sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

'Só há o comunismo de IPhone', por Fávio Gordon

 

Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock


Com a provável exceção dos idiotas úteis, os comunistas de destaque foram sempre consumidores vorazes da Nike, do Rolex, do vinho Romanée-Conti, das viagens a Paris e das lagostas


“O maior privilégio da elite dirigente não consiste nos altos salários
pagos aos seus integrantes, mas na existência de toda uma
rede exclusiva de lojas, hospitais, sanatórios e
estabelecimentos que lhes provê —
e a ninguém mais — com bens e serviços.
Nenhum desses benefícios ou privilégios é pago pelos
membros da casta dirigente do seu próprio bolso;
é o orçamento público ou o tesouro do partido que banca tudo.”
Konstantin Simis, URSS: A Sociedade Corrupta — O Mundo Secreto do Capitalismo Soviético

“Ora, por que você fez isso? Não precisava se incomodar. Não comemos essas ‘coisas da cidade’, você sabe.” Essas foram as palavras constrangidas que o advogado e dissidente soviético Konstantin Simis ouviu do casal de amigos que o havia convidado para o jantar. A “coisa da cidade” em questão era um bolo comprado numa confeitaria comum, que, fiel à regra de etiqueta de não chegar à casa dos outros de mãos abanando, a mulher do convidado insistira em levar, muito embora soubesse que, ali naquela casa, o item não faria sucesso.

Inicia-se com esse relato o livro URSS: A Sociedade Corrupta – O Mundo Secreto do Capitalismo Soviético (1982), no qual Simis faz uma radiografia da sociedade soviética de classes, uma sociedade na qual, via mercado negro e corrupção, os altos quadros do governo, do partido e do funcionalismo público — da Nomenklatura, em suma — tinham pleno acesso a produtos importados, finos e exclusivíssimos, enquanto o restante da população padecia na escassez do racionamento planejado, com parco acesso a mercadorias locais de baixa qualidade. O anfitrião do casal Simis integrava a Nomenklatura, condição que, justamente, lhe permitia rejeitar as “coisas da cidade” e optar por consumir apenas as “coisas do Kremlin” — mercadorias adquiridas em lojas privadas de acesso exclusivo à elite do Partido Comunista. Nas palavras do autor: “A elite dirigente não tinha apenas as suas lojas; tinha sua própria agência de ingressos para teatro, suas próprias livrarias (nas quais se achavam livros raros) e suas próprias farmácias (que vendiam remédios importados inexistentes nas farmácias ordinárias). Tudo isso permitia-lhe gozar de vantagens materiais inacessíveis aos cidadãos comuns. Com efeito, qualquer coisa ligada aos governantes era exclusiva e separada”.

Livro URSS: A Sociedade Corrupta – O Mundo Secreto do Capitalismo Soviético (1982) | Foto: Divulgação

Em 1936, no livro A Crise da Democracia, o austromarxista Otto Bauer já denunciara o surgimento de uma classe dominante e economicamente privilegiada na URSS, formada pela cúpula do Partido Comunista local. E também Milovan Djilas, em A Nova Classe (1957), descrevera a oligarquia economicamente privilegiada composta dos membros do Politburo do Partido Comunista Iugoslavo. É esse o padrão em todos os regimes socialistas conhecidos, que, de fato, costumam realizar uma notável transferência de recursos: das mãos do cidadão comum para as da Nomenklatura. O único marxismo existente na prática é, portanto, aquele por meio do qual a propriedade privada dos mais pobres é expropriada e entregue aos mais ricos, os mandatários do regime e seus amigos.

Recordo-me, a propósito, de uma reportagem do Estado de S. Paulo sobre a vida luxuosa dos filhos da elite chavista. Na Venezuela, enquanto a população faminta cata lixo para comer nas ruas, a casta dirigente bolivariana esbanja riqueza. Assim é, por exemplo, o modo de vida de María Gabriela, filha mais velha de Hugo Chávez, que, segundo a revista Forbes, esconde uma fortuna de US$ 4 bilhões em bancos norte-americanos e europeus. Da caçula Rosinés, estudante da Sorbonne (em Paris!), que em 2012 publicou no Instagram uma foto segurando um leque de notas de dólar. Da socialite Daniella Cabello, filha de Diosdaldo Cabello, braço direito de Maduro e chefão do narcotráfico na Venezuela (e que, em 2015, em visita não oficial ao Brasil, foi recebido duas vezes pelo companheiro Lula). De Nicolasito, filho do atual ditador, flagrado numa festa luxuosa dançando sob uma chuva de notas da moeda norte-americana. E, por fim, do próprio ditador Maduro, cuja presença roliça e indecente num restaurante chique de Istambul, onde se fartou de carne (e sangue), foi uma escarrada no rosto de um povo faminto e massacrado.

Fidel Castro viveu sempre como paxá em meio a um povo miserável

As coisas não foram diferentes em Cuba, onde Fidel Castro viveu sempre como paxá em meio a um povo miserável. É o que relata, entre outros, Juan Reinaldo Sánchez, ex-segurança de Fidel, no livro A Vida Secreta de Fidel: as Revelações de Seu Guarda-Costas Pessoal. “Em contradição com o que sempre disse, Fidel jamais renunciou ao conforto capitalista nem optou por viver em austeridade” — escreve Sánchez. “Ao contrário, o seu modo de vida era o de um capitalista, sem nenhuma espécie de limite. Nunca acreditou que os seus discursos o obrigassem a levar a vida austera de todo revolucionário que se preze: nem ele, nem Raúl jamais cumpriram os preceitos que pregavam aos seus compatriotas.”

Fidel Castro, ditador cubano, em 1989 | Foto: Shutterstock

A mesma realidade é observada na China, onde os membros da elite comunista são todos bilionários, servindo-se de redes offshore para ocultar o próprio patrimônio, conforme revelou o escândalo dos Panama Papers. E no Brasil, onde o autoproclamado “partido dos trabalhadores”, sob o comando do descondenado (e novamente proclamado presidente pelo tribunal companheiro), protagonizou o maior escândalo de corrupção da história mundial, saqueando as estatais para sustentar não apenas os luxos, mas, sobretudo, o projeto totalitário da companheirada, tanto em casa quanto no exterior.

Eis por que nunca tenha apreciado a retórica irônica com que, no campo liberal-conservador, muitos insistem em apontar uma pretensa contradição entre comunismo e riqueza material, ironia materializada em perguntas do tipo “Onde já se viu comunista de iPhone?”. O episódio mais recente a ser objeto desse raciocínio foi o da jovem comunista, do Movimento de Mulheres Olga Benário, que liderou a invasão de um supermercado em Fortaleza, e que, ato contínuo, foi flagrada nas redes sociais em fotos românticas com o namorado em Paris. “Comunista passando férias em Paris? Por que não Cuba?” — foi o comentário geral nas redes, o mesmo de sempre.

Compreende-se o objetivo dos que, ao destacar esses fatos, pretendem denunciar a hipocrisia socialista e a sua total desconexão entre discurso e prática. Ocorre que, agindo assim, acabam reforçando a mitologia autolisonjeira da esquerda, segundo a qual o comunista “verdadeiro” — em contraste com o comunista “de iPhone” — é um sujeito abnegado, ascético e avesso aos luxos capitalistas. Mas, se é verdade que os episódios citados talvez indiquem um descompasso entre o discurso e a prática dos comunistas, por outro lado eles correspondem fielmente à experiência histórica comunista.

María Gabriela Chávez, filha de Hugo Chávez | Foto: Reprodução Instagram

Ora, com a provável exceção dos idiotas úteis da arraia miúda militante, os comunistas de destaque, os que chegaram ao poder e marcaram presença real na história, foram sempre consumidores vorazes do iPhone, da Nike, do Rolex de ouro, do vinho Romanée-Conti, das viagens a Paris, das carnes de primeira, das lagostas, dos iates, das dachas luxuosas, e assim por diante… Foi assim na URSS, na China, na Coreia do Norte, nos países africanos, em Cuba, na Venezuela, no Brasil do lulopetismo, e onde quer que um partido comunista tenha chegado ao poder, fomentando um ambiente de corrupção institucionalizada e capitalismo de compadrio. Só há, portanto, o comunista de iPhone, e qualquer outro não passa de idealização, quer na cabeça dos entusiastas, quer na dos críticos.

Leia também “A misantropia da elite globalista”

Revista Oeste

'As lições de 1940 para 2023', segundo Ana Paula Henkel

 


Gary Oldman, como Winston Churchill, no filme Darkest Hour | Foto: Divulgação


Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos


Não foi apenas todo o ano de 2022 do brasileiro que foi conturbado, o final do ano foi um caos. Eleições nada transparentes, sistema eleitoral comprometido com juízes ativistas que, claramente, favoreceram um candidato corrupto, inconstitucionalidades sendo chanceladas por ministros com o “novo normal jurídico”… A lista de absurdos no Xandaquistão aumenta em uma velocidade alarmante. Sem contar as semanas de “Sobe a rampa. Não sobe a rampa”.

Mas e aí? Como entraremos em 2023? Sento-me para escrever o último artigo de 2022 e penso: esta edição sairá no dia 30 de dezembro de 2022, mas o que será do dia 31? O ex-presidiário vai subir a rampa? O presidente Bolsonaro acionará algum artigo constitucional para restabelecer as leis e a ordem no país, destruídas por militantes da Suprema Vergonha?

Ninguém sabe. Ok, mas então o que podemos levar para o ano que está para nascer já com medo de nascer velho, se não sabemos o que esperar desse parto? Creio que entraremos em rota de inúmeros medos e também certezas que são de arrepiar. Aquelas que, se concretizadas, trarão o período mais nefasto da nossa história. A pior gangue política que o Brasil, quiçá o mundo, já viu e agora de volta à cena do crime com requintes de crueldade e vingança.

Saio do computador. Faço um café e volto. Não posso encerrar o ano escrevendo um texto “para baixo”, apesar do cenário devastador sendo pintado — com ou sem rampa para o ex-presidiário. Mesmo nesse tabuleiro do medo sendo formado, precisamos arrancar as lições de tudo o que passamos até aqui, de tudo o que foi dito e feito desde 2018. Um ciclo presidencial se fecha automaticamente, e as lições agora se abrem para o aprendizado. E elas não são poucas.

Seria impossível desenrolar todas as nuances dos eventos dos últimos quatro anos e tocar em suas cicatrizes, para o bem ou para o mal. Nesta semana, a conexão do que passamos no Brasil foi me apresentada através de uma obra do cinema que retratou páginas inesquecíveis da história da humanidade. É impressionante como exemplos de líderes em certos eventos, até cronologicamente distantes do mundo atual, podem ressoar de maneira profunda até hoje.

Líderes políticos se reúnem para um retrato no topo da Cidadela de Quebec durante a segunda Conferência de Quebec em Quebec, Canadá, em 19 de agosto de 1943. No sentido horário, a partir do canto superior esquerdo estão: Primeiro Ministro canadense Mackenzie King; Primeiro Ministro Winston Churchill; o Conde de Athlone, Governador Geral do Canadá; e o presidente Franklin D. Roosevelt | Foto: Wikimedia Commons


O espírito divino

O filme O Destino de uma Nação (Darkest Hour, 2017) é uma daquelas obras a que você pode assistir três, quatro, cinco vezes. Toda vez que sentarmos diante dessa obra, vamos notar alguma coisa que pode ter passado de maneira tímida ou até despercebida, mas que, por alguma razão, vai saltar aos olhos no último repeteco como se você nunca tivesse visto o filme antes.

Recentemente, escrevi sobre a histórica operação em Dunquerque, batizada oficialmente de “Operação Dynamo”, quando 200 mil soldados britânicos e 140 mil soldados franceses e belgas foram salvos numa evacuação maciça das praias e do Porto de Dunquerque, na França, com a ajuda de centenas de embarcações navais e civis. O filme Dunkirk, um sucesso do cinema que nasceu com etiqueta de clássico, retrata com maestria as aflições humanas em meio a uma guerra, e a beleza do espírito divino que pode se manifestar em todos nós diante do medo e do horror.

Imagem do filme Dunkirk | Foto: Divulgação

Às vezes, esse espírito se manifesta organicamente, sem uma liderança específica, como uma ferramenta de sobrevivência das massas. Às vezes, ele é despertado por almas pinçadas a dedo no espectro especial na humanidade para que lições de liderança se eternizem — e os bons prosperem. Dunkirk é espetacular, assim como Darkest Hour, ou como poderíamos chamar, “Os bastidores de Dunkirk”. A performance de Gary Oldman como Winston Churchill foi agraciada com inúmeras premiações e sua atuação foi também coroada com o Oscar de melhor ator em 2018.

Darkest Hour oferece o lado diplomático do que vemos em Dunkirk. A história se desenrola com o drama da ascensão do primeiro-ministro britânico Winston Churchill ao poder durante a invasão nazista da França, em maio de 1940. O antecessor de Churchill, Neville Chamberlain, havia perdido a confiança do povo inglês e do governo britânico. Sua fracassada tentativa de uma conciliação com Adolf Hitler e os desastrosos primeiros nove meses da Segunda Guerra Mundial pareciam ter feito a Grã-Bretanha perder todas as possibilidades de vitória no conflito.

“Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele”

Churchill, mesmo não sendo o nome preferido dentro do Partido Conservador, foi convidado a se tornar primeiro-ministro no mesmo dia em que Hitler invadiu a França, a Bélgica e a Holanda. Os exércitos das três democracias, que juntos eram maiores do que as forças militares da Alemanha, entraram em colapso em poucas semanas. Cerca de 200 mil soldados britânicos foram milagrosamente salvos pela ousada decisão de Churchill de arriscar evacuá-los pelo Mar de Dunquerque, para onde a maior parte do que restava da Força Expedicionária Britânica havia recuado. Mas o maior problema de Churchill não era apenas salvar o Exército britânico, mas enfrentar a realidade de que, com a conquista alemã da Europa, o Império Britânico não teria aliados. A União Soviética quase se juntou à Alemanha de Hitler sob o infame “Pacto de Não Agressão” de agosto de 1939, e os Estados Unidos estavam determinados a permanecer neutros a todo custo. O triste telefonema de Churchill com o presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, retrata a sinuca entre os líderes: FDR garante a Churchill que, em teoria, ele queria ajudar, embora na verdade não havia nada que ele pudesse fazer, já que o Congresso Americano havia votado pela neutralidade.

Com Hitler espalhando o terror pela Europa com suas violentas conquistas territoriais, um paralisante temor se espalhou por todo o governo britânico. Membros do novo gabinete de guerra de Churchill queriam pedir a paz. Chamberlain e Edward Wood (conhecido como Lord Halifax) acreditavam que Churchill estava desordenado por acreditar que a Grã-Bretanha poderia sobreviver à barbárie de Hitler. Ambos os apaziguadores acreditavam que o ditador italiano Benito Mussolini poderia ser persuadido a implorar a Hitler que cancelasse sua planejada invasão da Grã-Bretanha. Eles queriam acreditar que Mussolini poderia salvar um fragmento da dignidade inglesa por meio de uma rendição britânica arranjada. Mas Churchill, não.

Winston Churchill em Washington durante sua “missão à América”, janeiro de 1942 | Foto: Wikimedia Commons

Diferentemente de Dunkirk, com cenas apenas ao ar livre, Darkest Hour ocorre quase exclusivamente em ambientes fechados durante as sessões do Parlamento, reuniões privadas e cenas entre Churchill e sua igualmente brilhante esposa, Clementine. Os diálogos são fascinantes, e as atuações soberbas. E foi em uma cena de uma reunião com seu gabinete de guerra no bunker britânico que um diálogo saltou aos meus olhos nessa quarta ou quinta vez assistindo ao filme.

Perigo mortal

Naquele dia, havia apenas um tópico a ser discutido entre os presentes: a abordagem sugerida para que a Itália fosse uma intermediária de um acordo de paz. Lord Halifax, que demonstrava veemente oposição aos planos de Churchill de continuar lutando na guerra, precisava mostrar força a um gabinete acuado, sugerindo que o papel da Itália como mediadora entre o Reino Unido e a Alemanha em um acordo de paz com Hitler seria a melhor opção para os britânicos. A troca entre Halifax e Churchill em 1940 nunca foi tão útil e preciosa em 2022. Empenhado em desafiar Churchill e mostrá-lo como um arrogante e irresponsável, Halifax inicia o discussão:

— Primeiro-ministro, a questão das conversações de paz.

— Devemos segurar nossos nervos. Sinalizar apenas que pretendemos lutar até o fim. Uma oferta de paz telegrafa nossa fraqueza.  — Churchill responde.

E continua de maneira mais enfática:

— E, mesmo que fôssemos derrotados, não estaríamos em situação pior do que estaríamos se abandonássemos a luta. Se o pior acontecer, não seria uma coisa ruim para este país cair lutando por outros países que foram vencidos pela tirania nazista. Evitemos, portanto, ser arrastados pela ladeira escorregadia com conversas sobre paz negociada!

— “Ladeira escorregadia”? A única ladeira escorregadia é…

Churchill, esbravejando, então interrompe Hallifax:

— Lord Halifax, a abordagem que você propõe não é apenas fútil, mas nos envolve em um perigo mortal.

Halifax mostra que não está disposto a desistir de sua estratégia:

— O perigo mortal aqui é essa fantasia romântica de lutar até o fim. Qual é o fim? Se não a destruição de todas as coisas! Não há nada de heroico em cair lutando se isso puder ser evitado! Nada remotamente patriótico em morte ou glória, se as probabilidades estiverem firmes no primeiro. Nada inglório em tentar abreviar uma guerra que estamos claramente perdendo!

Churchill tenta argumentar que não estão perdendo e que a Europa… Quando é interrompido por Halifax que grita:

— A Europa está perdida!! E antes que nossa força seja completamente aniquilada, agora é a hora de negociar, a fim de obtermos as melhores condições possíveis! Hitler não insistirá em termos ultrajantes. Ele conhecerá sua fraqueza. Ele será razoável.

Churchill permanece em silêncio, se ajeita na cadeira depois de uma breve pausa e, enfurecido, explode diante de todos:

— Quando a lição será aprendida?!

E com um murro na mesa, repete:

— Quando a lição será aprendida?! Quantos ditadores mais deverão ser cortejados, saciados, com imensos privilégios concedidos antes de aprendermos?!

E em uma brilhante frase, resume o que devemos levar para inúmeras situações da vida:

— Você não pode argumentar com um tigre quando sua cabeça está na boca dele!!

Sozinho, Churchill viu um caminho para a vitória contra todas as adversidades. Como observa o filme, Hitler poderia ter tido o maior Exército do mundo na primavera de 1940, mas ainda não tinha como transportá-lo através do Canal da Mancha, devido ao domínio naval britânico esmagador. Churchill assumiu que, se a Grã-Bretanha e seu império ultramarino pudessem resistir, um Hitler frustrado poderia se voltar para outro lugar — e assim ganhar novos inimigos, e os britânicos, novos aliados.

E foi exatamente isso o que aconteceu em junho de 1941, um Hitler frustrado invadiu a União Soviética. Mais tarde, ele declararia guerra aos Estados Unidos e, em dezembro de 1941, a Alemanha estava em guerra contra a maior economia do mundo (americana), a maior marinha (britânica) e o maior Exército (soviético) ao mesmo tempo.

Winston Churchill inspeciona rifle durante uma visita à 53ª Divisão em Kent, 20 de novembro de 1942 | Foto: Wikimedia Commons

Neste final de semana, quero convidá-los a preparar um futuro além de 2023. Peguem as crianças já em idade escolar capazes de entender a história mundial, tirem os adolescentes do TikTok, comprem pipoca, limonada e sentem para ver Dunkirk e Darkest Hour juntos. Além da especial maratona cinematográfica juntos, nada substitui um tempo com a família e amigos. Podemos — e devemos! — colocar sementes importantes nesses jovens corações para que eles entendam o sacrifício a que homens e mulheres se submeteram para que a atual liberdade pudesse ser desfrutada.

O magistral Churchill do ator Gary Oldman lembra a uma geração de jovens globais amnésicos que, há mais de 80 anos, o desafio obstinado de um inglês resmungão de 66 anos e com pouco mais de 1,50 metro salvou a civilização ocidental da barbárie nazista. E que tudo, absolutamente tudo sobre aquela geração, pode — e deve! — ser aproveitado em 2023.

Gary Oldman como Winston Churchill no filme Darkest Hour | Foto: Divulgação

Para nós, adultos, exauridos com tudo a que fomos submetidos neste ano, eu sei, estamos cansados. Foi uma pancada atrás de pancada e a sensação de derrota é acachapante e dolorida demais. Mas vamos olhar a história: no final da batalha de Dunquerque, 235 navios foram perdidos, com pelo menos 5 mil soldados. Os alemães conseguiram capturar 40 mil soldados. Embora a operação milagrosa tenha sido considerada uma “derrota” militar, a retirada com pesadas baixas e o resgate de quase meio milhão de soldados de Dunquerque passaram a ser uma das vitórias mais importantes e inspiradoras da guerra — e podem muito bem ter mudado seu resultado de tudo. Dunquerque foi o começo do fim do Terceiro Reich.

Esperança! Muitos passaram por eventos muito piores e a vitória veio em algum momento, porque estavam do lado certo da história. Como nós estamos.

Obrigada pela preciosa companhia de todos toda semana aqui em nossa Revista Oeste durante mais um ano de parceria e confiança. Vamos seguir mais firmes do que jamais estivemos.

Revista Oeste

'Flagrante do ano que não terminará', escreve Guilherme Fiuza

 

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons


Lula disse que é o primeiro presidente a governar antes da posse. É também o primeiro eleito antes da eleição


1. O amarelo da bandeira não simboliza a entrega do ouro ao bandido.

2. Para quem é capaz de roubar um país inteiro, roubar uma eleição é mais fácil que tirar picolé de criança.

3. Picolé não se ganha, se toma.

4. Pega ladrão!

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Wikimedia Commons

5. Lula disse que é o primeiro presidente a governar antes da posse. É também o primeiro eleito antes da eleição.

6. Os golpistas ameaçam todo mundo, mas não têm como atropelar milhões.

7. Um punhado de burocratas sem lei só bota no cabresto uma população esclarecida se ela quiser.

8. Todo dia é dia 7 de Setembro.

9. Vale a pena viver escravizado por meia dúzia de pilantras?

10. A imprensa vendida finge que não está acontecendo nada e que o novo normal é o país tomado na mão grande pela bandidagem.

11. Inventaram o golpe de Estado fantasiado de normalidade democrática.

12. O golpe normal é uma beleza: banho de loja em ladrão, urna com vontade própria e perseguição a quem não adere.

13. Só falta alguém para avisar aos gênios da lâmpada que a Conspiração Tabajara não colou.

Foto: Shutterstock

14. Será que dá mesmo para mandar em todo mundo só com cara feia e uma caneta na mão?

15. Enem 2022 – Questão de Física: Quanto mais tempo negando a trapaça, maior o delito e menor o tempo de fuga, mané.

16. O TSE foi desmentido pelo Ministério da Defesa sobre inexistência de fraude na eleição, ignorou as irregularidades nas urnas apontadas pelo PL, faltou à audiência no Senado que expôs falhas eleitorais graves e endossou parecer do TCU que ocultou essas falhas.

17. O TSE apagou as quatro linhas.

18. Ser ao mesmo tempo ladrão e burro complica: como é que vocês colocam zero voto para um candidato, no segundo turno, com o eleitorado supostamente dividido, seus incompetentes?

19. O tribunal que presidiu a eleição censurou quem não tratasse como inocente um candidato que jamais foi absolvido.

ameaça petista
Ilustração: Shutterstock

20. Esse tribunal apresentou esse criminoso como ganhador da eleição (fiscalizada pelos que anularam a sua condenação).

21. Ou você finge que isso é normal ou finge que quer democracia.

22. Não se deve superestimar o verbo diante de quem corta línguas.

23. Como uma sociedade democrática pode aceitar que uma população se manifestando civilizadamente por democracia seja tratada como criminosa?

24. Na democracia, quando uma autoridade abusa flagrantemente do seu poder, impondo seus atos por intimidação e corrompendo o processo democrático, essa autoridade deve ser destituída e seus atos devem ser anulados.

25. O contrário é a legalização do abuso e a extinção da democracia.

26. Missão dada é missão cumprida.

Lula, na posse do Alexandre de Moraes no TSE, com Gilmar Mendes e em clima amistoso com o ministro do TSE Benedito Gonçalves | Foto: Montagem Revista Oeste/STF/SCO/Reprodução

27. A delinquência já mostrou sua disciplina.

28. Falta os homens da lei cumprirem a sua missão, dada pelo povo.

29. Ou os homens da lei bloqueiam o golpe, ou a população vai ter que fazer isso com as próprias mãos.

30. Perigoso é não lutar.

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Revista Oeste

Rodrigo Constantino: 'Foi apenas um sonho'

 

Ilustração: Shutterstock

Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Barroso, Toffoli, Lewandowski: que Corte constitucional resiste a um time desses?


OBrasil é o país do futuro, disse Stefan Zweig décadas atrás. Para muitos fatalistas, essa seria uma previsão inalcançável, um alvo móvel, o futuro nunca se tornando o presente. Afinal, o Brasil não é para amadores, diz o brocardo. Nosso país nunca foi muito sério, eis a triste verdade. Nossa democracia nunca se estabeleceu com pilares sólidos. Nossa república permaneceu inacabada, sem o devido respeito à coisa pública. O Estado de Direito nunca passou de um slogan vazio. No Brasil, o crime compensa.

Aí veio a Lava Jato, operação que mandou para a cadeia políticos poderosos e grandes empresários. Com as manifestações populares a partir de 2014, o gigante despertou, o povo tomou as rédeas de seu destino, passou a se interessar mais por política. Com a facada de um esquerdista em Bolsonaro, o impensável aconteceu: um conservador “outsider”, que apesar de décadas como deputado nunca fez parte do clubinho, foi eleito presidente.

Um governo de direita, finalmente! Uma equipe técnica, ministérios alocados por critérios decentes, e o povo nas ruas clamando pela reforma previdenciária. Um espanto! Crítico do presidente no começo, acabei dando o braço a torcer e tive de reconhecer, em especial após aquela fatídica reunião ministerial se tornar pública, que ali havia patriotas com o sincero compromisso de melhorar o país. Bolsonaro tem muitos defeitos, mas era atacado de forma pérfida pela mídia por suas virtudes.

Mercado crescimento econômico
Paulo Guedes, ministro da economia, e o presidente Jair Bolsonaro | Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O sistema queria se livrar do estranho no ninho, daquele que fechou torneiras, dificultou a vida de quem estava acostumado com os esquemas de corrupção. Petistas, tucanos, empresários oportunistas, veículos de comunicação corrompidos, sindicalistas, artistas e acadêmicos com saudades de tetas estatais e socialistas no comando, todos se uniram para derrubar Bolsonaro. E veio a pandemia…

O gigante acordou. Mas o risco de o Brasil degringolar é muito alto. O retrocesso é inevitável. No longo prazo, mantenho algum otimismo

Era o pretexto para detonar Bolsonaro e explorar a situação contra o governo. A economia fica para depois. As mortes causadas pelo vírus chinês, que ocorriam no mundo todo, no Brasil eram responsabilidade do presidente. “Genocida”, berravam os canalhas. E a narrativa contou com o esforço homérico da velha imprensa, até seduzir e enganar uma classe alta alienada. Bolsonaro, claro, contou com sua dose de erros, principalmente na postura, o que ajudou no discurso dos adversários. Plantaram vento e colheram tempestade, exatamente como desejavam.

Mesmo assim, com pandemia, com todo o sistema unido contra ele, Bolsonaro tinha chances concretas de reeleição. O passo seguinte foi esgarçar de vez o duplo padrão e o autoritarismo. Soltaram Lula, tornaram-no elegível com malabarismos bizarros, usaram o TSE para protegê-lo de críticas, enquanto perseguiam Bolsonaro e seus apoiadores. Para “salvar a democracia” de uma ameaça fantasma que criaram, avançaram contra as instituições democráticas e delegaram poder abusivo a um ministro descontrolado. O “fiador da democracia”, aquele que agiu como um tirano.

governo desesperança
Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Divulgação/Ricardo Stuckert

Não obstante tudo isso, Bolsonaro quase venceu. E isso considerando o processo eleitoral opaco, sem transparência, sem auditoria possível. Nas urnas mais modernas, com mais possibilidade de fiscalização, Bolsonaro venceu. Mas tinham as urnas antigas. Tinha o Nordeste, a miséria a ser explorada pelos demagogos de sempre. Tinha Alexandre de Moraes. E, por pouco, o sistema declarou vitória do “ladrão que quer voltar à cena do crime”, como disse Alckmin antes de debandar para o lado dele. E tratou como criminoso quem ousasse questionar esse resultado.

Os patriotas passaram, então, a depositar toda a esperança nas Forças Armadas, esgotados os recursos pelas vias institucionais. Mas parece que as autoridades envolvidas julgaram que o remédio poderia ser pior do que a doença. Jamais saberemos. Eis, porém, o que sabemos: que o sistema é bruto, companheiro. E podre e carcomido. E muito poderoso. Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Barroso, Toffoli, Lewandowski: que Corte constitucional resiste a um time desses? Rodrigo Pacheco, Arthur Lira: que Congresso pode ser independente e patriota sob tais comandos? Globo, Folha de SPUOLEstadão: qual imprensa se mantém imparcial com tais lideranças?

Pacheco TSE
Alexandre de Moraes, ministro do STF, ao lado de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado | Foto: Divulgação

Não quero concluir minha última coluna do ano em tom pessimista, derrotista. Mas tampouco permito que a esperança, sempre a última que morre, consiga turvar minha razão e se tornar a falsária da verdade. Sou realista, acima de tudo. Reconheço que muita coisa mudou, que não dá para colocar o gênio de volta na garrafa. O gigante acordou. Mas o risco de o Brasil degringolar é muito alto. O retrocesso é inevitável. No longo prazo, mantenho algum otimismo.

Os próximos meses, contudo, serão para lá de desafiadores. Tempos sombrios nos aguardam. Temos de recolher os cacos, aprender algumas lições importantes, e criar uma resistência robusta contra os corruptos, os socialistas. O objetivo será impedir um avanço muito grande, quiçá definitivo, dos verdadeiros golpistas que ameaçam nossa democracia e atentam contra nossas liberdades. O Brasil estava de fato mudando. Mas era óbvio que o império reagiria. Aquele Brasil de Paulo Guedes e gente séria, preparada e patriota colocando nosso país nos eixos foi apenas um sonho. Pareceu bem real, mas durou pouco. Agora vem o pesadelo, um filme de terror em câmera lenta. Estejamos preparados. Que venha 2023!

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Revista Oeste

'A mentira da mudança do clima', por J.R. Guzzo

 

Rua coberta de neve, em Buffalo, Nova Iorque, durante a tempestade Elliot, a pior nevasca da história da comunidade, em 24/12/2022 | Foto: Wikimedia Commons


Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista”


Ano após ano, área após área, a ciência mundial tem estado sob ataque — o mais destrutivo desde a escuridão que a Igreja Católica, até o século 17, impôs ao pensamento humano. Era proibido, então, fazer a mais modesta indagação científica, ou simplesmente utilizar a razão para investigar questões básicas da vida. O cidadão era queimado na fogueira dos padres e dos bispos por tentar investigar, por exemplo, as causas físicas de uma doença, ou o movimento na Terra em volta do sol; era pecado mortal, como heresia, servir-se do livre pensar e do livre arbítrio para chegar a qualquer conclusão sobre questões do espírito ou fatos materiais. Ao fazer essas coisas, a pessoa estava desafiando o Plano Geral de Deus, que obviamente queria manter em segredo, ou sem explicação, tudo aquilo que o homem não entendia — não cabia ao homem, em nenhuma hipótese, presumir que seria capaz de descobrir aquilo que Deus, em sua sabedoria infinita, tinha decidido que não deveria ser descoberto. Hoje, quatro séculos depois, volta-se ao tempo de Galileu Galilei — obrigado, para escapar da pena de morte imposta pela Igreja, a dizer que a Terra não se movia. Para não ser “cancelado”, proibido de expor as suas ideias ou simplesmente manter o seu emprego na universidade, nos centros de pesquisa e nas repartições burocráticas do Estado, o cientista do século 21 tem de obedecer cegamente à religião da “ciência progressista”, socialmente responsável e destinada a construir um mundo “sustentável”.

Galileu Galilei foi julgado pela Igreja Católica por cometer ‘heresias’ | Foto: Reprodução

Esta religião e este mundo são os de Bill Gates e de seus parceiros bilionários que a cada ano fazem discursos em Davos — e ao mesmo tempo de todos aqueles que, de alguma forma ou por algum tipo de descompensação, sonham confusamente com o fim do capitalismo e a sua substituição por algo que não sabem o que é, mas têm certeza de que é “melhor”. Têm vidas, comportamentos e patrimônios opostos uns dos outros; um militante ecológico padrão, um professorzinho de universidade que dá entrevistas na mídia como “especialista” ou um paxá do Vale do Silício que faz doações de US$ 100 milhões para salvar a humanidade, têm tão pouco a ver entre si que poderiam viver em planetas diferentes. Mas, no geral e no fundo, acabam querendo a mesma coisa: o fim do progresso econômico. O mundo, para eles, tem de parar onde está; quem tem US$ 100 bilhões, é claro, continua com os seus 100 bi, e você continua com os trocadinhos que tem no bolso. Não se pode mexer em um átomo da Amazônia, da África, da Groenlândia ou, na verdade, de qualquer ponto do mundo, habitado ou não. É proibido crescer. É proibido mudar. É proibido usar o solo para produzir alimento, ou para extrair recursos indispensáveis à vida humana. É proibido consumir energia. É proibido nascer mais gente — e os que já nasceram, e vivem na pobreza, não podem querer melhorar de vida. O problema insuportável, para a nova ciência dessa gente, é o que ela mesma, talvez sem perceber, chama de “humanos”. São esses desgraçados que atrapalham o bem-estar das árvores, dos bichos e das pedras. Interferem na natureza, que deveriam apenas contemplar. Consomem água, oxigênio e espaço. Precisam comer, precisam usar algum tipo de tecido para se vestir, precisam morar em casas melhores que cavernas. Gastam, no maior horror dos horrores, combustível — é um crime, realmente, contra quem viaja de jatinho, desliza pelo mar em iates de 150 pés e anda de bicicleta de dez marchas, nos momentos em que não está em seus SUVs de R$ 1 milhão. Um mundo sem “humanos”, em suma, seria o ideal.

Bill Gates: de uma garagem de classe média para a maior fortuna mundial | Foto: Sebastian Derungs / World Economic Forum

A ciência diante da qual se ajoelham hoje bilionários, devotos amadores do meio ambiente e devotos profissionais que ganham a vida em universidades, centros de pesquisa, empresas “sustentáveis” e “agências reguladoras” é, acima de tudo, totalitária. Ela decreta, em seus comitês, burocracias e igrejinhas, que alguma coisa é assim ou assado; a partir daí, obrigatoriamente, essa coisa tem de ser assim ou assado. Foi eliminada, simplesmente, a pergunta mais fundamental da ciência, desde que o homem adquiriu a capacidade de utilizar o seu cérebro para pensar: “O que é isso?” Ou, de outra forma: “Por que isso é assim?” Não se pode mais dizer: “Não tenho certeza de que tal coisa é assim. Gostaria de observar os fatos objetivamente, mas de outro ponto de vista, e verificar se chego a alguma conclusão diferente da que é aceita neste momento”. Ou seja: estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje. Em vez de verdade científica o que se tem agora é fé — e, pior que isso, a obrigação de ter fé. Ciência não é mais o resultado do estudo sistemático das estruturas do mundo material, através da observação, das experiências e de testes capazes de comprovar com fatos concretos as deduções obtidas. Ciência é aquilo que os cientistas, pesquisadores e agentes do Estado, com o apoio da mídia, dizem que é ciência. No tempo da treva, quando isso ou aquilo parecia incompreensível, a Igreja dizia: “Deus quis assim. Não tente entender. É pecado entender.” Hoje está voltando a ser exatamente a mesma coisa. “Os estudos científicos dizem que é assim”, afirmam os mandarins da ciência. “Não tente entender. É negacionismo entender.”

Estão banidas a dúvida, a curiosidade, a investigação física, a discussão livre, a troca de ideias e os demais princípios fundamentais que fizeram a ciência evoluir da descoberta da roda até o que ela é hoje

Em nenhuma área do conhecimento essa degeneração da ciência é tão agressiva como nas questões ligadas ao meio ambiente — e especialmente, neste momento, a tudo aquilo que se entende como “mudanças do clima”. O fundamento principal do colapso da ciência verdadeira em favor da crença climática é a ideia absurda segundo a qual o homem pode “combater” a “mudança do clima” — como se a Era do Gelo, o Dilúvio Universal e a separação dos continentes tivessem dependido do comportamento humano. Isso, sim, era mudança climática para ser levada a sério — não os 40 graus de calor em Copacabana no meio do mês de janeiro. Mas hoje é tudo culpa do clima. O “aquecimento global”, mesmo quando as pessoas estão morrendo de medo de passar frio neste inverno na Europa, por escassez de calefação, é culpado pelo sol, a chuva, a seca, a enchente — e também por terremoto, maremoto, vulcão, maré alta, maré baixa, a barragem de Sobradinho, o urso polar que não encontra comida, o aumento de mortos na escalada do Everest. Cobra-se dos políticos: “O que o seu programa prevê para deter a mudança do clima”? É uma coisa que não acaba mais. Criaram, até mesmo, a “ciência” da “climatologia” — e isso simplesmente não existe. O cidadão que se apresenta como “climatologista” é, com toda a probabilidade e salvando-se notáveis exceções, um farsante. Tudo o que ele sabe, ou finge saber, está plenamente compreendido em outras disciplinas científicas; para que, agora, essa “climatologia”? Mas a mídia publica, dia e noite, entrevistas assustadoras com os “climatologistas”. Fazem seminários, presidem webinários e aparecem na entrega do Oscar. Qualquer coisa que digam é aceita com a certeza com que se recebe o cálculo da área do triângulo. O resultado é o avanço da ignorância autoritária, do charlatanismo escrito em inglês e da superstição fantasiada de pesquisa de Harvard.

O fato objetivo, comprovado pela aplicação honesta dos procedimentos científicos fundamentais, é que não existe no mundo a “emergência climática” — isso mesmo, não existe, muito pura e muito simplesmente. Não se trata de uma opinião de jornalista ignorante. É a conclusão de um estudo liderado pelo Prêmio Nobel norueguês Ivar Giaever, assinado por mais de 1.100 cientistas de todo o mundo, inclusive 14 brasileiros, e divulgado em julho deste ano. A “Declaração do Clima Mundial”, como se apresenta o documento, diz que a ideia predominante segundo a qual a atividade humana causa modificações no clima é uma ficção política. O clima da Terra, diz o estudo, vem variando desde que o planeta existe. No presente momento, em particular, a situação real é exatamente oposta ao quadro de calamidade apresentado pela lavagem cerebral da mídia, da elite econômica e da ciência “politicamente correta”: de 1850 para cá, o mundo se aqueceu significativamente menos do que as previsões feitas em cima de modelos baseados na influência humana sobre o ambiente. O estudo observa que os “modelos climáticos” usados para demonstrar a ação destrutiva do homem sobre “o clima” não são nem sequer remotamente plausíveis como ferramentas de pesquisa; enquanto não forem substituídos pela aplicação da ciência empírica, baseada na observação da realidade, só podem gerar conclusões falsas. Os 1.100 cientistas declaram, enfim, que não há nenhuma evidência estatística de que o “aquecimento global” está tornando mais graves, ou mais frequentes, os furacões, enchentes, secas e outros fenômenos naturais — e afirmam que o “perigo” do carbono na atmosfera é um fetiche. “Nós nos colocamos francamente contra a política de carbono zero para 2050”, afirmam eles. O estudo, naturalmente, foi boicotado pela imprensa mundial e pela ditadura que controla a produção científica de hoje.

Ivar Giaever | Foto: Wikimedia Commons

É natural que seja assim. A “climatologia” e os “climatologistas” prosperam através das turbinas de um lobby que envolve, quando se soma tudo, literalmente trilhões de dólares. A “mudança de clima” fornece milhares de empregos, na maioria bem pagos, diretorias, consultorias, presença em conselhos de multinacionais, verbas bilionárias nas universidades e nos centros de pesquisa, circulação para a mídia, viagens, conferências de cúpula em Sharm el-Sheikh, ou coisa que o valha, e todo o tipo de boca-livre. A conversa ali, em boa parte do tempo, é sobre verbas, subsídios e caça às fortunas das fundações pró-virtude, ao dinheiro de governos de países ricos e ao caixa das organizações internacionais. Cada projeto é um negócio. Uma expedição ao Polo Norte, por exemplo, com um navio-base, centenas de participantes e frota de apoio, com toneladas em mantimentos e brinquedos tecnológicos de última geração, é um prêmio de mega sena. Ficam nisso meses inteiros, com salários altos e todas as despesas pagas; o grande objetivo é chegar a conclusões que levem os patrocinadores a pagar a expedição do ano seguinte. Ficam medindo a temperatura do gelo, ou coisas assim, e sempre constatam que a situação é “crítica”, a ameaça é “grave” e o prosseguimento das pesquisas (”temos de entender melhor o que está acontecendo”) é “indispensável”. Pode ser a última chance de “salvar o planeta”. É “urgente”. As fundações, as empresas e os políticos soltam o dinheiro. No fim de todas as contas, o que se pode verificar de mais concreto é que os grandes beneficiários da climatologia, até agora, tem sido os climatologistas.

A essência vital da “ciência climática”, e de muito do que se pode observar na filosofia ambiental ou ecológica, é a sua feroz hostilidade ao ser humano

A essência vital da “ciência climática”, e de muito do que se pode observar na filosofia ambiental ou ecológica, é a sua feroz hostilidade ao ser humano — e sobretudo o ser humano pobre, a quem se nega cada vez mais o direito de viver, pois suas vidas incomodam a “natureza” muito mais que as vidas dos ricos. Já se ouviu, em Manhattan, uma intelectual desesperadamente fiel à correção de sua consciência e às suas obrigações perante o planeta, propor a evacuação dos atuais 20 milhões de habitantes da Amazônia para “salvar a floresta”. Heimmmmm? Como assim, “evacuação”? Para onde? Só se faz evacuação de populações inteiras em ditaduras alucinadas; é coisa de Stalin, Pol Pot, Mao Tse-tung e outros assassinos patológicos. Mas aqui nós estamos falando em “Amazônia”; as classes que ganham para cima de US$ 1 milhão por ano, moram em guetos milionários e trabalham na Disney, ficam cegas e começam a dizer coisas deste tipo. É a mesma atitude dos NatGeo, Animal Planet e outros canais de entretenimento que funcionam hoje em dia como polícia ecológica. Num documentário recente feito por um deles, o apresentador relatou a tragédia de uma tribo miserável da África: um leão tinha comido uma criança, e ele estava entrevistando o pai. Ao fim da história, o sujeito diz que era necessário achar uma solução para o problema — o problema do leão. Era inadmissível, concluiu, que a tribo continuasse a causar stress nos leões, “ocupar” o “seu território” e interferir no “equilíbrio ambiental” e nas suas fontes de alimentação. Ficamos assim, então. Um leão que for visto andando pelo centro de Londres, digamos, onde poderia comer um editor do The Economist ou algo assim, vai ser morto a tiros de fuzil pela SWAT. Um leão na África não pode ser tocado — vai comer uns pretos nessa ou naquela aldeia, mas e daí? Problema deles, que ficam interferindo com a vida pessoal dos leões.

A falsa ciência, naturalmente, não tem se mostrado capaz de paralisar o mundo. A ciência de verdade continua a ser utilizada para fazer aviões da Boeing, usinas que produzem energia elétrica e cirurgias de cérebro. A água, mesmo nos estudos científicos de Oxford ou de Princeton, continua a ferver aos 100 graus centígrados e o ângulo reto permanece com os 90 graus que sempre teve. O homem, afinal, tem de viver — e os cientistas do clima também. Mas a catástrofe que a falsa ciência tem trazido para o conhecimento humano vai cobrar um preço cada vez mais alto — e quem vai pagar são os que mais precisam do progresso.

Revista Oeste