sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Brasileiro tetraplégico participa de estudos para cura de paralisia em Miami

O Estado de São Paulo

Hendrik Zanotti Franco lembra pouco do dia mais trágico de sua vida: 11 de fevereiro de 2007. Era um domingo e ele faltou ao trabalho em uma churrascaria para juntar-se aos primos na chácara de um tio em Valinhos, interior de São Paulo. Depois de algumas cervejas, Hendrik pulou na piscina de cabeça.

"Mãe, me ajuda que eu não estou bem. Eu estou morrendo", palavras que não saem da cabeça de Isabel Cristina Zanotti.



Hendrik havia fraturado a coluna cervical e não conseguia se mexer, mas se manteve consciente o tempo todo.

O resgate foi complicado. O local era de difícil acesso e o serviço de ambulância local disse que não conseguiria chegar. A família improvisou a maca e o levou de carro até o hospital, onde ele permaneceu cerca de três semanas em coma induzido e dois meses entre a vida e a morte.

Hoje, aos 26 anos, ele agradece por sua vida ao destino, tendo o acidente o transformado numa pessoa melhor.

"Talvez se não tivesse acontecido isso comigo, eu teria morrido em um acidente de carro ou matado uma pessoa que não tinha nada a ver com isso", diz ele. "Provavelmente, estaria preso ou morto."

Hendrik sempre foi teimoso, bebia muito e não escutava ninguém.

"Eu era um cara totalmente bruto. Aprendi a escutar mais, a exercitar a paciência", diz. "As coisas se resolvem com educação. O ser humano foi feito para dialogar e não para brigar."

Ele continua teimoso, mas, hoje, sua teimosia tomou forma de luta, perseverança e superação.

Recém-saído do coma, os médicos afirmavam que ele não iria conseguir mexer os braços, nem dispensar o aparelho respirador. Hendrik não só logo começou a mexer os braços e respirar sozinho, como se tornou um jogador profissional de rugby em cadeira de rodas pela Unicamp.



E assim tem sido sua vida nos últimos anos: uma conquista atrás da outra.

Sem falar uma palavra de inglês, ele preencheu todos os formulários necessários e foi aceito para participar de estudos científicos no The Miami Project to Cure Paralysis, um grande centro de pesquisas em paralisia na Universidade de Miami.

"Vim para Miami no escuro para participar desse programa. O pessoal falava assim: ‘Você é louco, não vá. Você vai se estrepar lá’", conta. "E eu falei: ‘Ah é, vou me estrepar? Beleza’. Peguei passaporte, visto. Agora estou aqui. E provei para mim mesmo: ‘Eu posso’. Hoje eu pago para ver, mas, em termos de coisas boas, tanto que estou aqui."

Hendrik chegou a Miami com sua mãe em 17 de janeiro, três dias antes do seu aniversário. Apresentou-se no centro de pesquisas e agora está passando por vários exames para definir em que estudos se qualifica.

Com coragem no peito e um sorriso no rosto, ele diz não estar muito preocupado no que vai entrar exatamente. Só quer estar dentro de um ambiente que possa levá-lo a mexer os dedos novamente para ganhar mais autonomia.

"Minha mãe não vai aguentar me levar para cima e para baixo. Uma hora ela vai dar aquela cambaleada", diz. "Quero sair dessa cadeira, levantar e ir para o sofá, para cama, tomar um banho. Então eu busco essa independência para poupar o máximo possível a minha mãe."

Hendrik nunca teve grandes ambições. Desde os 10 anos, trabalhava como "gaúcho" numa churrascaria e sempre ajudava o pai, que morreu meses depois do acidente do filho, a descarregar papelão do seu caminhão. Assim, seu sonho pré-acidente era simples: ser caminhoneiro.

Mas isso mudou. Ele mudou. Hoje, Hendrik pensa, no futuro, em fazer medicina para poder ajudar e curar pessoas.

Depois do acidente, amigos e vizinhos iam à sua casa em busca de conselho. Chegavam chorando e dizendo que não sabiam o que fazer da vida, conta Hendrik.

"Eu pensava: ‘Estou todo lascado e estou aqui’. Resolvia ajudar. Não precisava fazer nada. Só conversar", diz. "Hoje, não existe satisfação maior para mim do que fazer bem a uma pessoa, ver uma pessoa sorrindo. Penso que ganhei o dia, o ano."

E é com esse espírito de solidariedade que o jovem paulista, de Piracicaba, vem se tornando um exemplo de vida, superação e esperança. E não perde o entusiasmo, mesmo enfrentando muitas dificuldades.

Hendrik e sua mãe estão alugando um quartinho no apartamento de uma brasileira, mas dependem de doações para despesas e transporte durante a permanência em Miami.

Estão recebendo grande apoio da comunidade brasileira do sul da Flórida, como o Centro de Assistência ao Imigrante (IAC-Florida), e, em 23 de fevereiro, o Grupo Brasileiros na Flórida do Facebook, junto à Comunidade Brasileira Católica de Miami Beach, está organizando uma feijoada beneficente na igreja de St. Joseph para arrecadar fundos para estada e possível tratamento de Hendrik.

Hendrik iniciou também um blog - Hendrik em Miami Project to Cure Paralysis - para compartilhar todos os passos de sua experiência nos Estados Unidos.

"Agora eu vejo que o milagre é correr atrás, procurar. Milagre é estar vivo e ter força para lutar", diz. "A pior prisão é a do cérebro. Quando eu quero, eu posso. A palavra impossível é muito distante para mim."

No vídeo, Hendrik Zanotti Franco reflete sobre o segredo do seu sucesso:



Serviço:

Mais informações sobre o The Miami Project to Cure Paralysis:  http://www.miamiproject.miami.edu.


Feijoada beneficente: Igreja de St. Joseph, em Miami, em 23 de fevereiro – Facebook: https://www.facebook.com/events/1399535853633066/

"Nunca antes na história desse País se entregou um resultado tão ruim da Bolsa em janeiro"

Bovespa tem pior janeiro em quase 20 anos

Ameaças de rebaixamento da nota de risco do Brasil desanimaram investidores estrangeiros; no primeiro mês de 2014, Ibovespa voltou a níveis registrados em julho do ano passado

Claudia Violante e Olívia Bulla - Agência Estado
 
A Bovespa largou muito mal em 2014, depois de já ter levado um tombo em 2013. Janeiro deste ano foi na contramão da tradicional performance positiva da renda variável brasileira no primeiro mês do ano, e acumulou perdas de 8,28% até a quinta-feira, 30, no pior desempenho para o mês desde de 1995, quando caiu 10,77%, segundo levantamento da Economatica, a pedido do Broadcast, serviço de informações da Agência Estado. E, diante do sinal negativo que prevalece nesta manhã nos mercados internacionais e com uma postura defensiva dos investidores em relação aos países emergentes, dificilmente haverá uma melhora considerável nestasexta-feira, 31.
A surpresa com o mau desempenho de janeiro ocorre pelo fato de o mês ser marcado por alocação de recursos nos ativos de risco, mas, neste ano, a Bovespa não foi agraciada. "Nunca antes na história desse País se entregou um resultado tão ruim da Bolsa em janeiro", ironizou o sócio-diretor da Titulo Easynvest Corretora, Márcio Cardoso, referindo-se à frase do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar das conquistas durante o seu governo.
O primeiro mês de 2014 foi marcado por um fraco ingresso de capital externo, diante das ameaças de rebaixamento no rating soberano do Brasil, e por uma crescente aversão ao risco dos países emergentes, em meio à desaceleração econômica na China e à retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos. Por isso, qualquer perspectiva de melhora da Bolsa doméstica passa por uma mudança em um desses cenários - se não todos. Mas o ambiente não parece muito promissor.

O analista sênior do BB Investimentos, Hamilton Alves, destaca que o principal problema para a Bovespa continua sendo a "espada na cabeça" do País em relação à nota de risco de crédito. Segundo ele, a possibilidade de rebaixamento do rating e de revisão na perspectiva da avaliação pelas agências de classificação segura o fluxo de capital, principalmente o estrangeiro. "O investidor externo não tem confiança no avanço da economia", pondera.

Uma das razões para isso é a questão fiscal. O governo conseguiu melhorar consideravelmente o superávit primário consolidado de 2013, mas com recursos extraordinários, como o leilão do Campo de Libra, no pré-sal brasileiro. Mas a meta para 2014 ainda não foi conhecida e, muito mais do que um número em si, o mercado financeiro quer saber se o governo fará novamente uso de uma contabilidade criativa para cumprir o que promete.

Nesse cenário incerto, o receio do investidor estrangeiro com o Brasil é natural e pode ser refletido no saldo de investimento, com as saídas superando as entradas de recursos externos em R$ 732 milhões neste mês até o dia 28. Trata-se do pior resultado para um início de ano desde janeiro de 2010, quando o fluxo de capital estrangeiro fechou o primeiro mês negativo em pouco mais de R$ 2 bilhões.

Amassado. Os especialistas consultados destacam que o cenário doméstico desagradável é apenas uma continuidade do que foi observado ao longo do ano passado, que culminou em perdas de 15% do Ibovespa. Tanta perda acumulada, no entanto, pode ter um viés positivo, já que o frágil desempenho da Bolsa neste início de ano deve se acomodar, com a percepção de que o "fundo do poço" está cada vez mais próximo - e dali o caminho é o de alta.

Na avaliação do analista da Empiricus Research, Rodolfo Amstalden, a Bolsa brasileira pode ainda piorar mais, antes de melhorar. Em janeiro, o Ibovespa voltou a níveis de julho do ano passado e, o mais provável, é que caia abaixo dos 47 mil pontos em breve, rumo à mínima do ano passado, ao redor dos 45 mil pontos. Ainda assim, a trajetória de baixa poderia seguir até a faixa dos 41 mil pontos, para então, iniciar uma retomada.

Com o ambiente interno hostil para posições de longo prazo na Bolsa qualquer retomada fica a reboque de uma recuperação das economias internacionais. Na visão do economista da Órama Investimentos, Álvaro Bandeira, se a Bolsa conseguir pegar carona no exterior, isso pode significar que a deterioração interna pode ser menor, diante da retomada econômica em várias outras partes do mundo. "Pode haver uma leitura inicial ruim, mas há uma situação mais positiva no futuro", observou Bandeira.

Contudo, Alves, do BB Investimentos, lembra que à medida que os investidores começarem a deslocar as atenções das reduções mensais no programa de compra de bônus nos EUA para o aperto monetário das taxas de juros norte-americanas a renda variável brasileira pode entrar em uma nova espiral descendente. Afinal, um ciclo de alta dos juros não é favorável às ações, principalmente na maior economia do mundo. Essa alta dos Fed Funds, no entanto, não deve acontecer no curtíssimo prazo, mas pode ser antecipada entre os agentes financeiros.

Até lá, se o governo realmente entregar as refeitas promessas de austeridade fiscal e de controle inflacionário, o resultado pode ser o retorno desse importante capital externo aos negócios domésticos com ações, impulsionando a Bolsa. "O mercado pode enxergar no processo de alta de juros do Banco Central brasileiro comprometimento do governo depois de maus passos. E isso pode, sim, deixar a renda variável com olhos mais belos aos investidores", resumiu um operador da mesa de operações, que falou sob a condição de não ser identificado.

Principal motor do PAC, Dnit reduziu investimentos em 2013 para abaixo do previsto

 

Danilo Fariello - O Globo
 
O volume total de investimentos feitos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), órgão que é o principal motor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), caiu de R$ 10,174 bilhões em 2012 para R$ 9,755 no ano passado, bem abaixo da previsão orçamentária do órgão no início do ano, de R$ 13,5 bilhões. Além da greve que durou dois meses, o desempenho do Dnit também foi abalado em 2013 pelos cortes no Orçamento, que resultaram na redução dos repasses da instituição a governos estaduais em convênios, como o Rodoanel de São Paulo.

Apesar da queda no volume efetivamente investido no ano passado, a direção do Dnit avalia que 2013 serviu para colocar a instituição definitivamente "nos eixos". Tarcísio Gomes, diretor-executivo do órgão, informou ao GLOBO que a instituição conseguiu bater o recorde de licitações, com 494.

Com isso, o Dnit mantém atualmente 1.106 contratos para construção ou manutenção da malha rodoviária federal e deve retomar um ritmo mais forte de desembolsos em 2014, avalia.
No ano passado, o Dnit contratou obras no volume de R$ 10,8 bilhões, dos quais mais de R$ 7 bilhões dentro do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que tenta imprimir mais agilidade nas contratações.

- Agora a máquina já está girando e em 2014 deveremos bater o recorde de investimentos - disse Gomes.

Para ele, neste ano o Dnit deverá manter a média de mais de uma licitação por dia e poderá superar R$ 13 bilhões em investimentos.

- Só tivemos uma obra questionada pelo TCU e nenhuma operação da Polícia Federal - disse Gomes, referindo-se ao passado da instituição, que foi alvo das operações.

Departamento prepara modelo para agilizar lotes em atraso

Daqui para a frente, o Dnit quer não apenas acelerar o seu ritmo de desembolsos, mas reduzir a tradicional quantia de R$ 10 bilhões em restos a pagar (despesas do exercício que não são executadas) de um ano para outro. No médio prazo, o órgão quer reduzir esse volume de despesas para algo próximo a R$ 3 bilhões.

Para isso, o Dnit prepara a adoção sistemática de um método de acompanhamento do ritmo de cada contrato para procurar agilizar os lotes que estiverem em atraso. Esse modelo já foi adotado para que o governo conseguisse terminar quase que integralmente a BR-448 no Rio Grande do Sul ainda no ano passado. A ideia é acompanhar mais de perto os contratos que estão em ritmo mais lento do que a curva de investimentos projetada.

Nesta quinta-feira, o Dnit deverá abrir a concorrência de duas das maiores obras previstas para serem licitadas em 2014, que são as pontes sobre o Rio Guaíba, em Porto Alegre, e da segunda ponte para conectar ao Paraguai, em Foz do Iguaçu, que foi licitada no ano passado, mas não teve propostas aceitáveis pelos parâmetros do Dnit.

Segundo Gomes, as licitações recém-abertas ou que serão oferecidas já apresentaram propostas ou têm sondagens de construtoras de grande porte, que andavam mais afastadas das obras do Dnit, como Odebrecht, OAS, Queiroz Galvão, Mendes Júnior e estrangeiras como as espanholas Isolux-Corsán e Acciona e as portuguesas Brasil Mota-Engil e Teixeira Duarte.

No ano passado, destaca o diretor-executivo do Dnit, a autarquia aplicou penalidades em empresas que descumpriram seus contratos, como forma de forçar as companhias a cumpri-los. Foram nove suspensões de empresas, que ficaram impedidas de participar de novos projetos por até dois anos, e sete multas, que chegaram a R$ 14,2 milhões.


Produção de petróleo da Petrobras cai 2,5% no Brasil em 2013

Reuters

 


A produção de petróleo da Petrobras no Brasil em 2013 atingiu a média de 1,93 milhão de barris por dia (bpd), 2,5 por cento menor que em 2012, mas a estatal indicou nesta sexta-feira que a interligação de novos poços neste ano vai contribuir para o aumento da produção.
 
A produção total de petróleo e gás natural da companhia no Brasil em dezembro foi de 2,36 milhões de barris de óleo equivalente por dia, 0,8 por cento acima do volume extraído em novembro.
 
"A redução do volume produzido em 2013 decorreu, principalmente, do atraso na entrada em operação do campo de Papa-Terra, na Bacia de Campos, cuja sequência de interligação de poços à plataforma P-63 precisou ser revista em função da presença de corais no leito oceânico", informou a estatal.
 
Além disso, contribuíram para a retração o atraso na chegada ao Brasil e dificuldades de instalação de equipamentos denominados Boias de Sustentação de Risers (BSRs), que permitiriam a interligação de novos poços nos campos de Sapinhoá e Lula NE, na Bacia de Santos.
 
Também houve atraso no início da produção das plataformas P-55 e P-58, no campo de Roncador e no Parque das Baleias, respectivamente, na Bacia de Campos.
 
"Com a interligação de novos poços nessas unidades de produção, assim como nas plataformas P-62, no Módulo 4 do campo de Roncador, e P-61, no de Papa-Terra, ambas previstas para começar a produzir no primeiro semestre, a Petrobras terá estabelecido as condições necessárias para aumentar a produção ao longo de 2014."
 
Os números foram considerados fracos por analistas do Credit Suisse.
 
"A aceleração (na produção) está dolorosamente menor que o esperado, sem aumentos de produção nos últimos três meses (...) Precisaremos ver a produção começar a crescer para mostrar algumas melhoras até março, no máximo", disseram os analistas do Credit Suisse em nota a clientes.
 
Às 11h05, as ações da Petrobras exibiam oscilação positiva de 0,07 por cento, a 14,71 reais, enquanto o Ibovespa tinha baixa de 0,6 por cento.   Continuação...

Dilma não cumpre meta e superávit primário tem pior resultado em 12 anos

Em 2013, Brasil teve o pior superávit primário dos últimos 12 anos

Gabriela Valente - O Globo
  • O país poupou R$ 91,3 bilhões para pagar juros da dívida pública no ano passado
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BRASÍLIA - O setor público - União, estados, municípios e estatais - poupou R$ 91,3 bilhões para pagar juros da dívida pública no ano passado. Essa economia, o chamado superávit primário, equivale a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país). Esse é o pior resultado dos últimos 12 anos, desde quando o Banco Central começou a registrar os dados.
A meta para o ano - já ajustada - era de 2,3% do PIB. No entanto, a equipe econômica já havia admitido que não seria possível chegar a esse resultado. O governo federal ainda se comprometeu a fazer um esforço fiscal maior e poupou R$ 75,3 bilhões porque conseguiu vários recursos extras com o programa de refinanciamento de impostos atrasados e com o dinheiro do bônus de exploração do campo petrolífero de Libra. No entanto, isso não foi suficiente para se aproximar do alvo.
De acordo com os dados do BC, o problema foi que os governos regionais pouparam menos do que era previsto. Os estados economizaram R$ 13 bilhões. Já os municípios pouparam R$ 3,4 bilhões. As empresas estatais, por outro lado, tiveram um déficit primário - ou seja, gastaram mais do que receberam - de R$ 322 milhões.
No ano, a poupança feita por todo o setor público não foi suficiente para pagar todos os juros. Por isso, faltaram R$ 157,6 bilhões para fechar as contas. Esse déficit nominal representa 3,28% do PIB. É o pior resultado desde 2009, quando o mundo estava mergulhado na crise mundial e o governo teve de gastar para estimular a economia e evitar o contágio da desaceleração global.
Mesmo com um superávit primário aquém do estimado, a relação entre o endividamento público e o PIB, o principal indicador da saúde das contas públicas, fechou o ano em 33,8%, ante 35,3% em 2012. A alta do dólar ajudou a melhorar o indicador, já que o Brasil é credor internacional, ou seja, tem mais reservas do que dívida em moeda americana. A dívida bruta está em R$ 2,7 trilhões ou 57,2% do PIB. No ano passado, ela representava 58,5% do PIB.

"Além de bacalhau & vinho", por Sandro Vaia

Blog do Noblat - O Globo




Então ficamos assim: a presidente come o que quiser, no restaurante que quiser, porque ela paga a conta. E pronto.

A comitiva dela pode sair da Suíça e ir para Cuba com uma ligeira paradinha em Lisboa porque o avião não tem autonomia de voo e precisava abastecer.
Enquanto o avião abastece e a comitiva presidencial tem todo direito de alugar as suítes que quiser, no hotel que quiser, pagar as diárias que quiser.

Enfim, a comitiva presidencial tem o direito de fazer o que quiser, inclusive o de mentir e de dizer que a escala foi improvisada, embora o governo português jure que tinha sido informado dois dias antes.

A oposição, como não podia deixar de ser, fez praça de mais essa vistosa aventura governamental, e encaminhou um pedido à Procuradoria Geral da República para que a escala fosse investigada.

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República não se sente habilitada a investigar essa tal de escala secreta - tão secreta que até as fotos do chef do restaurante lisboeta com a presidente foram publicadas em todos os jornais - e daqui a alguns dias ninguém lembra mais de nada.

No Brasil há uma extraordinária vocação para magnificar a banalidade ao mesmo tempo em que se banaliza aquilo que talvez devesse se magnificar.

Dilma e Raúl Castro (d), presidente cubano, inauguram terminal de Mariel.
Foto: Roberto Stuckert Filho / PR

Enquanto se discute se a escala foi secreta ou não, se a presidente pagou ou não pagou a conta do restaurante, se as diárias do hotel foram ou não abusivas, a presidente chegou tranquilamente a Cuba, entregou o porto novo financiado com dinheiro brasileiro, e posou para fotos carinhosas com o vovô ditador aposentado mais longevo do planeta.

Já que se trata, aparentemente, de exigir um pouco mais de transparência, talvez fosse mais útil, em vez de pedir à PGR que investigue a escala do avião, o menu do restaurante, as diárias do hotel e quem pagou a conta, que a oposição conseguisse explicações claras sobre as condições de financiamento do porto de Mariel, sobre o projeto da Zona Especial de Comércio que o governo cubano pretende implantar lá, e quais vantagens o Brasil pretende tirar disso.

O governo poderia aproveitar também para deixar claro porque o dinheiro que está sendo gasto lá não é o mesmo que faz falta na melhoria da nossa infraestrutura portuária, rodoviária e aeroviária. Se não é falta de dinheiro, é falta do que? De vontade? De competência?

E já que se trata de deixar as coisas claras, porque não aproveitar para pedir explicações também sobre os detalhes do contrato de prestação de serviços que o Brasil assinou com Cuba para a importação da mão de obra de médicos, e se as leis trabalhistas do País estão ou não sendo desrespeitadas por ele.

Enfim, saber que Dilma paga as suas próprias contas no restaurante pode ser muito tranquilizador, mas as preocupações da oposição e do País deveriam ir muito além da conta do bacalhau e do vinho.

Dilma não explica quem pagou a conta do hotel e nem por que os gastos com viagens são segredos de Estado

1 minuto com Augusto Nunes: Dilma ainda não explicou quem pagou a conta do hotel e nem por que os gastos com viagens presidenciais são segredos de Estado

Blog Augusto Nunes - Veja
A reportagem do Globo assinada por Paulo Celso Pereira e Chico de Gois transformou de vez em piada de brasileiro o álibi da “escala técnica”em Lisboa. Sabe-se agora que Dilma Rousseff resolveu presentear-se com a noitada em Portugal já na quarta-feira passada, dia 22, antes da chegada a Davos, na Suiça.

Na quinta-feira, enquanto alguns assessores providenciavam a hospedagem da turma nos hotéis Ritz e Tivoli, outros cuidavam da reserva da mesa para 12 pessoas no restaurante Eleven. Na sexta, pelo menos três funcionários do Planalto decolaram de Brasília para juntar-se em Lisboa ao Escalão Avançado (Escav) completado por colegas que deixaram a Suiça no sábado, antes da decolagem do avião presidencial.

Se é que a conta do jantar foi dividida entre os comensais, ainda assim terá sido  bancada pelos brasileiros que pagam impostos. Ministros em viagem pela Europa embolsam diárias de 460 dólares, ou mais de mil reais. É dinheiro de sobra para regabofes em restaurantes estrelados. Para pernoites em hotéis refinados existe o cartão corporativo.

Presidentes da República usam cartões corporativos, mas não recebem diárias. Em contrapartida, dispõem de um “ordenador de despesas” que cuida do pagamento de gastos que são tratados como segredo de Estado. “Por motivos de segurança”, sussurram integrantes do pior primeiro escalão da história.

Como se a pátria ficasse em perigo caso fosse descoberto o preço do prato típico português que Dilma saboreou no Eleven. “Eu lhe servi cavala”, contou o chef Joachim. Parece brincadeira. Mas cavala também é nome de peixe.