sexta-feira, 24 de agosto de 2018

"Conspirações eletrônicas", por Nerlson Motta

O TSE assegura a segurança do nosso sistema de voto eletrônico: são várias camadas de códigos, virtualmente inquebráveis. Serão?

Até já me diverti muito com elas, mas hoje não acho mais graça em teorias conspiratórias, que são superadas pela espantosa sucessão de desastres reais que não precisam de conspiradores; são resultado de ignorância, fanatismo, sectarismo, ódio, ressentimento, autoritarismo, intolerância, ou tudo junto. Só duas coisas são infinitas, o universo e a estupidez humana, assegurava Einstein.

Campanhas presidenciais são terreno fértil para conspirações delirantes, mas, com o avanço da tecnologia — que aumenta a segurança dos dados, mas também fornece novas ferramentas para invadi-los —, se tornaram uma ameaça real.

Uma réplica da base de dados oficial de recente eleição estadual americana foi invadida por um hacker de 17 anos, em dez minutos, e ele nem se achava um bom hacker. Deu no “New York Times”. Foi em eventos patrocinados pelo Partido Democrata e agências governamentais, para testar a segurança dos sistemas e formas de aperfeiçoá-los. Como estava, era vulnerável a fraudes capazes de decidir eleições.

Muita gente começa a achar que já pode ter acontecido nas últimas eleições presidenciais. Junto com a descoberta de hackers russos invadindo bases de dados do Partido Democrata (e certamente do Partido Republicano), uma conspiração teórica se tornou prática.

Aqui, o TSE assegura a absoluta segurança do nosso sistema, diz que são várias camadas de códigos, virtualmente inquebráveis. Serão mesmo? Cresce a pressão pelo voto impresso como fonte confiável da vontade do eleitor. Sim, o impresso pode abrir espaço para venda de votos, como um recibo de prestação do serviço. Sonho com o dia em que votaremos de casa pela internet e só nós teremos a senha.

Enquanto isso, nos Estados Unidos, que estão mais avançados em tecnologia da informação e segurança de dados (mas até o sistema do Pentágono já foi invadido ), os melhores hackers das melhores universidades estão trabalhando dia e noite com partidos e agências do governo. No Brasil, tudo sob controle, só não se sabe de quem.

 

O Globo