O quadro mostrado pelas últimas pesquisas, com Jair Bolsonaro (PSL) consolidado em primeiro lugar e Fernando Haddad (PT) em ascensão mesmo antes de oficializado, antecipou a pregação do voto útil nas demais campanhas que têm alguma chance de ir ao segundo turno.
Geraldo Alckmin (PSDB) foi o primeiro a indicar este caminho, ainda na sabatina Estadão/Faap, antes de ter a estratégia suspensa temporariamente pela facada em Bolsonaro. “Votar em Bolsonaro é um passaporte para a volta do PT”, disse ele na ocasião. O mantra foi repetido por sua vice, Ana Amélia (PP), ontem em entrevista.
Agora, é a vez de a defesa do voto útil chegar à campanha de rua e à propaganda de TV, no fim definitivo da trégua concedida ao candidato do PSL.
A ordem é não bater pesado em Haddad, que a campanha tucana acredita que crescerá naturalmente agora que foi indicado como sucessor oficial de Lula. Alckmin e aliados vão tratar de associar o petista a Dilma Rousseff e ao desastre econômico de seu governo, mas acreditam que sua cristalização como herdeiro de Lula pode ajudar a assustar o eleitor antipetista e forçar o voto útil no tucano. “Haddad ainda não é o adversário”, me disse ontem um coordenador da campanha alckmista.
Nessa pesca por alguns pontos nas pesquisas também haverá um ataque especulativo no eleitorado do bloco dos 3%, composto por Alvaro Dias (Podemos), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB).
A esperança do estafe de Alckmin é que a eleição tome o que eles chamam de “curso natural”, com Bolsonaro, Haddad e Alckmin disputando até o fim para ir à fase final.
Mas a boia do voto útil não será unilateral. Ciro Gomes (PDT) e mesmo a sempre comedida Marina Silva (Rede) já se lançaram a ela diante da evidência de que os votos que tinham ou têm podem estar apenas fazendo uma escala até desaguar em Haddad. Ciro parece ter mais massa muscular para ser enxergado pelo eleitor que já foi petista ou lulista, mas teme a vitória de Bolsonaro e está disposto a encontrar alguém capaz de derrotá-lo – o medo oposto ao que o PSDB tenta incutir em relação à volta do PT.
Para que a tática seja efetiva, o pedetista e a ex-senadora terão de aumentar os ataques ao PT sem irritar o eleitorado que até ontem dizia querer votar em Lula mesmo preso. É uma linha tênue, que a retórica por vezes explosiva de Ciro e o “marinês” de difícil compreensão podem dificultar.
BOLSOMITO?
Adversários dividem voto de ‘convicção’ do de ‘comoção’
As campanhas adversárias à de Jair Bolsonaro reagiram com cautela às primeiras pesquisas após o atentado contra o candidato do PSL. Acreditam que elas captam, nas palavras de um dirigente partidário, “um voto de comoção, e não de convicção”. Atribuem as diferenças de intenção de votos no deputado ao momento em que foram realizados os trabalhos de campo de cada instituto, como a querer criar um termômetro da empatia com ele. Será? O Ibope incluiu uma pergunta que tenta auferir essa volatilidade “emocional”. E, na questão sobre o quão decidido está o eleitor de cada um, é o do PSL que demonstra mais a tal convicção: 54% dizem se tratar de uma decisão definitiva, que não mudará de jeito nenhum. Claro que mesmo essa segurança pode ser fruto da solidariedade com o ataque. Mas, num novo desafio aos pregadores do voto útil, o segundo colocado nessa resolução de voto é justamente Haddad, com 40% dos que o apontam se dizendo decididos.
O Estado de São Paulo