Segundo doutor em imunologia, o importante é saber se variante sul-africana mata mais e qual seu impacto nas reinfecções
Roberto Zeballos, clínico geral e doutor em imunologia, afirmou nesta sexta-feira, 26, em entrevista ao programa Top of the Hour, da Jovem Pan, que é preciso aguardar maiores informações sobre a nova cepa do coronavírus detectada na África do Sul. Segundo ele, há muito alarmismo e decisões precipitadas relacionadas ao assunto.
“Não é a primeira vez que a gente vê alarmismo. Aliás, o grande inimigo da pandemia, além do vírus, é o pânico. Ele faz com que caia a imunidade das pessoas”, disse Zeballos.
Segundo o doutor em imunologia, são dois os fatores importantes que devem ser analisados em relação à nova variante: se a taxa de letalidade é maior do que as outras cepas e qual é o impacto nas reinfecções.
“O que precisamos saber dessa cepa nova é se ela mata mais e, o mais importante, qual é o impacto nas reinfecções. Se for como a cepa amazonense, o impacto é baixo. Se tiver um impacto maior nas reinfecções, pode ser um problema”, afirmou Zeballos.
Para o especialista, o Brasil tem uma diferença importante na comparação com a Europa: aqui, mais pessoas se infectaram com o coronavírus em ondas anteriores da covid-19 — o que significa que há um grande contingente de naturalmente imunizados.
“Temos menos suscetíveis do que os europeus. Aqui no Brasil, os que estão protegidos passaram pela cepa amazonense, a P.1 Gama, que realmente foi muito agressiva. Tem muita gente que já venceu a doença e tem menos suscetibilidade. Isso vale para todas as cepas. A cepa Gama varreu o Brasil. Mas quem passou por ela está em uma condição de proteção”, diz Zeballos.
A explicação, de acordo com Zeballos, pode estar no fato de que grande parte da população dos países europeus ficou mais tempo isolada em casa do que os brasileiros. “Lá eles têm mais condições de deixar essas pessoas encarceradas em casa. Essas pessoas não se expuseram”, analisa.
“Quem a gente viu até agora que é suscetível? Aqueles que não pegaram a doença. Quem passou pela doença não é suscetível. Guardem esse conceito para evitar o pânico.”
Mutações da nova cepa
Segundo as informações preliminares a respeito da nova variante sul-africana, a cepa seria mais infeciosa do que a Delta. De acordo com Zeballos, houve pânico quando a Delta foi detectada, mas ela não se tornou predominante no Brasil.
“A cepa Delta já é uma mutação dessas. E aqui no Brasil não vemos os casos aumentarem ainda, talvez por essa imunidade coletiva desenvolvida pela cepa Gama”, explicou.
Quarta onda
Na entrevista à Jovem Pan, Zeballos afirmou que é precipitado projetar uma “quarta onda” da covid-19, como já sinalizou a Organização Mundial da Saúde (OMS). “A quarta onda no Brasil, se ocorrer, vai ser uma marola. Tem muita gente que já venceu a doença”, disse. “Toda epidemia tem começo, meio e fim.”
Carnaval
Indagado sobre a realização do Carnaval no Brasil, entre fevereiro e março do ano que vem, Roberto Zeballos disse que seria recomendável ter cautela.
“Eu acredito que temos menos suscetíveis no Brasil do que na Europa. Mas, por uma questão de bom senso e aprendizado, eu protelaria o Carnaval por três meses, até a gente constatar que estamos em uma situação endêmica em relação à cepa Delta”, afirma. “Eu aguardaria por uma questão de bom senso. Eu não deixaria virem pessoas de fora.”
Alerta global
Como noticiado por Oeste, a nova variante do coronavírus gerou pânico global, afetando, principalmente, o mercado financeiro e as principais bolsas de valores no Brasil e no mundo. As primeiras informações dão conta de que a nova cepa seria mais infecciosa do que a Delta.
A Pfizer anunciou hoje que já foi dado início ao processo de verificação da eficácia da vacina contra a covid-19 em relação à nova variante.
A Agência Nacional de Vigilância Epidemiológica (Anvisa) recomendou a suspensão de voos vindos do sul da África. A nota técnica do órgão orienta o governo federal a adotar medidas restritivas de caráter temporário para conter a disseminação da nova variante.
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Fábio Matos, Revista Oeste