terça-feira, 18 de agosto de 2020

Energia solar no Brasil cresce mais de cinco vezes em dois anos; veja como funciona

Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), de 2018 para cá, a quantidade de MegaWatts de energia solar instalada no Brasil já cresceu mais de cinco vezes - deu um salto de 588,7 MW para 3 mil MW (ou 3 GW) até julho deste ano, o que representa uma variação de 410%. Atualmente, há 255 mil sistemas instalados no País, sendo que 72,4% do total estão em residências de pessoas físicas. 

Energia solar
Placas fotovoltaicas instaladas em residência em Alphaville, Barueri,
região da Grande São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

O fundador da empresa especializada SolFácil, Fábio Carrara, acredita que o interesse pela tecnologia, crescente nos últimos anos, só deve aumentar. “Desde 2015 e 2016, avança todo ano. A energia solar dá sensação de liberdade. O consumidor pode economizar, ter controle sobre o custo da energia dele”, diz. 

Como ter um sistema de energia solar em casa? 

O interessado vai contratar uma empresa especializada que vai calcular a quantidade de módulos fotovoltaicos, comumente chamados de placas solares, necessária para suprir a demanda energética do imóvel. Assim que esse estudo for concluído é feita a instalação do sistema, formado por duas partes principais: os módulos, cuja quantidade varia de acordo com a necessidade de energia, e o inversor. 

Como funciona o sistema de energia solar? 

Os módulos, geralmente instalados no telhado do imóvel, captam a luz solar para geração de energia - a fonte de geração de energia não é o calor do sol, mas, sim, a luz. 

A energia produzida pelos painéis está em corrente contínua, usada em pilhas e baterias de smartphones, por exemplo. As tomadas de uma casa, porém, utilizam corrente alternada. Quem faz essa conversão, de corrente contínua para corrente alternada, é o inversor, aparelho que trabalha junto dos módulos. Depois dessas duas etapas - a captação da luz solar e a conversão em corrente alternada -, a energia está pronta para uso. A distribuidora de energia da região participa de três etapas da instalação do sistema na residência: instala o relógio bidirecional, que vai medir o que entra e o que sai de energia elétrica no imóvel; faz a vistoria de regras de segurança; e a ligação do sistema. 

Em São Paulo, por exemplo, que presta esse serviço é a Enel-SP. A distribuidora, explica Fábio Carrara, da SolFácil, vai trocar o relógio da residência. Normalmente, o equipamento de medição de uma casa que recebe energia da rede só faz a leitura do que entra na residência. Quando se instala o sistema de energia solar, é necessário saber quanto do que foi produzido está sendo enviado para a rede da distribuidora como excedente. 

Há casos em que é necessário trocar o padrão de entrada, que faz a conexão da residência com a rede de energia, mas isso não mexe na fiação interna da casa. De acordo com o presidente executivo da Absolar, Rodrigo Sauaia, isso não é comum. 

Independentemente do consumo, o custo de utilização da rede de energia continua sendo pago. Além disso, caso a produção de energia pelo sistema solar não alcance a necessidade de consumo da casa, a diferença será paga, pois a energia disponibilizada pela distribuidora foi utilizada. Por exemplo, em uma casa em que foram utilizados 500 KW no mês e a produção ficou em 300 KW, a tarifa seria cobrada em cima dos 200 KW consumidos da rede. O custo de disponibilidade da rede custa entre 30 KW/h/mês, 50 KW/h/mês ou 100 KW/h/mês, confome o tipo da energia da casa - se é monofásica, bifásica ou trifásica. Como os consumidores residenciais costumam estar ligados à rede monofásica, o custo ficaria em 30 KW/h/mês. O valor varia de acordo com a distribuidora. 

Quanto custa a instalação de um sistema

de energia solar doméstico? 

De acordo com Rodrigo Sauaia, gerar energia pelos módulos é mais barato do que comprar pela rede. Porém, antes de se decidir pela mudança de geração o consumidor deve considerar o custo de instalação do sistema. “Nos últimos dez anos, o preço da tecnologia caiu mais de 85%. A energia elétrica vem aumentando, puxa a inflação, e a fotovoltaica cai”, afirma. “Além de ser mais barata, é limpa e sustentável.”

O custo de instalação do sistema varia de R$ 25 mil a R$ 30 mil para uma casa de tamanho médio a grande. Uma residência média brasileira, com quatro pessoas, com consumo em torno de 190 KW/h por mês, vai precisar de sistema que custa entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, segundo Sauaia. Com o sistema de energia solar, o valor pago pelo consumidor para a distribuidora de energia elétrica será reduzido em cerca de 80%, de acordo com a Absolar. 

Para quem não tem condições de fazer o investimento inicial à vista, há linhas de financiamento para a energia solar, com prazos que variam de 5 a 10 anos para o pagamento. Segundo a Absolar há cerca de 70 linhas de financiamento específicas para o setor, em bancos privados e públicos. 

Em quanto tempo o consumidor residencial 

consegue ter um retorno do investimento? 

O tempo de retorno estimado desse investimento fica entre 4 e 7 anos, segundo cálculos da Absolar. A durabilidade de todos os equipamentos, pela garantia, costuma ser de 25 anos. 

Como é feita a manutenção das placas solares? 

Segundo Rodrigo Sauaia, da Absolar, se o equipamento estiver em um bom ângulo de inclinação, a própria chuva se encarrega da limpeza das placas. As empresas que fazem a instalação do sistema também dão esse tipo de suporte. Depois de um período de 10 a 15 anos da instalação, será preciso fazer uma vistoria do inversor. Se for necessário trocá-lo, o custo fica em torno de 30% do total gasto no sistma, explica o especialista. 

Valorização do imóvel 

De acordo com especialistas, a tecnologia solar também ajuda a valorizar o imóvel em uma eventual venda. É possível, quando o morador mudar de casa, retirar o equipamento para instalação em outro imóvel, mas, pelo acréscimo no valor da propriedade por causa da tecnologia já instalada, pode valer a pena deixar o equipamento e comprar outro, até mais moderno, no próximo endereço, diz Sauaia. 

Felipe Siqueira , O Estado de S.Paulo