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O pastor e empresário Bruno Garcia com a mulher, Gisele, e as filhas Gabrielle, 2, Giulia, 8, Caroline, 6 |
ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE NOVA YORK
Folha de São Paulo
DE NOVA YORK
Folha de São Paulo
O pastor e empresário paulista Bruno Garcia, 36, viu o alerta em seu relógio da Apple: "E-mail da Casa Branca". Achou que era propaganda. Era o presidente Barack Obama.
"Querido Bruno", começava a mensagem enviada na segunda-feira (8) pela equipe do mandatário e assinada por Obama, com timbre de sua residência.
"Suspeito que mais do que minha Presidência, são o otimismo e o trabalho duro de pessoas como você que mudaram nosso país para melhor", dizia o texto.
Compartilhada por Garcia no Facebook, a resposta viralizou na internet.
Há duas semanas, o paulista entrou no site da Casa Branca e selecionou a opção "fale com o presidente". Tinha acabado de assistir ao discurso de Obama na convenção democrata, na Pensilvânia, e gostou do que viu.
"Ele dizia que entregaria o país melhor do que quando chegou. Vivi todos os oito anos do governo dele. Aí disse: sr. presidente, tudo o que falou é verdade", afirma à Folha.
"Como imigrante, quero agradecer pela oportunidade, pelo respeito e por ter me aberto as portas." Garcia e a mulher, a bióloga Gisele, 40, mudaram-se para Parkland (Flórida), cidade vizinha a Miami, em 2007, princípio da crise americana e época de bonança brasileira.
A vida no país natal era boa, "com casa própria", mas o sonho de morar nos EUA falou mais alto. O começo não foi fácil. Ele não falava inglês muito bem e sentiu na pele "a subvalorização e o preconceito" de ser um latino na nova casa.
Trabalhou numa empresa de detetização e, sem domínio do idioma, passou sufoco no primeiro mês de trabalho. "Fui jogar veneno numa janela, e o exaustor do ar-condicionado ligou. Um pouco do spray voou na janela de uma mansão", lembra.
"O técnico da dedetização, americano filho de italianos, soltou um palavrão sonoro... 'Esses malditos latinos'."
Eventualmente, estudou na Universidade Metropolitana da Flórida, aprendeu inglês e montou seu próprio negócio: um lava-jato.
"Eu, que não lavava nem meu próprio carro no Brasil, passava de casa em casa nas mansões de Boca Raton [cidade da Flórida] para fazer polimento em domicílios."
Pastor da igreja evangélica Renascer em Cristo, conciliou o atendimento espiritual a famílias locais com novo empreendimento, uma agência de turismos que abriu em Miami –entre os clientes brasileiros, o pastor e senador Magno Malta (PR-ES) e o funkeiro MC Biel.
Em 2011, a família trocou a Flórida por Nova York, cidade natal de um possível sucessor de seu ídolo político, Obama.
A retórica anti-imigração do presidenciável republicano, Donald Trump, dá calafrios em Garcia, que ainda busca se naturalizar no país onde nasceram suas três filhas: Giulia, 8, Caroline, 6, e Gabrielle, 2.
"A loucura dele é perigosa. Traz um discurso de divisões, e isso não cabe a um país tão eclético, tão culturalmente denso e importante para a paz no mundo."
O mais provável é que a carta que Obama lhe enviou tenha sido escrita por um assessor. Garcia diz que não liga. "Me senti honrado. Pode ser que muitos não deem o devido valor, mas os EUA onde vivo hoje são muito melhores do que o país no qual cheguei nove anos atrás."
Ainda que de forma velada, a missiva do presidente tem um quê eleitoral e faz crítica discreta ao rival da candidata de seu partido à Casa Branca, a democrata Hillary Clinton.
A estratégia de Trump vem sendo retratar uma nação à beira do precipício econômico e cercada de inimigos externos, do imigrante latino que rouba empregos ao terrorista islâmico que explode bombas.
Escreveu Barack a Bruno: "A América ainda enfrenta muitos desafios, e nosso sucesso não é inevitável. Ele vai depender de todas as pessoas levantando suas vozes, rejeitando a noção cínica de que progresso não é possível e garantindo que nossa política reflita o melhor de nós".