terça-feira, 25 de agosto de 2020

"O 'efeito Halley', o dever de casa e a parceria chinesa com a Band e a Globo", por Renato Sant'Ana - Advogado e psicólogo

 

Nas redes sociais existe o que se pode chamar de "efeito Halley": certos conteúdos não param de viajar na WEB. Vão e voltam, sempre voltam.

Tanto a informação verdadeira quanto a falsa, o poema ingênuo que Drummond jamais escreveria, o inverossímil comentário de Shakespeare sobre consumismo, tudo vai e volta na facilidade de um clique.

Foi o "efeito Halley" que trouxe de volta a intromissão chinesa na mídia brasileira, só que, agora, para negar o inegável.

Tanto a Globo quanto a Bandeirantes assinaram, em novembro de 2019, "termo de cooperação" com o China Media Group, que, além de maior grupo de comunicação do mundo, é um braço do Partido Comunista Chinês.

Aí, alguém, nas redes sociais, por motivos insondáveis, atropelando os fatos, veio dizer "oh, isso já foi desmentido!". Não foi, não!

Veja a fonte! Em 11/11/2019, o site da própria Bandeirantes publicou matéria assinada por Tatiane Moreno, informando: "O Grupo Bandeirantes de Comunicação e o China Media Group assinaram nesta segunda-feira, 11, um acordo de cooperação."

Mais uma fonte em destaque! Em 14/11/2019, na Folha de S. Paulo, Nelson de Sá assim intitulou sua coluna: "Globo assina com gigante chinesa para coprodução e tecnologia 5G".

Há inúmeras outras fontes que poderiam ser citadas, mas já bastam essas duas: os dois grupos aliaram-se aos chineses para produção de conteúdo.

E qual é a gravidade da coisa?

Primeiro, é preciso entender que, nos regimes totalitários, "governo", "Estado" e "partido" se confundem, formando uma só maçaroca autoritária: é exatamente assim no macabro totalitarismo chinês.

O segundo item dessa equação é que o China Media Group é um órgão daquele regime, ou seja, um tentáculo do Partido Comunista Chinês.

O resultado é que, ao firmarem seus acordos, Globo e Bandeirantes não conveniaram com uma grande empresa, mas se aliaram à maçaroca ideológica que escraviza mais de um bilhão de chineses e quer escravizar o mundo.

Como não perceber a motivação da China para dominar a mídia doutros países? Quem é capaz de pensar e tem honestidade intelectual só precisa informação. Pois que falem os fatos!

Há poucos dias, na BandNews, Charles Tang, Presidente da Câmara Brasil-China, expressando-se com a desenvoltura de quem se sente em casa, não fez cerimônia para enaltecer a ditadura chinesa.

Meses atrás, os canais de TV da Globo e da Bandeirantes serviram de palanque para o agressivo embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming - que nos brindou uma linguagem rasteira e inadequada à diplomacia.

Exemplos atuais e passados mostram a China atropelando a soberania dos países (a mídia brasileira ignora, mas a tragédia da Argentina, neste momento, provocada por um governo pró-China, é desesperadora).

O comitê organizador da Copa do Mundo da África do Sul (2010) convidou o dalai-lama, líder espiritual do Tibete, para uma conferência de paz com Nelson Mandela e Desmond Tutu. Mas o governo sul-africano negou-lhe o visto de entrada: não houve a conferência de paz!

O governo sul-africano, presidido por Kgalema Motlanthe, admitiu que a negativa ocorreu para satisfazer a China: o atual dalai-lama, Tenzin Gyatso, representava a resistência do Tibete contra o imperialismo chinês, do qual, por sua vez, a África do Sul era refém.

Como ignorar a realidade? O assédio chinês é hoje, sim, uma ameaça à soberania do Brasil e às liberdades individuais.

Mas o "efeito Halley" vai trazer de novo a contrainformação para enganar os ingênuos. Entretanto, aquele que encara a vida com responsabilidade sabe qual é o dever de casa: reafirmar a informação.

Sua baliza ética se traduz numa frase (não importa se dita por Thomas Jefferson ou pelo advogado irlandês John Curran):

"O preço da liberdade é a eterna vigilância."

Renato Sant'Ana

Advogado e psicólogo. E-mail do autor: sentinela.rs@uol.com.br

Jornal da Cidade