sábado, 2 de agosto de 2014

O “novo homem” socialista também quer “alienação”

Blog Rodrigo Constantino - Veja




 
 
"Pelo necessário, o homem é capaz de matar; pelo supérfluo, é capaz de morrer." (Carlos Lacerda)
 
 
Para o desespero dos socialistas, que sonhavam em criar um “novo homem”, abnegado e livre da “alienação” burguesa, alguém que seria pescador de dia e filósofo à noite, mesmo em Cuba, sob toda a opressão estatal, o povo dá um jeito de se divertir com os “enlatados” americanos. É o que nos relata o escritor Leonardo Padura em sua coluna de hoje na Folha:
 
Explico melhor: um grupo de pessoas parece trabalhar recompilando programas de TV e páginas da internet que lhes são fornecidos por outras pessoas que têm acesso à internet de banda larga (geralmente em centros de trabalho aos quais o Estado deu essa possibilidade, num país onde o acesso à rede ainda é restrito e árduo).
 
Assim, esses recompiladores criam um “pacote” televisivo com filmes, musicais, telenovelas, programas de informação, programas esportivos e até antivírus atualizados e páginas de internet de grande interesse para os consumidores, como o chamado Revolico, um mercado virtual onde são geridas vendas de tudo o que se pode imaginar e são oferecidos os produtos mais inacreditáveis.
 
Depois de criado o pacote, um grupo maior de distribuidores sai à rua e, com aparelhos portáteis, descarrega nos computadores pessoais de seus clientes esse compêndio de arquivos que pode chegar a mil gigabytes e que é vendido ao preço de 2 pesos conversíveis cubanos –um pouco mais de US$ 2.
Então o consumidor, em seu computador ou, se conseguir visualizá-la, em seu aparelho de televisão, pode desfrutar de uma programação variada em que se encontram as ofertas que os canais de televisão nacional não fazem.
 
E, embora duras críticas à existência desse “pacote” tenham sido feitas ao nível oficial, a demanda por ele só faz aumentar, e o conteúdo é mais condizente com o que grande parte dos cubanos deseja consumir durante os seus momentos de lazer. 
 
Deve ser terrível para os “intelectuais” de esquerda ter de aceitar o homem como ele é, em busca de distração frívola e pura diversão. “A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte”, como diz a música. As pessoas preferem uma telenovela a um maçante programa revolucionário como aqueles obrigatórios nos países comunistas, em que os “proletários” passavam a noite “debatendo” Marx. Que coisa, não?
 
Como disse Roberto Campos em seu texto Elogio do Supérfluo, sobre os soviéticos e os chineses: “Estremeço inquieto ante a visão de uma civilização de enorme poder industrial e mecânico que não dê vazão aos seus instintos de conforto e substitua o consumidor aquisitivo pelo planejador revolucionário”. Chamou a isso de “tentação de Esparta”, lembrando que a militarista Esparta não deixou legado comparável à Atenas, que sabia apreciar o luxo e o supérfluo.