DANIELA LIMA - Folha de São Paulo
A saída da crise econômica em que o Brasil mergulhou é o que vai "credenciar" e dar "legitimidade" ao governo do hoje presidente interino, Michel Temer. O diagnóstico foi feito à Folha por Moreira Franco, auxiliar e amigo pessoal do peemedebista.
Escalado para reformular e destravar o programa de concessões do governo, Moreira diz ainda que, num balanço dos primeiros cem dias da gestão Temer, o saldo é positivo, embora insuficiente.
"Nós tínhamos que gerar boa expectativa e geramos, mas isso só se conclui com o fim da transitoriedade", diz.
Para ele, a superação do processo de impeachment de Dilma Rousseff será decisiva para o governo deslanchar. A avaliação é também uma resposta a setores do empresariado e até mesmo da base aliada que cobram mais austeridade da equipe econômica.
"O modelo legal para a solução desse problema [o impeachment] gera, por si só, uma insegurança institucional enorme. Ele impõe a existência de dois chefes de Estado convivendo na mesma cidade. Isso não acontece em lugar nenhum do mundo, só no Vaticano. E, mesmo lá, os dois rezam juntos", afirma Moreira Franco.
"O processo [de impeachment] é longo, muito longo. Espraia o sentimento de interinidade não só no presidente Temer, mas também na economia", completa.
A tentativa de recuperar a economia se tornou a locomotiva da gestão Temer e é a principal aposta do núcleo mais próximo a ele para viabilizar um projeto para a sucessão presidencial de 2018.
"A força do governo e a pacificação da sociedade serão proporcionais à tranquilidade que será construída pela adoção de políticas econômicas corretas e adequadas ao nosso problema, que é fiscal", diz Moreira, que chefia a secretaria-executiva do PPI (Programa de Parcerias de Investimentos).
CIÚMES
Tamanho holofote na área econômica abriu não só um flanco de cobranças por resultados, mas também de incômodo entre partidos aliados que almejam lançar candidatos à sucessão de Temer —o PSDB lidera esse grupo.
"Se avaliarmos o ambiente econômico sob o viés eleitoral, vamos repetir os fenômenos dos governos Sarney e Dilma", afirma Moreira Franco.
Os tucanos têm dois alvos. Primeiro, o próprio Temer, que conta com projeções otimistas de ministros sobre sua chance de se reeleger.
Logo atrás está o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, também é visto como presidenciável.
"As pessoas acham que podem repetir Fernando Henrique [que ganhou popularidade como ministro da Fazenda no Plano Real]. Não é assim. FHC tinha um partido, uma tradição eleitoral, não era um neófito", diz Moreira.
"Ele também tinha amigos no PMDB e teve papel relevante nas Diretas Já e na eleição de Tancredo Neves. As pessoas têm de ter serenidade."
A desconfiança precoce em setores da base aliada indica um caminho de dificuldade na negociação para aprovar o ajuste fiscal, caso a previsão de que Temer se consolide no cargo se confirme.
"Todos precisaremos de sensibilidade. Cada um vai ter que assumir sua parcela de responsabilidade. A meta é a economia, e o mantra é combater a gastança", diz.
"Ou ele [Temer] se dedica à economia ou se dedica à questão eleitoral. Diante da crise, esse dois papéis são incompatíveis. E ele vai se dedicar a fazer história."