quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Partidos de oposição integrantes ou simpatizantes da organização criminosa do Lula formam bloco para apoiar Rodrigo Maia na Câmara. Insistem em manter a velha política corrupta

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM) Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

Enquanto os filhos do presidente eleito, Jair Bolsonaro , fustigam a candidatura à reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avança nos bastidores da Casa um acordo de partidos para transformar o deputado carioca no representante da oposição a Bolsonaro disputa pela mesa. O GLOBO apurou nesta quinta-feira que Maia já teria apalavrado o apoio do PDT e estaria em conversas avançadas com PT e PCdoB. As bancadas dos três partidos, aliadas a outras sete siglas – DEM, PSB, PSDB, PR, PSD, Pode e SD –, já garantiriam 242 votos a Maia. Há sempre, no entanto, a possibilidade de traições na votação, o que torna a conta incerta.

Correndo o risco de ficar isolado até mesmo na oposição, o PT deve acabar aderindo a Maia, mas, antes, quer obter compromissos do presidente da Câmara, como o de não "atropelar o regimento" para ajudar o governo. Donos da maior bancada na Casa, com 56 deputados, os petistas também querem apoio para ocupar cargos na mesa e nas presidências de comissões.
Os movimentos de partidos de esquerda em direção a Maia não são novos. Nas duas vezes em que foi eleito presidente da Câmara, ele contou com o apoio da esquerda.
— A presidência da Câmara diz respeito ao funcionamento da Câmara, que tem uma agenda própria. Não pode ser apêndice do governo. Creio que o desejo dele é manter o equilíbrio. Ele se comporta como quem manterá a independência. Sempre teve uma posição moderada, respeitando as diferenças e por vezes abrindo mão inclusive de posições pessoais. Não há uma decisão formal ainda porque temos que ouvir a nova bancada, mas há um excelente diálogo entre ele e o PC do B — diz o líder do PCdoB, Orlando Silva (SP), sobre Maia.
A menos de dois meses para a eleição da Mesa Diretora, marcada para a primeira sessão de fevereiro, as costuras de apoios evoluem em ritmo intenso no Congresso. Na quarta, cinco candidatos à cadeira de Maia, todos alinhados a Bolsonaro, firmaram um acordo de apoio mútuo em caso de segundo turno.
Fábio Ramalho (MDB-MG), João Campos (PRB-GO), JHC (PSB-AL), Alceu Moreira (MDB-RS) e Capitão Augusto (PR-SP) prometeram formar uma aliança para derrotar Maia. Os integrantes do grupo tem a simpatia de Jair Bolsonaro, que já os elogiou publicamente. Quando recebeu a bancada do MDB, chamou Fábio Ramalho de "meu presidente".
Apesar do anúncio da união, as candidaturas são avulsas. O pacto não conta com a anuência das direções partidárias. O presidente do PRB, Marcos Pereira, por exemplo, sequer foi avisado de que o ato seria realizado. Com a candidatura de João Campos em jogo, Pereira evita negociar com outros candidatos.
No caso de Capitão Augusto, do PR, a legenda se posiciona de forma contrária à sua candidatura. O chefe do partido, Valdemar Costa Neto, já avisou a dirigentes partidários que está fechado com a reeleição de Maia.
Com a apresentação de duas candidaturas avulsas (Fábio Ramalho e Alceu Moreira), o MDB ainda não tem um caminho em conjunto para a eleição da Casa. Por ter uma bancada pulverizada, ainda não foi negociado um caminho em conjunto. Segundo o deputado Beto Mansur (MDB-SP), o quadro político deve ficar mais claro a partir de janeiro. Ele avalia que a distribuição de cargos na mesa da Casa e nas comissões é fundamental para aglutinar apoio.
— Eu diria que eleição para a Câmara é negócio para profissionais —  diz Beto Mansur.
O PP, que ainda não deu a palavra para apoiar Maia,  deu andamento à formação de um grande bloco partidário que engloba todas as siglas, excluindo apenas PSL e PT  —  justamente as duas maiores bancadas. O bloco está sendo montado para ser contabilizado como um todo na formação de cargos da Mesa e presidências das comissões. No cálculo do presidente do PP, Ciro Nogueira, o aglomerado teria o direito de presidir 19 das 24 comissões da Câmara.
Apesar desse movimento estar em curso, o clima está mais favorável a Maia do que já esteve no passado recente. Segundo Nogueira, a tendência é que o PP apoie Maia.
— Um apoio ao Rodrigo é o que deve acontecer. Se depender de mim, ele é o nosso candidato.
Enquanto as negociações avançam, a futura bancada do PSL continua dividida. Em reunião na quarta-feira, com a presença de Jair Bolsonaro, havia o combinado para que o deputado Delegado Waldir (GO) fosse anunciado o líder do partido para 2019. Joice Hasselmann (SP) não aceitou e pediu para que houvesse uma eleição para escolher a liderança. Com a cobrança, Bolsonaro assentiu. E ficou decidido que em fevereiro um novo líder será eleito.
Na briga entre Eduardo Bolsonaro e Joice Hasselmann pelo Whatsapp, revelada pelo GLOBO na semana passada, as mensagens indicavam que Eduardo trabalhava para derrotar Maia no ano que vem. Mas que era preciso trabalhar nos bastidores para que o atual presidente da Câmara não levasse ao plenário pautas bomba.
Tido como maior empecilho nos planos de Maia, o novo governo tem sinalizado que não pretende se envolver na disputa. Nesta quinta-feira, durante o encontro da bancada do DEM com Bolsonaro, o presidente da sigla, ACM Neto, deu mais um passo para consolidar esse entendimento. Ele transformou em compromisso público a conversa que teve com o futuro ministro Onyx Lorenzoni na qual recebeu a garantia de que o governo manterá distância da competição. Neto tratou de agradecer Bolsonaro pela decisão de não tomar partido, ainda que saiba dos movimentos dos filhos e aliados do presidente eleito em sentido contrário.
Apesar de o DEM ter três ministérios importantes no futuro governo (Casa Civil, Saúde e Agricultura), a cúpula do partido tem afirmado que a relação com a gestão de Bolsonaro será programática. Como as escolhas não tiveram o aval da sigla, o DEM votará com o governo nas pautas econômicas, mas se sentirá livre para divergir e votar contra em matérias como o "Escola sem partido". Estrategicamente, Maia não tem dado declarações sobre a eleição e hesita até em admitir que é candidato.

Catarina Alencastro e Bruno Góes, O Globo