sexta-feira, 26 de agosto de 2022

'Por que Hollywood trata conservadores como simplórios e palhaços?', por Frank Furedi

 

Ilustração: Revista Oeste/Shutterstock


A Netflix está na vanguarda do projeto global de promover a política identitária no mundo


Você sabia que o Brasil é o terceiro maior mercado da Netflix em termos de receita e o segundo em número de assinantes? E sabia que a Netflix está na vanguarda do projeto global de promover a política identitária no mundo? Por exemplo, o recém-lançado Queer Eye Brazil tem como objetivo globalizar os típicos valores californianos, que consideram a chamada “heteronormatividade” um crime cultural.

Para a Netflix, o normal é retratar Jesus como um ícone homossexual, como na produção Primeira Tentação de Cristo, de 2019.

Cena do filme Primeira Tentação de Cristo, com Fábio Porchat e Gregório Duvivier | Foto: Divulgação

A empresa promove os valores da Califórnia no mundo todo, mas, claro, em particular nos Estados Unidos. Junto com as principais figuras da indústria norte-americana de entretenimento, ela idealiza constantemente a transgeneridade e vilaniza tacitamente a heterossexualidade. É por isso que, nos últimos anos, a ideologia trans tem aparecido sem parar nas telas de TV. Aliás, como uma jornalista da Salon celebrou recentemente: “O ano de 2021 foi extraordinário para tornar a não binariedade corriqueira […] mais inclusiva […] a cultura pop liderou o ataque para acabar com a binariedade de gênero”.

A identidade não binária em especial está sendo celebrada como um ideal cultural. Tipicamente, personagens não binários em filmes e programas de TV têm muito mais autoridade moral do que os heterossexuais e homossexuais. Nesse sentido, a série Sex Education é paradigmática. Na terceira temporada, a busca dramática por reconhecimento de Cal, estudante não binária, tem como objetivo mostrar que ideias tradicionais de gênero têm um impacto negativo nos jovens. Então a série se posiciona de modo a desacreditar conceitos tradicionais de sexo e gênero.

Personagens da série Sex Education | Foto: Divulgação

Vamos também considerar o personagem não binário Taylor Mason (interpretado por Asia Kate Dillon, que também se identifica como uma pessoa não binária na vida real) em Billions. Mason é a personificação da fantasia da elite cultural do que seria uma pessoa não binária. É a figura mais complexa, multidimensional e sensível da série. Trata-se de um personagem inteligente, perspicaz, enquanto os demais são extraordinariamente rasos, e seus relacionamentos, disfuncionais.

Série Sex Education | Foto: Divulgação


O apagamento de J. K. Rowling

Por milhares de anos, a distinção biológica entre masculino e feminino foi considerada um fato simples da vida. Mas não mais. De acordo com uma pesquisa da Rasmussen Reports, uma minoria significativa de norte-americanos rejeita a afirmação de que masculino e feminino são os únicos dois gêneros.

Enquanto 75% dos entrevistados concordam que existem apenas dois gêneros, 18% discordam. Eles podem ser uma óbvia minoria, mas, como proporção da população norte-americana, é uma quantidade considerável de pessoas.

Enquanto 75% dos entrevistados concordam que existem apenas dois gêneros, 18% discordam

Além disso, essa visão minoritária tem uma influência considerável na vida pública e nas políticas governamentais. Nos Estados Unidos, as pessoas podem mudar a identidade de gênero no passaporte sem documentação; atletas trans que nasceram homens agora podem competir em esportes femininos; as escolas expõem constantemente as crianças à ideologia trans. E tudo isso está acontecendo apesar da oposição popular.

As elites políticas e culturais da atualidade não apenas são indiferentes às opiniões da maioria sobre sexo e gênero: elas consideram essas opiniões ignorantes e preconceituosas. Na verdade, essas elites acreditam que têm a obrigação de educar e “aumentar a conscientização” de seus inferiores culturalmente analfabetos.

autora de harry potter
J. K. Rowling, criadora de Harry Potter | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação

A mídia, a academia e outras instituições culturais promovem incessantemente a ideologia trans. Nas sociedades ocidentais, as celebridades, as estrelas da mídia e os críticos detêm o monopólio de como o gênero é retratado. O especial muito divulgado da HBO Harry Potter 20th Anniversary: Return to Hogwarts é um exemplo. Por causa de suas opiniões sobre sexo e gênero, J. K. Rowling, criadora de Harry Potter, foi vergonhosamente excluída da programação e apareceu em apenas alguns fragmentos de imagens de arquivo. Isso efetivamente diz ao mundo que as opiniões de Rowling sobre sexo são inaceitáveis. Os membros do elenco dos filmes também foram mobilizados para promover a mensagem de que, se você ama Harry Potter, também deve se posicionar contra as crenças de Rowling.

O que é normal e o que não é

A Netflix e a indústria norte-americana de entretenimento sabem que seus valores californianos são muito diferentes dos ideais de acordo com os quais os brasileiros vivem. No entanto, elas consideram seu papel desafiar os valores tradicionais das pessoas e influenciar os jovens, em especial. Sua meta é subverter a identidade tradicional das pessoas e confundi-las, eliminando a distinção entre o que é normal e o que não é na condução da vida sexual.

Não é tarde demais para dar um basta a essa derrocada ao atoleiro da confusão identitária. A vasta maioria das pessoas está preocupada com o impacto nocivo da ideologia trans. O problema é que elas carecem de um meio para expressar suas preocupações. Em comparação com gigantes de mídia, como a Netflix, elas não têm voz. Ajudar a maioria a encontrar sua voz é um dos desafios mais importantes do nosso tempo.

Revista Oeste