Um amigo me procurou para falar de como, de repente, foi acometido de uma incontrolável necessidade de escrever ficção. Mas seu trabalho em importante escritório de advocacia não lhe dá tempo para isso. Como me julga uma autoridade no assunto, perguntou-me o que fazer. Respondi que, se essa necessidade for mesmo incontrolável, nada o deterá —ele jogará tudo para o alto, carreira, família, e se tornará escritor.
Se bom ou mau, só se saberá quando publicar seu romance ou livro de contos —se chegar a publicá-lo.
Mas nada o livrará de ter de lutar minimamente pela subsistência, e o ideal seria achar um emprego compatível com a criação literária. Daí, sugeri-lhe aquele que, segundo William Faulkner, autor de "Santuário", era o emprego ideal para um escritor: o de gerente de bordel.
É um lugar, disse Faulkner, onde se pode dormir (quartos não faltam), comer e beber no emprego. Não há muito que fazer - no máximo, cuidar de que os impostos sejam pagos em dia e ir mensalmente à delegacia para contribuir com o fundo de pensão da polícia. O bordel é sossegado pela manhã, que é a melhor hora para escrever. À noite, a vida social é intensa, e o sujeito pode participar dela, se quiser. Além disso, tanto os clientes quanto as meninas são potenciais fornecedores de material para seu livro.
É também um emprego, continua Faulkner, que garante ao sujeito um relativo status em sociedade. Todos os inquilinos da casa são mulheres e o tratam com deferência. Idem quanto aos fornecedores de bebida, que dependem do seu aval sobre as falsificações. E o próprio delegado será alguém a quem ele poderá chamar pelo apelido ("Bolão") e até dar tapinhas na barriga.
Faulkner não disse, mas o risco nessa história é o sujeito se apaixonar pelo emprego e desistir da literatura. O que talvez não seja má ideia.