quarta-feira, 26 de março de 2014

"Ou o eleitor pune, ou o mercado vai punir de forma mais severa depois"

Blog Rodrigo Constantino



 
 
A esquerda pode acreditar que dá para ignorar ou enganar o “mercado”, mas as leis econômicas são inexoráveis. Cedo ou tarde, ele, o temido “mercado”, resolve aplicar um duro corretivo nos irresponsáveis, com elevado custo político para os governantes. Em casos extremos, estamos vendo isso na Argentina e na Venezuela hoje.
 
O rebaixamento da nota de crédito pela Standard & Poor’s foi apenas um aperitivo, uma palhinha do que vem por aí se os rumos não forem alterados. O problema é que, como reconheceu a própria diretora da S&P em entrevista à Folha, não há expectativa de mudança, nem mesmo após as eleições, caso Dilma seja reeleita.
 
Em sua coluna de hoje no mesmo jornal, Alexandre Schwartsman afirma que, pelo cenário base de reeleição da presidente, a tendência é o problema econômico se agravar, até que se torne inadiável um ajuste mais sofrido. Schwartsman rechaça o otimismo daqueles que acreditam ser possível mudanças pela equipe atual, que estaria aguardando apenas a reeleição:
 
Permaneço cético. No cenário político mais provável (a reeleição), tanto as crenças profundamente enraizadas sobre as “virtudes” do atual modelo, quanto os interesses econômicos encastelados nas proximidades do governo devem se manter como forças contrárias à mudança.
 
A tendência, portanto, é de aprofundamento do estresse nos próximos anos, até que o peso dos desequilíbrios acabe por tornar a mudança imperativa. Quando, porém, esta alteração ocorrer, as condições, quase que por definição, serão menos favoráveis que as prevalecentes hoje ou no futuro próximo.
 
A recusa em enfrentar os problemas apenas aumenta o custo futuro do ajuste. Vimos isto nos últimos anos – quando desperdiçamos nossas chances – e veremos de novo. Imunidade ao aprendizado acaba saindo caro.
 
Caro demais, indeed. Principalmente para o povo, que não poderá alegar desconhecimento depois se for cúmplice na reeleição de Dilma. Ficamos assim, então, para resumir: ou o eleitor pune a incompetência nas urnas, para efetivamente forçar uma mudança nos rumos, ou então o “mercado” vai punir depois, de forma bem mais severa, todos nós. Não há almoço grátis.