quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A denúncia de Janot contra Ciro Nogueira por propina de R$ 2 milhões

Fausto Macedo, Julia Affonso e Mateus Coutinho - O Estado de São Paulo

Leia a íntegra da acusação do procurador-geral da República contra o senador do PP do Piauí por suposto recebimento de valores ilícitos da UTC Engenharia

Ciro Nogueira. Foto: Lia de Paula/Divulgação
Ciro Nogueira. Foto: Lia de Paula/Divulgação

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciou ao Supremo Tribunal Federal o senador Ciro Nogueira (PP/PI) por ‘solicitar e receber propina no valor de R$ 2 milhões da UTC Engenharia, com base em promessas de favorecer a empreiteira em obras públicas de responsabilidade do Ministério das Cidades e do Estado do Piauí’.
As informações foram divulgadas no site da Procuradoria nesta quarta-feira, 16.
Segundo a denúncia, ‘Ciro Nogueira fazia parte do grupo de liderança do Partido Progressista que participava do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro relacionado à Diretoria de Abastecimento da Petrobrás’.
O suposto pedido de propina de Ciro Nogueira foi relatado em colaboração premiada do presidente da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa, ‘e confirmado por provas incluídas na denúncia’.
A acusação diz que, entre fevereiro e março de 2014, o valor de R$ 1,4 milhão foi entregue na residência do senador, ‘diretamente a um de seus auxiliares, Fernando Mesquita de Carvalho Filho, também acusado na denúncia’.
O dinheiro em espécie teria sido repassado pelo doleiro Alberto Youssef, que gerenciava a contabilidade paralela da empreiteira. Youssef é delator da Lava Jato.
Segundo as investigações, a outra parte da propina, no valor de R$ 475 mil, foi paga entre agosto e dezembro de 2014, por meio de contrato fictício de prestação de serviços advocatícios entre a UTC Engenharia e o escritório Hughes & Hughes Advogados Associados, representado por Fernando de Oliveira Hughes Filho, acusado na denúncia juntamente com o advogado Sidney Sá das Neves.
“A utilização de contrato fictício, seguida de transferências bancárias, saque e entrega de dinheiro ‘vivo’ ao beneficiário final tinha por objetivo não deixar rastros”, diz a denúncia.
A acusação também sustenta que, ao longo de 2014, ‘Ciro Nogueira recebeu pelo menos o valor de R$ 1,64 milhão em valores em espécie e posteriormente depositou ou recebeu depósitos de parte dessa quantia de forma pulverizada em suas contas bancárias pessoais, como estratégia para evitar a identificação dos depositantes e a comunicação das operações ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), o que acabou de fato ocorrendo’.
Pedidos – A denúncia oferecida no Inquérito 4074 pede a condenação de Ricardo Pessoa pelo crime de corrupção ativa e dos outros envolvidos, incluindo o senador Ciro Nogueira, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O procurador-geral também quer a decretação da perda em favor da União dos bens e valores objeto de lavagem de dinheiro no valor de R$ 2 milhões e mais a reparação dos danos materiais e morais no valor de R$ 2 milhões. Janot pede, ainda, a decretação da perda da função pública para os condenados detentores de cargo ou emprego público ou mandato eletivo.
COM A PALAVRA, O SENADOR CIRO NOGUEIRA (PP/PI)
A reportagem tentou contato por celular com o senador Ciro Nogueira na noite desta quarta-feira, 16. As chamadas não foram atendidas. O espaço está aberto para a manifestação do senador.