sexta-feira, 31 de março de 2017

Doria: ‘Ao contrário do Lula, ganhei dinheiro trabalhando’

Com Blog do Augusto Nunes - Veja



Ao discursar na 10º Brazil Conference, promovida pelo Bank of America Merril Lynch, o prefeito João Doria afirmou que o motivo determinante de seu ingresso na vida pública foi a disposição de evitar que o PT reconquiste o poder no Brasil. “Não sou candidato a nada”, ressalvou no vídeo. “Sou prefeito e vou prefeitar, mas quero ser uma referência para que outras pessoas se movam e impeçam que o Brasil volte a ser administrado por uma gangue de criminosos que, durante 13 anos, roubou o nosso país”.
“O maior assalto aos cofres públicos da história foi promovido pelo PT”, enfatizou. “Tenho coragem de falar porque não sou político e não devo nada a ninguém. Tenho uma vida honesta, uma vida de transparência e, ao contrário do Lula, ganhei o meu dinheiro trabalhando”.

As regalias de Cabral na prisão

O ex-governador do Rio acumula privilégios em Bangu 8: sem tranca na cela, dorme na biblioteca com ar condicionado e é o único detento com autorização para usar internet na administração do presídio e encomendar comida de restaurantes de fora. Enquanto esteve na cadeia, sua mulher Adriana recebeu até uma cesta de Natal


As regalias de Cabral na prisão
ECOS DA CADEIA Cabral fala por videoconferência, enquanto a mulher veste roupa de detenta

O homem do terno de ouro

IstoE


Flagrado num mega esquema de corrupção pela pela força tarefa da operação Lava Jato, o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral adquiriu 20 ternos da grife italiana Ermegildo Zena, uma das mais conceituadas do mundo, por meio de depósitos fracionados em dinheiro, no valor de R$ 18 mil a 150 mil. Todos os trajes eram feitos a mão, o que requer um processo absolutamente artesanal. Primeiro, um mestre alfaiate precisa se reunir com o cliente, para definir o modelo. A medição começa no topo do corpo – uma lição da casa italiana, que faz costumes a mão há 40 anos. Primeiro pescoço, depois ombros, peito, braços, costas e cintura. Todos os itens do terno podem ser definidos: a forma das lapelas, o corte, os bolsos e o tipo de abotoamento, simples ou duplo. Um detalhe muito importante é que a feitura é toda na sede da empresa, em Trivero, no norte da Itália, onde também fica o Lanificio Zegna. O processo tem cerca de 30 estágios e pode durar até 90 dias. A última etapa é a costura em dourado da etiqueta, que vem com o nome do proprietário do terno. A seguir, alguns detalhes só possíveis nos costumes com mais de três dígitos:


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Os outsiders se apresentam

Donos de personalidades distintas, João Doria, Henrique Meirelles, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa exibem suas credenciais para 2018. A principal delas: encarnam o antipolítico tradicional e são diferentes de tudo o que está aí


Os outsiders se apresentam
JOÃO DORIA - Com os principais nomes do PSDB encalacrados com a Lava Jato, o prefeito de São Paulo surge como alternativa dos tucanos na disputa presidencial. Além de empresário, tem a seu favor o fato de não estar ligado a nenhum esquema de corrupção
Se todos concordam que o cenário para as eleições presidenciais de 2018 ainda encontra-se nebuloso, já é quase um consenso no meio político que ao menos um horizonte é possível enxergar: o de que o próximo pleito será um terreno fértil para os candidatos de fora da elite política do País. Os chamados “outsiders”. O Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define o outsider como a “pessoa que não pertence a determinado grupo; estranho, intruso, forasteiro”. Mas o candidato outsider não precisa ser necessariamente um neófito no mundo político. Para se enquadrar nessa condição, basta encarnar o antipolítico tradicional (não o “não-político) e agir de modo distinto a tudo o que está aí hoje, principalmente durante o exercício da gestão. Por isso, quem larga no pelotão de frente é o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB). Embora estivesse há 13 anos à frente do Lide – Grupo de Líderes Empresariais –, cuja atuação envolve, entre outras atividades, a promoção da integração entre entidades privadas e o poder público a fim de viabilizar projetos sociais, o que caracteriza uma atividade eminentemente política, ainda que apartidária, Doria personifica como ninguém o “novo” na política. O prefeito da maior cidade do País está em sintonia fina com os anseios da sociedade moderna. Senão vejamos: em 100 dias de gestão, a serem completados nesta semana, reduziu a máquina municipal, cortando sobretudo os supérfluos e desperdícios, mas não se apoquentou com os limites do Orçamento. Para suprir necessidades básicas da população, como a aquisição de medicamentos, negligenciada pela gestão anterior, Doria apostou nas parcerias com empresas privadas. Também mostrou jogo de cintura ao praticamente zerar a fila de espera para exames em São Paulo, ao implementar o programa Corujão da Saúde. Antes, para marcar um exame o paulistano esperava seis meses em média.
Gilmar Mendes - É o ministro do STF que mais se aproxima dos outros poderes. Além trânsito junto ao presidente Michel Temer, é presença assídua em discussões polêmicas no Congresso, como debate sobre projeto de abuso de autoridade no Senado
GILMAR MENDES – É o ministro do STF que mais se aproxima dos outros poderes. Além trânsito junto ao presidente Michel Temer, é presença assídua em discussões polêmicas no Congresso, como debate sobre projeto de abuso de autoridade no Senado
Seus subordinados obedecem a um rigoroso código de conduta, que prevê multa para quem chegar com atraso ao serviço. Carros oficiais e telefones celulares foram drasticamente reduzidos. Se são marcadas reuniões em locais com menos de 5km de distância do local de trabalho, o servidor gasta sola de sapato: vai a pé. O exemplo vem de cima – a cereja do bolo: o “João Trabalhador” não é só marketing eleitoral. Ele trabalha, trabalha, trabalha e amassa barro mesmo. A faina preocupa os mais próximos. Não por acaso. Se antes ele dormia entre quatro e seis horas por dia, agora o tempo para a pestana foi reduzido para uma hora e meia. Virou rotina. Logo cedo, lá está Doria com a mão na enxada ou na vassoura – vestido de gari – debaixo de sol a pino para limpar a cidade ou a providenciar pequenos reparos nas ruas. É como dizia o saudoso narrador de futebol: “é disso que o povo gosta”. O resultado não poderia ser outro: Doria é aprovado por 70% da cidade.
Henrique Meirelles - Uma possível candidatura dependerá do seu desempenho na condução da economia. Mas precisa recolocar o País nos trilhos do crescimento, com redução de gastos públicos e reforma da Previdência
HENRIQUE MEIRELLES – Uma possível candidatura dependerá do seu desempenho na condução da economia. Mas precisa recolocar o País nos trilhos do crescimento, com redução de gastos públicos e reforma da Previdência
O sucesso de público o credencia para vôos mais altos. Até entre os aecistas, o prefeito já é considerado uma importante alternativa para 2018, uma espécie de plano “B” que a qualquer momento pode se converter a “A”. De qualquer forma, a viabilidade de sua candidatura não está atrelada ao PSDB. Como outsider, Doria pode abrir mão da máquina partidária tucana se tiver outra ao alcance das mãos. Para deleite dos seus entusiastas, em sua maioria opositores do PT e refratários ao petismo “way of life”, ele ainda encarna como ninguém o anti-Lula. Em suas últimas aparições, sacou frases como essas: “Já viu a turma de esquerda gostar de trabalhar? Pergunta ao Lula se ele gosta de trabalhar”. E acrescentou com o que hoje soa como música aos ouvidos dos anti-petistas: “Estou fazendo gestão, administração, com transparência, competência e trabalho. Lula trabalhou oito anos na vida e tem aposentadoria, tríplex, fazendinha, sitiozinho. Cada vez que vejo o sem vergonha do Lula falar mentira, ponho mais uma hora de trabalho e dedico a ele”.
No páreo
Correndo numa raia paralela está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Apesar de ser filiado ao PSD e já ter sido eleito pelo PSDB como deputado federal de Goiás em 2002, Meirelles passou a maior parte do seu mandato exercendo o comando do Banco Central do governo Lula. Por isso, à sua imagem não ficou associada a pecha de político profissional. Porém, para que ele se lance na corrida presidencial de 2018, o ex-presidente mundial do BankBoston depende de dois fatores: a economia voar como um foguete e o governo Temer não ter nome para colocar na disputa. Mas, como Doria, Meirelles seria um outsider clássico, só que com uma pegada mais econômica.
Joaquim Barbosa - Principal nome do STF durante o julgamento do mensalão, Barbosa chegou a ser cogitado por alguns partidos políticos, entre os quais, o PSB. Aposentado desde 2014, permanece ativo nas redes sociais
JOAQUIM BARBOSA – Principal nome do STF durante o julgamento do mensalão, Barbosa chegou a ser cogitado por alguns partidos políticos, entre os quais, o PSB. Aposentado desde 2014, permanece ativo nas redes sociais
Outra figura que cultiva uma boa imagem, por sua trajetória de combate à corrupção, é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa. Relator do mensalão e enfático em suas posições contra corruptos, o magistrado aposentado chegou a ser convidado no início deste ano para se filiar à Rede. Por enquanto, as conversas ainda não avançaram, mas Barbosa está ativo nas redes sociais. Afiado, não perde a oportunidade de entrar em bola dividida e adora uma boa polêmica.
Marqueteiros e políticos ouvidos por ISTOÉ acreditam que há sim espaço para candidaturas competitivas oriundas do Judiciário. Entre os Três Poderes, é o que goza de melhor aceitação perante a população. “Esse quadro oportuniza alternativas”, avalia. “Entre as quais, alguém do Judiciário”, reconhece o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN). Para o senador, a economia e os desdobramentos da Lava Jato devem puxar uma fila de novos candidatos. “Acredito que a Operação Lava Jato vai influenciar na política. Mas acho que pouco provável que ela seja avassaladora. Juiz prende, mas não elege. Quem elege é o eleitor”, contrapõe o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Há quem identifique no comportamento do presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo, Gilmar Mendes, uma insinuação para uma possível candidatura. Além do afã de pontificar sobre todo e qualquer tema, Gilmar alcançou o posto de principal interlocutor do STF com o governo Temer e com o Legislativo. Candidato ou não, ele, assim como o meio político em peso, sabe que está aberta a temporada de procura de outsiders. O político tradicional terá de cortar um dobrado se quiser encher os olhos do cada vez mais rigoroso eleitor.

Um novo jeito de fazer política

O Partido Novo surge como uma boa notícia em tempos sombrios. Não quer saber de dinheiro público, tempo de televisão e nem de qualquer regalia para seus representantes. O desafio é não se deixar seduzir pelas armadilhas do poder


Um novo jeito de fazer política
NOVA ORDEMMilitantes do Partido Novo contribuem com R$ 30 por mês para financiar as campanhas da legenda
Imagine um partido diferente de todos os outros. Que não gosta de dinheiro público – a ponto de dispensar o fundo partidário de R$ 1,9 milhão, pouco se importa com tempo de televisão, é financiado com o dinheiro dos próprios filiados, em sua maioria formada por profissionais liberais abnegados, e que determina que seus parlamentares abram mão de regalias inerentes aos cargos, como carros oficiais e motoristas. Talvez você ainda não o conheça, mas ele já existe e há pouco mais de um ano. Trata-se do Partido Novo. Nas eleições de 2016, mesmo com um discurso que provoca repulsa ao político tradicional, elegeu quatro vereadores e já conta com 10 mil filiados – dos quais sete mil depositam regiamente quantias para sustentar a nova legenda. Agora, o objetivo é difundir suas idéias pelo País para ganhar capilaridade e musculatura política visando ao próximo pleito, quando pretende lançar um candidato à Presidência da República. O partido, inclusive, tem um nome na manga: o empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, mais ativo do que nunca nas redes sociais. “Excelente gestor, mas ainda vamos consultá-lo”, limita-se a dizer o presidente do Novo, João Dionísio Amoêdo, que para fundar a sigla fez um aporte de R$ 4 milhões do próprio bolso.
ELEIÇões 2018 João Dionisio Amoêdo, presidente do Partido Novo, diz que a sigla deve ter candidato a presidente em 2018
ELEIÇÕES 2018 João Dionisio Amoêdo, presidente do Partido Novo, diz que a sigla deve ter candidato a presidente em 2018
O partido defende bandeiras liberais, como a redução de impostos e Estado mínimo, e prega mudanças profundas na maneira de fazer política no Brasil. A começar com a redução no número de partidos. Amoedo acredita que, com a limitação de recursos públicos destinados às agremiações, elas seriam sufocadas. “Os partidos nascem por causa dos privilégios e do tamanho da máquina pública. Apesar de termos 35 partidos, eles não representam o povo”, afirma. A legenda também é frontalmente contra o voto em lista fechada, defensor incondicional da Lava Jato e da revisão do foro privilegiado, pautas em consonância com o clamor das ruas. É nesse embalo, e com a constatação de que a população está cada vez mais enfastiada da chamada velha política, que o Novo espera alçar vôos mais ambiciosos. “O partido nasceu com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Para isso, é necessária a redução da carga tributária e da área de atuação do Estado, para que (o governo) possa focar nas áreas principais: saúde, educação e segurança. Essa será a melhor forma para o País crescer e gerar riqueza”, avalia Amoedo.
Com um tempo de TV de impraticáveis cinco segundos – foi o período a que teve direito a candidata a prefeito do Rio de Janeiro Carmem Miguete (RJ) em 2016 –, o Novo explora as redes sociais para atrair seguidores. A ideia é fixar o discurso de que, para mudar o modelo atual de política no Brasil, que não cresce e propicia a corrupção, é preciso participar da política. “O cenário atual tem contribuído para as pessoas estarem mais abertas ao novo”, afirma Amoêdo.
Seleção
Recentemente, os líderes da legenda decidiram abrir um processo seletivo a fim de selecionar novos quadros. A triagem procura identificar se a pessoa está alinhada com o Novo, se conhece o estatuto e quais são os planos dela na política. Tudo isso para consolidar o compromisso com o eleitor de trazer gente séria, competente e em sintonia com a cartilha na qual reza a nova sigla. “O partido é uma instituição não uma legenda. O novo é uma instituição que tem princípios, valores e uma cultura”, frisa Amoêdo.
Para Amoêdo, a Operação Lava Jato tem contribuído para o surgimento de agremiações como o Novo, pois, segundo ele, explicitou vícios do sistema, como o de levar os mesmo políticos a se perpetuarem no poder, além é claro de escancarar os métodos de corrupção. “Nós sempre questionamos o modelo de estado, que concentra muito poder nos representantes. E a Lava Jato tem mostrado isso”, afirma.
O desafio do Novo é manter o rigor nos propósitos, sem se deixar seduzir por conveniências políticas de ocasião. Vale lembrar que certos partidos brasileiros nasceram e floresceram assentados no discurso fácil e atraente da mudança. Para alcançar o poder a todo custo, no entanto, não tiveram pudores em trair seus ideais. O resto já é história.

Marcelo Madureira: "Estamos vivendo uma hecatombe"

Cilene Pereira - IstoE


O humorista Marcelo Madureira, 58 anos, teve seu nome citado em muitas das conversas da semana passada. No domingo 26, durante a manifestação em São Paulo em apoio à Operação Lava Jato, ele chamou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra”. Chegaram a atribuir a fala à atriz Regina Duarte, que também participou do evento, mas foi Marcelo quem fez a afirmação. E não se arrepende disso. “Disse baseado no que sabemos pelas delações”, sustenta. Figura popular desde que atuou no humorístico Casseta & Planeta, exibido pela tevê Globo, ele tem se destacado como uma das vozes mais críticas das administrações petistas. “Em 2010, quando Lula contava com a aprovação maciça da população, eu disse que ele era uma farsa e que o Brasil estava sendo governado por uma quadrilha de cafajestes. Vai custar muito tempo para que o País se reerga.”
Na manifestação em São Paulo no domingo, foi você quem chamou o ex-presidente Lula de “vagabundo” e a ex-presidente Dilma Rousseff de “ladra e vagabunda”?
Disse isso baseado em tudo o que tomei conhecimento a partir das delações feitas na Operação Lava Jato. Ela se dizia impoluta, mas os depoimentos mostram que caiu a última máscara. Ela é uma ladra mesmo. E Lula é chefe de quadrilha.
Alguma vez você foi eleitor dele?
Na eleição presidencial de 1989.
Decepcionou-se, então?
Conheço o Lula há muito tempo. Militei no movimento estudantil, a política não é nova na minha vida. Lula não vale nada. Já tinha percebido isso desde minha época de militância.
Por que achava isso?
Comecei a observá-lo. Ele sempre se apropriou do movimento sindical. Passei a vê-lo como um cara oportunista e fiquei cada vez mais convicto de que era um embuste. Em 2010, quando ele contava com a aprovação maciça da população, eu disse que ele era uma farsa e que o Brasil estava sendo governado por uma quadrilha de cafajestes. Estávamos indo por um caminho que levaria gerações para nos recuperar.
Imaginava que a situação pudesse chegar a um nível tão crítico quanto o que vivemos agora?
Não tinha ideia de que seria tão brutal. Estamos vivendo uma hecatombe. Custará muito tempo para que o País se reerga.
Lula assumiu a presidência em um raro momento da história brasileira em que um presidente tinha apoio popular, político e empresarial. O que deu errado, na sua opinião?
Ele herdou um País que apostou nele, foi caudatário de uma esperança. Porém usou de demagogia. Foi covarde. Se Lula fosse um milímetro estadista teríamos dado um salto enorme. Por incompetência, desonestidade, ganância, calhordice, ele não teve visão.
Mas Lula aparece como um dos favoritos na campanha presidencial do próximo ano.
Ele tem 20% a 30% do eleitorado. Isso já é cristalizado.
Como encara a sua candidatura?
Se estiver dentro de seus direitos políticos, ele pode ser candidato, claro. Mas acredito que até lá ele esteja condenado. Tenho certeza de que se prenderem o Lula hoje vai ter buzinaço no País.
E quanto à Dilma?
A pior coisa do mundo é uma incompetente com iniciativa. Ela não tem consciência da própria ignorância. Digo isso baseado nas sandices e imbecilidades que Dilma fez. Ela não consegue sequer verbalizar um raciocínio.
Você é muito criticado por suas posições?
Pelo contrário. Sou cumprimentado nas ruas. Mas hoje a sociedade está dividida. Uma das heranças malditas dos governos petistas foi a de criar um ambiente de intolerância geral, de raiva, de ódio. Eu vivi em um Brasil onde isso não acontecia.
Que perspectivas enxerga para o País?
O Brasil no qual eu cresci não existe mais e não voltará. O futuro dependerá muito do que será a Lava Jato. Caso a operação termine em um grande acordo, o destino será melancólico. Porém se formos fundo até as últimas consequências teremos a possibilidade de reconstruir a nação dentro de uma base ética de valores. Mas modernizar o País demanda trabalho.
O juiz Sergio Moro muitas vezes é acusado de praticar o que chamam de justiça “seletiva”, cujos alvos seriam os caciques petistas em detrimento de políticos de outros partidos. O que acha da colocação?
Moro está fazendo o papel dele, assim como os procuradores envolvidos na operação. Eles estão cumprindo o dever deles, fazendo o certo sem segundas intenções. Querem legar um País melhor para as próximas gerações. Por isso contam com a aprovação da maioria das pessoas. A população vê neles jovens com princípios, propósitos.
Por que as manifestações do domingo 26, que tinham por objetivo apoiar a Lava Jato, tiveram pouca adesão?
Os movimentos de massa passam por estabilidades. Não me assusto com isso. O povo não estava tão mobilizado, mas isso não quer dizer que não sairá em peso à rua novamente.
Projetos legislativos em discussão como o que não torna crime o Caixa 2 e o que propõe alterações na regulação da lei de abuso de autoridade são vistos como tentativas de minar a Lava Jato. O que acha dessa reação dos políticos, hoje os novos alvos da operação?
Eles estão acuados. Não estão entendendo que a sociedade não vai engolir mais essas coisas, assim como não engoliu a Dilma. Eles vão ter que recuar. Esses parlamentares não representam a sociedade, mas não se deram conta disso. Os partidos estão divorciados do povo brasileiro.
Muitos políticos dizem que atacar a classe política pode levar ao caos.
No caos nós já estamos.
Enxerga alguma alternativa que responda ao anseio da sociedade por uma política ética e afinada com as reais necessidades da população?
Não vejo nomes. Quero saber a agenda. Temos que buscar o que nos une para reconstruir o País que foi arrasado. O que nos separa vamos discutir depois.
Não teme que o vazio de representatividade permita a ascensão de líderes radicais de direita?
Existe uma extrema direita, mas tendo a acreditar que eles berram mais porque não são tantos assim. Defendo que, respeitando as regras do jogo democrático, todos os segmentos de pensamento têm que se expressar. Sou a favor do debate. Gosto de trocar ideias com pessoas de opiniões diferentes das minhas. Podem ir do Jair Bolsonaro (de saída do PSC) ao Jean Willys e Marcelo Freixo (ambos do Psol). Essa vida civilizada, de escutar o que outro tem a dizer, precisa voltar à sociedade.
De que forma recebe as informações que estão saindo a partir das delações na Lava Jato?
Elas revelam um cenário assustador. Não éramos um País. Éramos um consórcio do PT, do PMDB e de outros partidos com as empreiteiras. Nenhuma nação pode dar certo assim. E começamos a exportar esse modo de atuação para vários países. Quer dizer, começamos a infectá-los.
No meio do maior ataque ao erário de que se tem registro no Brasil, o caso dos requintes de luxo de Sérgio Cabral e de sua mulher, Adriana Ancelmo (dois dos acusados na Operação Lava Jato), chegou a chamar sua atenção?
Conheço o Sérgio Cabral desde quando eu tinha uns quinze anos. Ele era militante também. Mas o ser humano é isso, essa pequenez… Para que tantos ternos? Vaso sanitário com assento aquecido? Parece Versailles (palácio da família real francesa que virou símbolo da opulência dos nobres em contraponto à miséria da população da França à época da Revolução Francesa).
Como avalia o governo de Michel Temer?
Ele entende que precisa fazer um bom governo, que as reformas são necessárias. Por outro lado é refém do próprio passado, com sua história ligada ao pior do PMDB e à aliança com Dilma.
Em que medida isso pode travar as negociações para as reformas?
Ele tem alguns traços de estadista e quer deixar um legado. Mas percebe a complexidade dos problemas. Está tentando tocar, porém precisa trabalhar com um Congresso que é um refúgio de bandido. Na economia ele tem sido sensato, colocando pessoas certas nos lugares certos. O Pedro Parente, na presidência da Petrobrás, e a Maria Silvia Marques, no comando do BNDES, são exemplos disso. São gente boa, de princípios.
É a favor da reforma da Previdência como está proposta pelo governo?
É preciso uma reforma para que no futuro todos possam receber alguma aposentadoria. Porque se nada for alterado agora ninguém vai ter nada.
E quanto às críticas de que ela seria rigorosa demais?
As pessoas devem entender que terão que abrir mão de direitos. Ser cidadão é ter deveres também. É necessário um entendimento de onde estamos e onde queremos chegar. Mas a população fica assustada porque até agora não houve uma explicação didática sobre a reforma. Todos se sentem inseguros. Por isso é necessário explicar que não é bem assim.
Mas você não acha que a população já deu – e muito – sua cota de sacrifício?
As pessoas se sentem espoliadas porque o Estado não serve ao povo. A quantidade de desempregados hoje é imensa. Se o cidadão é pobre e fica doente, está ferrado. A febre amarela voltou, as facções criminosas dominam lugares que não fazem mais parte do Estado. Mas para construir uma grande nação é preciso ter sacrifício, vontade, trabalho. E a culpa por termos chegado a esse ponto é de todos nós, principalmente daqueles que não se interessam pela política, pela vida em comunidade. Não existirá nação enquanto não existir um projeto nacional.

A reforma da previdência que todos precisam e ninguém quer aprovar

Carlos José Marques - IstoE


O ambiente no qual se desenvolve o debate em torno da inevitável reforma da Previdência é, no mínimo, esquizofrênico. Todo mundo sabe que ela é vital, necessária, inadiável – sem a qual o País quebra logo ali adiante. Ninguém discute seu objetivo fim de tapar o histórico rombo em escalada geométrica. Mas não existe viva alma hoje disposta a arcar com a conta ou a ceder um milímetro no seu quinhão desse butim. A começar pelos grupos organizados. É a elite de servidores públicos, militares e da própria armada parlamentar quem mais resiste e protesta de maneira ruidosa. Galvaniza as ruas. Recebe concessões. Na maioria dos casos fica de fora do prejuízo. Mantém os privilégios. Não contribui para a solução. Articulada com sindicatos e agremiações de oposição (que trabalham pelo tumulto e sabotam projetos sem propor alternativas), essa elite trata de puxar para si o cobertor curto enquanto grande parte da população fica a descoberto. No amplo espectro de desigualdade social, quem menos pode e grita levará a pior. De novo. A reforma tem de sair e políticos – desprezíveis nas suas intenções – cozinham o assunto para não se indispor com as bases. Correm atrás de salvaguardas, blindando as categorias predominantes nos respectivos currais eleitorais. Dão de ombros às gerações futuras. Afinal, elas não lhe asseguram hoje uma vaga no Congresso.
Não estão no seu “target” de eleitores a agradar. O obstáculo maior à reforma em curso são os interesses pontuais daqueles com a caneta para aprová-la. A turma do atraso conspira rumo ao desastre geral. Atualmente 48% das despesas primárias do Estado são consumidas por aposentadorias e pensões. Em outras palavras: quase metade tudo que a União arrecada evapora nessa rubrica. O número avança absurdamente a cada ano e estima-se que já no exercício de 2024 nada menos que 100% do orçamento serão gastos no sistema previdenciário, caso nada seja feito. O colapso tem assim data marcada.
Décadas se passaram nessa toada. Inúmeras alternativas apareceram. Entraram em pauta no Congresso. Foram negociadas à exaustão. Vários governos acenaram para a urgência do tema. Mas, invariavelmente, qualquer iniciativa nesse sentido teve por destino a gaveta, desfigurada e rejeitada pelos lobbies, pela burocracia e por injunções políticas. Mofa nos arquivos as melhores intenções. Não há mais como seguir nessa incompatível expansão de gastos sem lastro para bancar desde gordos benefícios a castas privilegiadas até o atendimento básico de quem se aposenta mais cedo. O mundo mudou. O Brasil também. Com o envelhecimento da população – todos sabem! – cada vez menos contribuintes estão tendo de segurar a conta de mais beneficiários. O sistema travará. Irá sucumbir, sem dúvida alguma, por inanição da classe política que apela ao populismo e barra medidas amargas com a desfaçatez típica de canastrões. A sociedade não pode acreditar nas intenções dessa gente. Deve reagir, em benefício próprio. E logo! O presidente Temer soou o alarme, avisando que o Brasil pode virar uma Grécia em menos de uma década. E não há exagero nesse tipo de prognóstico. Estados e municípios, por exemplo, estão à beira do cadafalso e se não ajustarem os desembolsos previdenciários dos servidores não terão como escapar. Precisam, com urgência, apresentar novas regras locais que mudem o regime em vigor. Isso – claro! – se os governantes ainda tiverem algum juízo e senso de responsabilidade. Nenhum brasileiro pode perder de vista o fato de que o modelo de previdência em vigor ficou insustentável e está a exigir arranjos e sacrifícios indiscriminados em prol do bem geral.