sábado, 18 de agosto de 2018

"Petros é exemplo de descalabro na gestão de fundos", editorial do Estadão

A reportagem do Estado de domingo sobre o fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros) é exemplo do custo, para a estatal e seus empregados, da gestão temerária dos recursos de uma entidade previdenciária praticada na era lulopetista. Os critérios políticos predominantes nos governos de Lula e Dilma no emprego dos recursos aplicados provocaram uma investigação criminal – objeto da Operação Greenfield, da Polícia Federal –, constatou o economista Walter Mendes, que há dois anos assumiu a diretoria da Petros.
A Petros é o segundo maior fundo de pensão do País, com ativos de quase R$ 72 bilhões em fevereiro e com quase meio milhão de beneficiários, entre participantes ativos, dependentes e assistidos. O rombo de R$ 28 bilhões no plano PPSP, o mais antigo da Petros, é da ordem de 40% dos ativos totais, o que dá uma ideia das dimensões do problema.
Vultosas aplicações foram feitas pela Petros em empreendimentos duvidosos, como na Sete Brasil, que construiria sondas para explorar petróleo do pré-sal. Outras operações são investigadas por sobrepreço e a Petros pretende ser indenizada pelos gestores que fizeram o negócio.
A cobertura do rombo total da Petros será feita em 18 anos, com aportes adicionais da Petrobrás e de participantes. Empregados na ativa ou participantes dos planos de previdência farão aportes duas a três vezes maiores do que pagavam. Os fundos de pensão são parte relevante do patrimônio pessoal dos empregados. Na Petros, tardiamente os participantes tomaram consciência de que a gestão temerária os afetaria diretamente.
Para que os problemas da Petros não se repitam no futuro, foram revisados todos os investimentos do fundo e criadas regras para a gestão despersonalizada e para a blindagem dos recursos contra decisões de cunho político. Não é tudo, mas parte do caminho para sanear o fundo. “A melhor defesa é a transparência”, diz Mendes.
Problemas vistos na Petros se agravaram nas administrações petistas. Outros fundos estatais como Postalis, dos Correios, e Funcef, da CEF, também foram atingidos. A queda de juros e as oscilações do mercado acionário dificultam correções. As incertezas políticas e a crise que afeta os emergentes exigem rigor na gestão de recursos. É o desafio dos gestores de fundos, notadamente de longo prazo.