Encerro hoje, um período de 14 dias de convívio com a contaminação da COVID-19.
Sustos, medos, incertezas, inseguranças, angústias e as mais diversas formas de pavor íntimo que a exposição real à doença e ao risco de morte inexoravelmente causam a qualquer humano.
Observadas as minhas condições pessoais, posso dar o testemunho de que não foram dias fáceis.
Nunca abandonei a fé, mas "amarrei meus camelos".
Tive toda atenção de competentes serviços de saúde. E, por minha livre vontade, optei por administrar o coquetel preventivo - no que fui respeitado e muito bem orientado por serviços médicos atenciosos e extremamente dedicados (tanto públicos como privados - já que não teve um dia que não recebi uma ligação dos médicos que me assistiram e do serviço de saúde do Município).
Integrei a minoria dos contaminados praticamente sem sintomas. E agora, integro a maioria dos recuperados sem sequelas.
A todo o tempo pedi a Deus que se alguém da minha família tivesse que ser escolhido para carregar esse fardo, que fosse eu. Fui atendido (embora minha mulher também tenha passado e superado seu drama)!
E dou graças pelas duas graças: a contaminação e a cura! Foi um tempo de crescimento, de revisão de valores, de perceber e lustrar o real sentido da vida, com a consciência plena das mais profundas responsabilidades de encarar a transitoriedade da existência como um incentivo para edificar uma obra.
Essa é uma experiência pessoal e intransferível que está muito longe de ser um manual de comportamento ou uma pregação.
Não pretendo desperdiçar mais nenhum momento dos dias que eventualmente (sim eventualmente) tenha pela frente para me dedicar aos valores que tem valores: o amor próprio, o amor à família, o amor ao trabalho e o compromisso com os semelhantes e o bem comum.
O sentido da vida pode se modificar ante uma dificuldade. Contudo, ele nunca pode deixar de existir.
Vejo o enfrentamento e a superação da doença como um triunfo.
Então o sofrimento deixa de existir, pois sofri, nos meus limites, com bravura.
Me irmano a tantos quantos passaram por essa situação.
Sobretudo aos que mesmo lutando, não sobreviveram. Eles e seus entes queridos também são bravos. Merecem nossa fraterna reverência.
Estou convencido que essa PANDEMIA é capaz de mudar o mundo e a cada um para melhor.
Isso é possível e necessário.
Agora é seguir em frente (com os rigorosos cuidados), buscando cumprir tudo aquilo que a vida espera de mim.
Luiz Carlos Nemetz
Advogado membro do Conselho Gestor da Nemetz, Kuhnen, Dalmarco & Pamplona Novaes, professor, autor de obras na área do direito e literárias e conferencista.
@LCNemetz
Jornal da Cidade