo, está vendo uma oportunidade de compra. Mas a volatilidade está forte porque os grandes investidores locais estão especulando no curto prazo com base nas eleições — explicou.
Em sua grande parte, os agentes do mercado financeiro desaprovam a política econômica adotada no governo Dilma, e por isso preferem um candidato da oposição. Nesse sentido, as pesquisas de intenção de voto acabam influenciando nos movimentos do mercados. Na segunda-feira à noite, levantamento do Datafolha mostrou que Dilma está com 40% das intenções de voto para o primeiro turno, 15 a mais do que o segundo colocado, a candidata Marina Silva (PSB), seguida de perto por Aécio Neves (PSDB), que tem 20%.
O gerente de renda variável da corretora H.Commcor, Ari Santos, afirmou que há muita especulação em relação a novas pesquisas eleitorais. Além disso, ele acredita que a queda na Bolsa já começa a antecipar uma piora no cenário econômico.
— Está todo mundo aguardando pesquisas e especulando sobre a possibilidade de um segundo turno ou não. Além disso, pode ocorrer uma antecipação da piora do cenário econômico. A Vale, com o preço do minério em queda, deve apresentar resultados ruins no terceiro trimestre. A alta do dólar também encarece o petróleo — afirmou.
Para Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, o foco será eleição até sexta-feira, no mínimo.
— O mercado está parado. Está todo mundo esperando o debate para repercutir na sexta-feira. É uma semana decisiva. O mercado está bem apreensivo — afirmou.
RECUPERAÇÃO PARCIAL DO BB
As ações que mais sentem a volatilidade exacerbada são aquelas do chamado "kit eleições", que é composto basicamente por papéis de estatais e bancos. As ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras fecharam em queda de 5,22%. Já as ordinárias (com direito a voto) tiveram recuo de 4,92%. No caso da Eletrobras, a queda foi de 3,06% nos papeis sem direito a voto e de 6,30% naqueles com direito a voto. No setor bancário, o Itaú Unibanco caiu 2,62% e Bradesco registrou queda de 3,58%.
Ainda no setor bancário, as ações do Banco do Brasil fecharam em alta de 1,58%, após queda de mais de 2% durante o pregão - na segunda-feira o recuo foi de 7,26%. A recuperação teve início no final do pregão, quando o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Paulo Rogério Cafarelli, afirmou que o governo não sabe se usará o Fundo Soberano do Brasil (FSB) para atingir a meta de superávit primário, segundo informações da Bloomberg. Ele teria dito também que caso o FSB venha a ser utilizado, as ações do BB não serão atingidas. O fundo detém cerca de R$ 3,4 bilhões em ações do BB e, com a perspectiva de venda em massa, as ações despencaram no pregão anterior.
No mercado externo, a China divulgou que o PMI industrial ficou estável em 51,1 pontos. Também foi divulgada a desaceleração na atividade industrial nos Estados Unidos, mas que ainda se mantém em patamares elevados. Junto a isso, há a preocupação de uma bolha no valor das ações americanas, em especial de médias empresas. Os investidores também estão de olho na reunião do Banco Central Europeu (BCE), que ocorre na quinta-feira, o que abre a possibilidade de novos estímulos. As Bolsas na Europa fecharam em queda, com o índice DAX, de Frankfurt, recuou 0,97% e o CAC 40, a Bolsa de Paris, caiu 1,15%. Já o FTSE 100, de Londres, teve desvalorização de 0,98%. Já nos Estados Unidos, Dow Jones recuou 1,40% e o Nasdaq fechou em queda de 1,59%.