THE WALL STREET JOURNAL
Um grupo de jornalistas do Wall Street Journal e outros funcionários da Dow Jones enviaram uma carta nesta terça-feira (21) ao novo diretor de Redação do jornal, Almar Latour, pedindo uma diferenciação mais clara entre notícias e conteúdo editorial online, citando preocupações sobre a precisão e a transparência da seção de Opinião.
Assinado por mais de 280 repórteres, editores e outros funcionários, o texto diz: "A falta de checagem de fatos e de transparência de Opinião, e sua aparente desconsideração por evidências, minam a confiança de nossos leitores e nossa capacidade de adquirir credibilidade junto às fontes".
A carta cita vários exemplos de preocupação, como um artigo recente do vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, sobre as infecções do coronavírus.
Os autores da carta disseram que os editores publicaram os números de Pence "sem verificar as cifras do governo" e comentaram que o artigo, intitulado "Não há uma 'segunda onda' do coronavírus", foi corrigido mais tarde.
A mensagem dos jornalistas diz que muitos leitores não entendem que há uma divisão entre as operações da página editorial do WSJ, supervisionadas por Paul Gigot desde 2001, e a equipe de notícias, dirigida pelo editor-chefe Matt Murray. Ele foi um dos destinatários da carta.
O texto propõe rotular de forma mais destacada os editoriais e as colunas de opinião no site e em aplicativos de celular, incluindo a frase "As páginas de Opinião de The Wall Street Journal são independentes da Redação jornalística".
Também sugere retirar os artigos de opinião das listas de "artigos mais populares" e "vídeos recomendados" no site e criar uma lista separada a ser batizada de "mais populares em Opinião".
A carta propõe ainda que os jornalistas do WSJ não sejam repreendidos por escreverem sobre erros publicados em Opinião, "quer façamos essas observações em nossas reportagens, nas redes sociais ou em outros lugares".
A carta não contesta o direito de a página editorial oferecer suas próprias opiniões e análises. Uma porta-voz da Dow Jones e do WSJ não respondeu a pedidos de comentários.
Latour e Murray receberam anteriormente cartas de jornalistas que desejavam maior diversidade na Redação e manifestavam preocupações sobre práticas de contratação e a cobertura de questões raciais pelo WSJ.
Entre os exemplos citados na carta estava um artigo de opinião intitulado "O mito do racismo político sistêmico", que, segundo os autores da mensagem, foi um dos artigos mais lidos do jornal em junho.
O texto afirmava que "a acusação de preconceito sistêmico pela polícia foi errada durante os anos de Obama e continua errada hoje". A missiva diz que o artigo "apresentou fatos de forma seletiva e tirou uma conclusão errônea dos dados subjacentes".
Segundo a carta, muitos "funcionários não brancos se manifestaram publicamente sobre o sofrimento que esse artigo de opinião lhes causou durante discussões realizadas na empresa sobre iniciativas em torno de diversidade".
A mensagem também dizia que, se "a companhia fala seriamente sobre apoiar melhor seus empregados não brancos, no mínimo deveria elevar os critérios de Opinião para que não se publique desinformação sobre racismo". A missiva afirma ainda que "Opinião também publicou imprecisões factuais básicas sobre impostos", citando dois artigos específicos.
As páginas de Opinião tornaram-se recentemente tema de polêmica em Redações.
No início de junho, James Bennet deixou o cargo de chefe dessa seção no The New York Times depois de receber amplas críticas na Redação e nas redes sociais à publicação de um texto de opinião do senador republicano Tom Cotton, do Arkansas.
No artigo, o parlamentar pedia que a Casa Branca enviasse tropas federais às cidades para conter os distúrbios nos protestos que eclodiram após a morte George Floyd, um homem negro assassinado por um policial branco em 25 de maio.
Bennet foi substituído por Kathleen Kingsbury, hoje editora interina da página de editoriais do Times.
Bari Weiss, uma conhecida articulista e uma das editoras da seção de Opinião do Times, demitiu-se em 13 de julho. Ela escreveu em seu site que foi perseguida por colegas e que seu trabalho e seu caráter foram "abertamente menosprezados em canais da empresa no aplicativo Slack, nos quais os principais editores do jornal normalmente expressam suas opiniões".
Uma porta-voz do Times disse à época que o jornal "se compromete a promover um ambiente de diálogo honesto, franco e empático entre colegas, em que o respeito mútuo é exigido de todos".
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves