terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Bandeiras da Lava-Jato e faturas eleitorais

O ministro da Justiça, Sergio Moro, durante o anúncio do pacote de medidas de combate ao crime e à corrupção Foto: Jorge William / Agência O Globo
O ministro da Justiça, Sergio Moro, durante o anúncio do pacote de medidas de combate ao crime e à corrupção Foto: Jorge William / Agência O Globo

Quando escreveu o texto “Considerações sobre a Operação Mani Pulite (Mãos Limpas)”, em 2004, o então juiz Sergio Moro registrou os avanços de uma nova geração de magistrados, os “juízes de ataque”, que utilizavam as leis de modo a endurecer o combate ao crime organizado e à corrupção política. Para Moro, “assim como na Itália”, a classe política brasileira não gozava de “grande prestígio” junto à população, “sendo grande a frustração” pelas promessas não cumpridas.

Convertido em ministro da Justiça por Jair Bolsonaro, que elegeu-se surfando o desprestígio da classe política, Moro anunciou ontem o envio ao Parlamento de um conjunto de medidas legislativas que falam à alma do “juiz de ataque” da República de Curitiba sem descuidar da agenda eleitoral “prende e arrebenta” do presidente.
Espécie de anistia a policiais que matam em serviço, o excludente de ilicitude é um dos símbolos da pauta eleitoral bolsonarista contemplada por Moro. Quase todo o restante do pacote poderia constar de um PowerPoint da Lava-Jato. Regime fechado para corruptos, novas possibilidades de acordo entre condenados e o Ministério Público, prisão em segunda instância, criminalização do caixa dois e legalização de escutas clandestinas encorpam a lista.
Agora no governo, Moro quer ampliar o arsenal dos seus colegas de Curitiba e implementar promessas de Bolsonaro. Precisará, para isso, do apoio dos políticos, eles próprios alvos do “juiz de ataque” no passado.

Robson Bonin, O Globo