domingo, 31 de janeiro de 2016
Deu no ´JN: Nota fiscal de barco reforça relação da família de Lula com sítio em SP
TV Globo
A nota fiscal da compra de um barco reforça a relação da família do ex-presidente Lula com o sítio em Atibaia, em São Paulo, que teria sido reformado pela construtora Odebrecht.
O que era uma suspeita investigada pelo Ministério Público Estadual agora é alvo também dos procuradores federais da Operação Lava Jato.
O sítio Santa Bárbara, que tem uma área equivalente a 24 campos de futebol, fica em Atibaia, interior de São Paulo. De acordo com as certidões de matrículas que o Jornal Nacional conseguiu no cartório de imóveis da cidade, a propriedade está em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna. Os dois são sócios de Fábio Luís da Silva, filho do ex-presidente Lula.
O Instituto Lula informou nesta sexta-feira (29), em nota, que o sítio é utilizado pelo ex-presidente e sua família.
Os procuradores federais suspeitam que a construtora Odebrecht tenha bancado uma reforma no sítio em troca de favorecimento em contratos. A ex-dona de uma loja de material de construção de Atibaia, com quem o Jornal Nacional conversou na sexta (29), contou que a obra custou R$ 500 mil e que, depois da reforma, o sítio ganhou quatro suítes e uma área de lazer com churrasqueira.
Patrícia Nunes, que não quis mostrar o rosto, disse os pagamentos eram feitos em dinheiro vivo, cerca de R$ 90 mil por semana, por um homem que trazia o dinheiro numa mala. Patrícia foi ouvida oficialmente nesta sexta (29) pelos procuradores federais.
Patrícia: Eles chegaram falando que era da força tarefa da Lava Jato.
Jornal Nacional: Tudo isso que você está nos contando aqui, você contou pra eles?
Patrícia: Isso, contei tudo.
Jornal Nacional: Tudo isso que você está nos contando aqui, você contou pra eles?
Patrícia: Isso, contei tudo.
Na edição deste sábado (30), o jornal Folha de São Paulo publicou uma reportagem em que diz que a mulher do ex-presidente Lula, dona Marisa Letícia, comprou um barco pequeno por R$ 4 mil e mandou entregá-lo no sítio em Atibaia. A foto da nota fiscal com o nome da ex-primeira-dama e o endereço do sítio foi cedida ao Jornal Nacional pelo jornal.
Em outra frente de investigação, o Ministério Público de São Paulo e os investigadores da Lava Jato apuram suspeitas de que parte do dinheiro que a Cooperativa dos Bancários de São Paulo, aBancoop, deveria ter usado para a construção de imóveis na baixada santista tenha sido desviada para financiar campanhas eleitorais do PT.
A Bancoop não conseguiu concluir 15 empreendimentos e teve uma série de problemas com outros 25. Nas contas dos promotores, seis mil pessoas foram prejudicadas.
Em reportagem publicada neste sábado (30), a revista Época afirma que a OAS e outras incorporadoras foram beneficiadas de modo irregular com a liberação de dinheiro do FGTS e que o conselho curador do fundo de garantia comprou R$ 300 milhões em debêntures, um tipo de dívida, emitidos pela OAS.
Ainda segundo a revista, a OAS usou parte desse dinheiro, R$ 14 milhões, para concluir as obras do edifício Solaris, em Guarujá. É no prédio que os promotores estaduais e os suspeitam que o ex-presidente Lula era dono de um triplex. E os procuradores federais, que o triplex seja um dos imóveis usados para ocultar patrimônio.
Em nota divulgada na quinta-feira (28) pelo Instituto Lula na internet, o advogado Cristiano Zanin Martins afirma que o ex-presidente e sua família nunca foram proprietários de um apartamento triplex no Edifício Solaris porque optaram por pedir a devolução do dinheiro investido no projeto.
Segundo o Instituto Lula, a operação foi declarada pelo ex-presidente à Receita Federal.
A Odebrecht voltou a afirmar neste sábado (30), que não identificou relação da empresa com a obra no sítio de Atibaia.
O Instituto Lula reafirmou que o ex-presidente costuma passar os dias de descanso em um sítio em Atibaia de propriedade de amigos da família. Por isso - afirma o instituto - dona Marisa Letícia comprou o bote e mandou entregá-lo no sítio.
O PT afirmou que todas as doações recebidas pelo partido foram dentro da lei e declaradas à Justiça eleitoral.
A Bancoop, a cooperativa dos bancários de São Paulo, disse que as declarações dos promotores não procedem.
A OAS declarou que não há nada de irregular em sua emissão de debêntures adquiridas pelo FGTS - nem na incorporação do Edifício Solaris.
A assessoria do ministro do trabalho, Miguel Rosseto - que preside o conselho curador do FGTS - disse que, neste momento, não tem informações sobre a suposta fraude e que, por isso, não vai comentar. Mas afirmou que o caso será apurado.
IstoÉ desmonta completamente a versão de Lula sobre seu triplex
Com O Antagonista
Mentiras de Lula
A IstoÉ desmonta completamente a versão de Lula sobre seu triplex.
Um documento reproduzido pela reportagem mostra que, pelo contrato assinado com a OAS, ele deveria ter desistido da compra do apartamento sete anos atrás, em 2009. Mas ele só desistiu em 2015, depois que O Globo publicou sua primeira reportagem sobre o imóvel.
A rigor, o triplex ainda é seu.

O segundo documento apresentado pela IstoÉ revela que, em 2012, o apartamento já constava como vendido. Em 2014, quando Lula e Marisa visitaram o triplex para acompanhar a reforma paga pela OAS, o imóvel não estava disponível. Ele já tinha um dono.

O terceiro documento confirma O Antagonista. Os cooperados da Bancoop não compraram cotas de imóveis. Ao contrário: eles tiveram de especificar o número de seus apartamentos.

"O indesejável esvaziamento do CNJ", editorial de O Globo
Tribunais regionais se articulam, com apoio de Lewandowski, para aprovar emenda que institui estrutura sobreposta ao conselho, a fim de esvaziá-lo
Criado em fins de 2004 pela Emenda Constitucional nº 45, “da reforma do Judiciário”, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) veio para preencher um vácuo nesta enorme máquina formada por tribunais de várias instâncias, cartórios, fóruns. Máquina essencial, por óbvio, para a República e a democracia.
De maneira errônea chamado de órgão do “controle externo” da magistratura, o CNJ sempre enfrentou cerrada oposição de tribunais regionais, postura em que se destaca o de São Paulo. Daí o relacionamento entre o conselho e associações de magistrados ser tensa.
É impróprio o uso do termo “controle externo” porque a independência e todos os direitos constitucionais do juiz são mantidos, é claro. Inexiste qualquer interferência do órgão em veredictos lavrados pelos magistrados. E nem há pessoas de fora do mundo jurídico no CNJ. Portanto, não há “controle” nem tampouco “externo”.
Há, sim, vigilância em questões éticas e um cuidado especial com o lado administrativo da Justiça, um aspecto nunca considerado no meio. O ministro da Justiça é um cargo político, enquanto o presidente do Supremo — também presidente do CNJ — não tinha como se envolver em questões como essas.
O CNJ passou a estabelecer normas, inclusive no plano da ética — como na proibição do nepotismo —, e a fixar parâmetros e metas para o funcionamento dos tribunais. Acostumados a funcionar como feudos, houve revolta nos TJs.
No momento, segundo o jornal “Folha de S.Paulo”, quando o presidente do CNJ é o ministro Ricardo Lewandowski, também à frente do STF, transcorre uma operação de esvaziamento do conselho, com o suposto beneplácito de Lewandowski, oriundo da Justiça de São Paulo.
Não preocuparia tanto se o ministro apenas demorasse a colocar em pauta casos disciplinares graves envolvendo juízes e já relatados pela corregedoria do CNJ.
A maior ameaça é a ideia da emenda constitucional para criar o Conselho da Justiça Estadual. Na verdade, seria a formalização constitucional do Conselho dos Tribunais de Justiça, já existente fora da estrutura da Justiça, composto por presidentes do TJs, a principal trincheira de resistência ao CNJ. E a proposta tem apoio de Lewandowski.
Tanto que ele já instituiu, sem consultar o colegiado, dois grupos de consulta: de associações de juízes e de presidentes dos colegiados dos TJs. O movimento é claro: criar organismos que se sobreponham ao CNJ e o esvaziem.
O Congresso e organismos da sociedade precisam acompanhar o tema. Porque não interessa ao país que o corporativismo, historicamente forte na Justiça, recupere espaço com a desidratação do Conselho Nacional, e assim enterre de vez as esperanças de uma Justiça menos burocratizada, mais eficiente.
"Nem tudo acaba na quarta-feira", por Fernando Gabeira
O Globo
Acontece entre nós uma certa carnavalização da política
Acontece entre nós uma certa carnavalização da política
O carnaval é o tempo da alegria, em que as pessoas se irmanam no riso. Segundo o teórico russo Mikhail Bakhtin, a alegria popular é uma contrapartida à seriedade e chatice dos ritos oficiais. Acontece entre nós uma certa carnavalização da política. Algo diferente de se fazerem milhares de máscaras do japonês da Federal e sair cantando: vem pra cá, você ganhou uma viagem ao Paraná. Isso é a política no carnaval. Os discursos de Dilma e Lula são o carnaval na política. Ela conseguiu emplacar dois sucessos em 2015: “Saudação à mandioca” e “Armazenando o vento”.
Na primeira, Dilma pré-colombiana se entusiasmou com nossas origens indígenas. Na segunda, apenas mencionou um processo real mas que ainda não está consolidado: armazenar o vento nas rochas, como um ar comprimido. O sucesso da “Saudação à mandioca” é o entusiasmo de Dilma que se derrama para o milho. No “Armazenando o vento”, o refrão “daqui pra lá, de lá pra cá” transmite ação, é bastante expressivo para descrever o vento.
Deixando sua fase mais popular, Dilma ficou zangada com as previsões do FMI. “Estou estarrecida”, confessou. Como se nunca tivesse lido uma previsão que falasse do buraco em que caímos, até 2018, no mínimo. Mas estava reservada ao criador da criatura o papel de vocalista do bloco. Lula disse aos seus blogueiros de estimação que não existe no Brasil alma viva mais honesta do que ele. Com todas as reservas sobre a existência da alma, e dúvidas sobre se a de Lula está realmente viva ou é apenas um fantasma fugindo da polícia, esta frase abriu o carnaval de 2016.
Lula disse isso num momento em que está acossado por várias investigações, medida provisória vendida, compra de caças, triplex, sítio, enfim tudo o que aparece nas notícias e mais alguma coisa escondida nos inquéritos ou no fundo da garganta de um potencial delator premiado. Ao se proclamar a mais honesta alma viva do Brasil, Lula optou por um passe de mágica que deve ter maravilhado seus intérpretes oficiais, os blogueiros que levam grana do governo. É como se o protagonista, completamente cercado pela polícia, ficasse invisível, ou voasse como um herói de história em quadrinho: shazam.
Ele decidiu ocupar um lugar no Olimpo. O interessante é que, ao contrário dos deuses que tudo sabem, Lula nunca sabe de nada. É uma figura mitológica que derrota o amante traído na disputa por ser o último a saber. Bakhtin tem uma outra visão da etimologia do carnaval. Ao contrário dos que dizem que é a festa da carne, amparando-se na palavra latina, Bahktin mostra que a raiz germânica indica para a expressão: procissão dos deuses mortos.
O fato de os dirigentes serem carnavalescos não intencionais não teria o poder de atenuar seus erros com um pouco de humor? Sei que muitos vão escrever: onde está a indignação diante de tudo que roubaram? Não há espaço para rir deles. Concordo com a indignação com a roubalheira porque ela representa sofrimento, e no caso da saúde, morte precoce para o povo brasileiro. O fato é que eles estão aí. Sérios ou engraçados, assaltariam o país de qualquer maneira. Um pouco de humor não atrapalha. Como dizia Vinicius de Moraes, a gente trabalha o ano inteiro, por um momento de sonho, para fazer a fantasia de rei, ou de pirata ou da jardineira.
O sonho de carnaval, na canção de Vinicius, acaba na quarta-feira. Mas nesse ponto concordo com Bakhtin: o carnaval é mais longo. Aí está o nó. O Brasil oficial vive o sonho de uma potência emergente, incessante redistribuição de renda, orgulha-se de sair no bloco bolivariano e rejeita quem insiste que já é Quarta-feira de Cinzas. No entanto, é um país decadente, que puxa para baixo a própria economia global, e está infestado de mosquitos do Aedes aegypti real ao tsé-tsé simbólico. Aqueles blocos que saem depois do carnaval são animados, ganham alguns minutos na TV, mas sabem que são efêmeros.
Os blocos oficiais parecem não saber. Não adianta gritar que o carnaval acabou. Eles não ouvem. Se ouvirem, daqui a alguns meses, vão responder como Dilma ao documento do FMI: “estou estarrecida”. Estamos estarrecidos há muito tempo. E não apenas com a situação econômica, mas com a gravidade da crise, com a perda de oportunidades nacionais, com o estado da imagem do Brasil no mundo, enfim essa longa lista de choros.
O carnaval demarca o tempo da alegria, um prazer com tempo para acabar, a finitude como a qualidade do próprio prazer. O bloco do governo não soube brincar. Confundiu festa e trabalho, realidade e fantasia, partido e país, dinheiro público e patrimônio. É um dos blocos que o carnaval popular rejeita. De um modo geral, são os que saem fantasiadas da cadeia, na Quarta-feira de Cinzas.
Mesmo na política carnavalizada, no entanto, nem tudo acaba na quarta-feira. Um japonês sem máscara vai bater o ponto na Federal de Curitiba, os processos correm, as línguas desatam, daqui a pouco, quem sabe, é domingo de Aleluia.
Demissões na Usiminas devem levar ao corte de 30 mil vagas

João Sorima Neto - O Globo
André Vital, de 34 anos, começou o ano de 2016 com a notícia que não queria receber. Na primeira semana de janeiro, o eletricista de manutenção, que há seis anos trabalhava na Usiminas, em Cubatão, cidade do litoral de São Paulo, foi demitido. Com o fim da produção de aço na unidade, anunciado em outubro passado, quatro mil funcionários — dois mil diretos e dois mil terceirizados — foram desligados até a semana passada. André estava na lista. Com a mulher desempregada e pai de dois filhos, de 2 e 7 anos, ele ainda ajudava os pais doentes com o salário de cerca de R$ 3 mil.
— Estou desorientado. Emprego na siderurgia está difícil. Começamos a economizar água, luz e telefone e também será preciso maneirar nas compras do supermercado. Vou contar com a indenização e o seguro-desemprego para me manter por enquanto — disse o metalúrgico.
A demissão de André e de metalúrgicos provocará uma espécie de efeito dominó sobre o emprego na região. Uma estimativa feita por José Nicolau Pompeo, economista e professor da PUC-SP, aponta que as 4 mil demissões na Usiminas, a maior empregadora da região ao lado da Petrobras, levarão ao fechamento de até 30 mil vagas, a curto prazo, nos nove municípios da Baixada Santista, incluindo postos na indústria, comércio e serviços.
Cinco cidades concentram os efeitos

Em cinco cidades — Santos, São Vicente, Praia Grande e Guarujá, além da própria Cubatão — os efeitos serão mais devastadores para o emprego, já que os trabalhadores da Usiminas moram principalmente nestas localidades. Em 2015, a crise no país fez a região perder 13 mil postos de trabalho, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o maior número desde 2002.
— Empresas que prestam serviços para a Usiminas já estão demitindo. E, com menos dinheiro circulando, farmácias, supermercados, restaurantes, lojas de roupas e sapatos e os consultórios de dentistas e médicos vão sentir o baque. É um efeito cascata que chegará a 30 mil postos de trabalho fechados a curto prazo na região — disse Pompeo.
Os comerciantes já sentem os efeitos. Antonio Teixeira tem uma empresa de distribuição de água em Cubatão e vendia cem mil litros por mês para seis prestadoras de serviços para a Usiminas. Como não tiveram os contratos renovados e estão demitindo, o fornecimento de água para estas companhias caiu para apenas mil litros por mês.
— Meu faturamento relacionado à Usiminas encolheu 90% — disse.
Teixeira, que também é presidente da Associação Comercial e Industrial de Cubatão, diz que as vendas do comércio local caíram 20% em janeiro. As demissões aumentaram a cautela dos consumidores, que já estavam ressabiados com a perda da renda causada pela inflação. A esperança de melhora é a injeção de mais de R$ 3 milhões por mês na economia local com a reativação do cartão do servidor da prefeitura, que oferecerá R$ 500 por mês para que funcionários públicos comprem no comércio local.
— Desde o fim do ano passado, criou-se um clima de insegurança por causa das demissões na Usiminas. Muita gente está deixando de comprar por medo de perder o emprego.
Dono de um restaurante que preparava 1.200 marmitas diárias a prestadores de serviços da siderúrgica, o empresário português Geraldo Adelino de Freitas disse que sua “produção” despencou desde o fim de 2015.
— Hoje forneço 130 marmitas. Dos meus 47 funcionários, tive que demitir 17.
Tombo na indústria e na arrecadação
A indústria da região já foi afetada. A Votorantim Cimentos informou que a unidade de Cubatão deixará de fabricar o produto. A empresa usa como matéria-prima a chamada escória, um subproduto da fundição de minério, produzida pela Usiminas. Sem o insumo, a unidade da Votorantim vai se transformar num centro de distribuição. Trinta pessoas estão sendo demitidas. A InterCement, do Grupo Camargo Corrêa, que também usa a escória da Usiminas, já pensa em alternativas para se manter funcionando. Uma delas é importar o insumo.
No Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista, todos os dias grupos de trabalhadores dispensados passam pelo setor de homologações. Empresas que prestavam serviços de manutenção ou forneciam peças à Usiminas estão engrossando a fila dos demitidos, diz o presidente da entidade, Florêncio Resende de Sá, o Sassá.
— Indústrias que tinham 800 funcionários hoje trabalham com 70. Nossa base, que era de 22 mil filiados no ano passado, já encolheu para 15 mil e continuamos perdendo gente — disse Sassá.
A entidade oferece atendimento médico, com cardiologistas, ginecologistas e pediatras, e mantém um laboratório de exames para seus filiados. Gasta R$ 220 mil por mês e depende da contribuição dos associados. Sassá diz que precisará rever o modelo.
A prefeitura de Cubatão começou a fazer as contas do efeito Usiminas na arrecadação. O PIB de R$ 5,7 bilhões vai encolher a partir de 2017, diz o secretário de governo, Fábio Inácio. Mas ainda não é possível estimar qual será a redução, diz ele, lembrando que Petrobras e Usiminas respondem por 53% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do município. Só a siderúrgica recolhe R$ 150 milhões ao ano:
— Com o fim da produção de aço, prestadoras de serviço vão recolher menos Imposto sobre Serviços (ISS). É um impacto gigantesco.
Inácio lembra que, se o polo industrial foi benéfico para a cidade em termos de arrecadação, trouxe problemas como poluição, devastação de manguezais, doenças e migração desordenada:
— Cubatão ficou conhecida como a cidade mais poluída do mundo no passado. O impacto negativo foi muito grande para a população e o município.
Agora, empresas de ônibus particulares, responsáveis pelo transporte de trabalhadores, já alertaram que vão reduzir pela metade as 450 linhas. A cooperativa de táxi reportou queda de 40% em seu movimento nos últimos meses.
A prefeitura e o sindicato tentaram negociar com a empresa, mas o secretário disse que ela se manteve inflexível. Procurada, a Usiminas informou que o ajuste no quadro de funcionários “tem como objetivo adequar a capacidade produtiva à realidade do mercado siderúrgico, que encontra-se progressivamente em queda”. As vendas de produtos siderúrgicos no mercado brasileiro, em 2015, caíram 16%.
Demitidos após mais de 20 anos na empresa
Entre os demitidos da Usiminas, há profissionais que trabalhavam na empresa desde antes da privatização, em 1993, quando ela ainda se chamava Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa). Com a crise no setor siderúrgico, acreditam que será difícil conseguir recolocação no mesmo segmento e pensam em alternativas. Em comum, todos pretendem cortar despesas e contam com o seguro-desemprego e a indenização para tocar a vida nesta fase difícil.
Davi Cordeiro (foto), de 50 anos, foi demitido em outubro após 26 anos na empresa. Técnico de manutenção dos fornos de coque, usado como combustível para os fornos de aço, ele soube que seu setor seria extinto com o fim da produção. Morador da cidade de Santos, já pensa em cortar despesas com lazer, como os restaurantes que costuma frequentar em São Vicente.
— Minha renda caiu pela metade, já que consegui me aposentar recentemente por causa da insalubridade do meu trabalho. Agora vou ter que cortar despesas e me adequar ao novo orçamento — diz ele, que vem de uma família de metalúrgicos. O pai trabalhou e se aposentou ainda pela antiga Cosipa e o irmão também foi funcionário da Usiminas.
Cordeiro diz que pretende procurar uma ocupação fora do segmento, já que o setor siderúrgico passa por uma crise:
— Não posso parar de trabalhar e quero fazer um curso para ser porteiro.
Osvaldo Almeida, de 49 anos, que trabalhava no tratamento de água da Usiminas, também tinha 26 anos e seis meses de siderurgia na empresa. Mora em Cubatão e ganhava R$ 3,2 mil. Espera se manter com o seguro-desemprego e a indenização, além de contar com o salário da mulher, que é enfermeira. Mas já sabe que o orçamento mais curto vai se refletir nas compras do mês e nos momentos de lazer.
— Mais da metade da minha vida foi na Usiminas — diz ele, que agora não sabe o que fará no futuro.
Estudante de engenharia civil, Marcos Aurélio Alves, de 40 anos, vai concluir o curso este ano na Unip na cidade de Santos. Só não sabe ainda como fará para pagar as mensalidades de R$ 1.200 neste semestre. Ele trabalhava como operador de ponte na Usiminas e foi cortado, perdendo o salário de R$ 2.200.
— Tenho duas filhas, e o salário de minha mulher, que é professora, vai para o sustento da casa. Vou ter que me virar para pagar o restante do curso — diz ele, que até agora só conseguiu arrumar um estágio não remunerado num escritório de engenharia.
Para sindicato, empresa oferece pouco

A Usiminas informou que, para minimizar os impactos das demissões, manterá os planos de saúde e odontológicos por três a seis meses. A empresa fez workshops de recolocação profissional e ofereceu contribuição previdenciária por mais três meses para empregados prestes a se aposentar. Também distribuiu cartas de recomendação e informou que fez o remanejamento interno de profissionais para áreas da usina que permanecerão operando.
“Esse conjunto de medidas supera o que é determinado pela lei e representa as possibilidades da Usiminas diante do cenário de profundos desafios vividos pela indústria do aço”, informou a empresa em nota.
Para o sindicato dos metalúrgicos, foi pouco.
— Não se fez a oferta de um Plano de Demissão Voluntária, que poderia dar uma ajuda extra aos trabalhadores — diz Florêncio Resende, o Sassá, presidente do Sindicato dos Siderúrgicos e Metalúrgicos da Baixada Santista.
Petrobras prepara mais uma redução de investimentos

O Globo
Um ano após ter recebido do governo a missão de resgatar a Petrobras do fundo do poço, Aldemir Bendine se prepara para conduzir a terceira leva de cortes de investimentos da estatal enfrentando resistências por todos os lados — inclusive em Brasília. O processo tem sido marcado por embates entre os interesses do governo, do Conselho de Administração, hoje independente, e da diretoria, composta em sua maioria por funcionários de carreira. No novo Plano de Negócios para o período de 2016 a 2020, em elaboração, a empresa prepara um pacote de investimentos em torno dos US$ 93 bilhões, diz uma fonte a par das negociações, o que representaria queda de 5% em relação à última versão do plano (2015-2019), de US$ 98,4 bilhões.
Mas a redução dos investimentos pode ser maior se a Petrobras conseguir pôr em prática seus planos de venda de ativos, que envolvem áreas de serviços em campos de petróleo, fábricas de fertilizantes, BR Distribuidora e Braskem. Não há modelo fixo. A estatal poderá vender empresas inteiras ou fatias no capital, mas quer que os sócios antecipem a parte da Petrobras nos investimentos em projetos. Nesse cenário, diz a fonte, o corte de investimentos poderia oscilar de 15% a 20%, o que levaria o valor total a algo entre US$ 78 bilhões e US$ 83 bilhões.
Risco estratégico com queda de reservas
Será a terceira redução dos investimentos da Petrobras em menos de um ano. Em junho de 2015, a estatal havia anunciado um volume de recursos de US$ 130,3 bilhões para os anos de 2015 a 2019. Em outubro, reduziu os aportes para os anos de 2015 e 2016 em US$ 11 bilhões. E, em meados deste mês, um novo corte: o plano 2015-2019 caiu a US$ 98,4 bilhões, no menor patamar desde 2007. Na prática, a Petrobras tende a se tornar uma empresa focada exclusivamente em petróleo, com ênfase no pré-sal, e deixará para trás a ambição de ser uma estatal com atuação em todo o setor de energia.
— As conversas estão acontecendo e há discussões acaloradas entre empresa e governo. E tudo pode mudar, até porque ainda não há uma data para anunciar os novos investimentos. Na última revisão do Plano de Negócios, a Petrobras queria investimentos entre US$ 15 bilhões e US$ 16 bilhões em 2016, mas venceu o governo, que conseguiu elevar para US$ 20 bilhões. Houve pressão do governo — diz a fonte, que não quis se identificar.
Segundo outra fonte a par das negociações do plano 2016-2020, as premissas para os próximos anos já indicam queda nos investimentos futuros. Quando o plano atual, de 2015 a 2019, foi elaborado, o câmbio e a cotação do petróleo estavam em patamar mais favorável para a empresa. A expectativa da estatal para o preço do barril este ano caiu de US$ 70 para US$ 45 — ainda alto em relação ao patamar atual, pouco acima dos US$ 30. Já o câmbio esse ano subiu de R$ 3,26 para R$ 4,06 — mas, com a instabilidade dos mercados, o dólar já chegou a bater R$ 4,24. Além disso, diz um executivo do setor, o novo plano buscará gestão mais eficiente, redução de custos e disciplina de capital.
— Desde que o plano foi feito, as premissas pioraram. Os investimentos vão cair mais. O viés é de queda. Mas é cedo para dizer quanto exatamente — destaca a fonte, que participa das discussões. — Bendine veio do mercado financeiro e busca retorno a curto prazo, o que é prejudicial para a companhia. Ele foca no plano de quatro anos, não olha o longo prazo. A diretoria apoia o plano de desmonte da Petrobras, mas isso não é o correto.
No conselho, há embates sobre isso. A Petrobras não pode voltar a ser apenas uma empresa de óleo e gás.
E é por isso que o plano de venda de ativos vem rendendo discussões acaloradas entre a diretoria e seu Conselho de Administração, afirmaram outras duas fontes do setor. No Planalto, a avaliação é que a gestão de Bendine vem garantindo a melhora da credibilidade da empresa. Na busca por caixa e na tentativa de reduzir seu nível de endividamento total, que está em R$ 506 bilhões, Bendine e os diretores querem vender participações de campos de petróleo, como os do pré-sal — os mais produtivos da estatal —, mas vêm esbarrando na negativa dos conselheiros, que alegam que uma queda do volume de reservas provocaria um “problema estratégico”. Na última sexta-feira, a estatal anunciou redução de 20% em suas reservas provadas, para 13,279 bilhões de barris de óleo equivalente.
Só pré-sal foi mantido, diz fornecedor
O presidente de um dos principais fornecedores no país de equipamentos submarinos para a Petrobras detalha o que está sendo feito:
— A Petrobras decidiu manter as encomendas apenas para o pré-sal. Mas mudou todo o cronograma. Por isso, o que antes seria para 2016 pulou para 2018 e 2019. O resto foi cancelado. E aí tivemos de demitir quase 50% de nossos funcionários para nos adequarmos a esse novo cenário.
É assim que Bendine — com salário de cerca de R$ 100 mil mensais — vem lidando com os desafios entre a relação de caixa e o endividamento para os próximos anos, enquanto acaba de aprovar um plano de reestruturação interno que vai permitir economia de R$ 1,8 bilhão por ano. A companhia tem hoje US$ 127,459 bilhões em financiamentos, dos quais US$ 66,794 bilhões vencem até 2019. O prazo médio de vencimento dos financiamentos é de 7,49 anos. Segundo uma fonte, o caixa da companhia está equacionado completamente até 2017.
— Depois, em 2018, já temos de 50% a 70% equacionado. O objetivo é melhorar o risco de crédito da companhia — explicou a fonte.
De acordo com um executivo, a Petrobras busca desenvolver um modelo de negócios que não passa somente pela venda de ativos. O objetivo é conseguir sócios para fazer os investimentos da própria Petrobras. Isso, segundo o executivo, permitiria à estatal desenvolver projetos, como alguns campos ou poços de baixa produtividade, que atualmente não estão sendo tocados pela escassez de recursos, destinados prioritariamente ao pré-sal:
— Um poço que hoje não tem prioridade como investimento, considerando a relação entre custo e benefício, pode ser vantajoso a uma determinada empresa produtora, de menor porte.
Procurada, a Petrobras não comentou a redução nos investimentos.
Pragmático que coleciona desafetos

"Você não vai fazer esta companhia dar um salto e trazer ela a um ponto de equilíbrio sem ser arrojado. Você tem que ser arrojado num momento como este. Se você começar com um excesso de prudência, nós vamos levar 20 anos para consertar esta companhia”. A frase dita por Aldemir Bendine entre amigos mostra como está sendo sua gestão: rígida para ajustar o mais rapidamente possível o rumo da companhia, que já encolheu de tamanho e vai encolher ainda mais. A Petrobras não vai mais “abraçar o mundo", afirmou o próprio presidente recentemente.
Bendine completa um ano no cargo no próximo dia 6. Neste período, marcado por desavenças internas, a empresa sentiu os efeitos do maior escândalo de corrupção de sua história, foi sacudida pela queda dos preços do petróleo e pela disparada do dólar. O executivo já discutiu com integrantes do Conselho de Administração, propôs reformas e é visto com desconfiança pelo corpo técnico devido ao plano de reestruturação, que inclui o fim de ao menos 30% dos cargos comissionados nas gerências.
— Bendine é do tipo que fala o que pensa. Em uma das reuniões do Conselho de Administração, após horas de discussão sobre a reestruturação interna, começou a se falar da renovação do patrocínio da Fórmula 1, proposta que ele defendia e foi recusada pelos conselheiros. Ao fim da reunião, Bendine saiu batendo a porta — disse uma fonte.
Nesse último ano, uma das principais brigas ocorreu com o então presidente do conselho, Murilo Ferreira — que renunciou ao cargo em novembro do ano passado. Foram vários episódios. O principal desentendimento entre os dois se referia ao processo de venda de 49% do capital da BR Distribuidora. Enquanto Bendine queria acelerar a operação, para que fosse realizada até outubro do ano passado, Murilo votou contra, por considerar que antes era necessário adotar uma série de medidas, como escolher um novo presidente para a subsidiária e elaborar um plano de negócios para a distribuidora.
Comunicação só por carta
Mas outra fonte lembra que havia também uma disputa de poder entre os dois:
— Antes de Bendine assumir a companhia, Murilo foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para comandar a estatal. Apesar de recusar a proposta, Murilo aceitou comandar o Conselho de Administração. E, com isso, ele queria ter direito de escolher o presidente da estatal. Mas isso não ocorreu. E havia uma briga de poder entre os dois.
Entre os funcionários, muitos apelidos e piadas: desde “Vendine” — em referência à venda de ativos — a “Cadê o presidente?”. Um funcionário lembrou que, diferentemente dos antecessores, Bendine não aparece em eventos internos, como as homenagens aos funcionários mais antigos. Há quem brinque dizendo que ele é TQQ (terça, quarta e quinta), numa alusão aos dias da semana em que ele daria expediente na sede da empresa no Rio.
Outros se referem a ele como TQ (terça e quarta). A piada ganhou força porque Bendine vem assumindo postura discreta, com raras aparições públicas. Além do Rio, ele costuma viajar para São Paulo, Brasília e Vitória.
— Ele sumiu. Ninguém o vê. Só se comunica via carta com os funcionários. Ele não aparece. A sensação que a gente tem é que não quer se “sentir” incorporado como parte do quadro funcional da companhia e que está aqui apenas para tomar algumas decisões e depois sair da empresa — disse um funcionário com 30 anos de Petrobras.
Para mostrar a pouca comunicação com os empregados, segundo outro funcionário, ninguém sabia que estava em estudo a venda de parte da Transpetro. Nem o presidente da subsidiária saberia dos planos, segundo fontes.
— A distância do Bendine com os empregados traz muita insegurança. Todos se perguntam se terá novas demissões. Basta entrar no elevador para ver alguém chorando porque foi demitido — disse outro funcionário.
Por outro lado, um executivo próximo destacou que, independentemente dos dias em que Bendine está na sede da empresa, o mais importante é como conduz as mudanças na estatal para corrigir seu rumo:
— Ele está longe de ser um mau executivo. Ele é pacifista e tem boa relação com o governo e os diretores. Ele chega e sai na hora. Detesta longas reuniões, é prático e objetivo.
Religioso e devoto
Ao assumir a Petrobras, Bendine, que era funcionário de carreira do Banco do Brasil (BB) e presidente do banco desde 2009, levou junto Ivan Monteiro, que até então era vice-presidente de Gestão Financeira no BB. Hoje, Monteiro é considerado peça-chave na reconstrução da companhia. Foi a dupla que conseguiu, em meio ao auge da crise de confiança devido à Operação Lava-Jato, publicar o balanço auditado da estatal referente ao ano de 2014 e, em seguida, divulgar o Plano de Negócios 2015-2019.
— A única pessoa que Bendine levou para a Petrobras foi Ivan Monteiro. Bendine nunca escondeu de ninguém que se assustou ao ver uma empresa com estrutura tão inchada. E, aos poucos, foi afastando alguns executivos que ocupavam cargos estratégicos em diversas gerências. Em seguida, começou a enxugar os quadros da empresa com a redução dos contratos de terceirizados — destacou uma fonte.
Religioso e devoto de Nossa Senhora Aparecida, Bendine também fez uma mudança que causou mais críticas. Em momento de corte de custos, ele decidiu fazer obras no 23º andar da sede (Edise) onde ficava a diretoria. Para isso, fez obras no Edifício Senado para abrigar os diretores. Agora, diz uma fonte, ninguém sabe onde a diretoria vai permanecer.
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