Ele observa que o investidor que procura oportunidades no setor aéreo sempre tem o Brasil no radar, mas esbarrava na limitação de até 20% do capital votante. Febeliano observa que as companhias brasileiras já possuem investimento estrangeiro, que poderá ser ampliado. Na Gol, a americana Delta Air Lines é dona de 9,5% das ações e o grupo Air France-KLM tem 1,5%. Na Azul, a americana United Airlines tem 8% de participação.
— A Latam também seria beneficiada já que poderia reorganizar sua estrutura de capital. Quando foi criada, com a fusão entre a TAM e a LAN, já havia a previsão de que os chilenos poderiam aumentar sua participação no capital da empresa quando o limite de 20% fosse ampliado - lembra o advogado Felipe Bonsenso, especializado em Direito Aeronáutico.
A família brasileira Amaro e a chilena Cueto são as controladoras da Latam Airlines, com cerca de 28% das ações somadas. E a companhia árabe Qatar Airlines tem 10%.
A Avianca Brasil, que teve o pedido de recuperação judicial aceito pela Justiça com dívidas que chegam a R$ 494 milhões, poderia juntar formalmente a operação com a Avianca Holdings, baseada na Colômbia, que tem como sócios controladores os irmãos Efromovich. German é dono da empresa colombiana, enquanto o irmão José controla a companhia no Brasil.
Novas tecnologias e modelos de gestão
Além de maior injeção de capital nas companhias brasileiras, as estrangeiras poderiam trazer novas tecnologias e novos modelos de gestão, melhorando a qualidade da administração, observa o advogado Felipe Bonsenso. Para ele, o que chamou a atenção na MP foi o aumento do limite de 20% para 100% da participação do capital estrangeiro.
— É um limite muito maior do que o que se discutiu no governo Dilma Rousseff, quando se pretendia elevar a participação dos estrangeiros para até 49%. A situação da Avianca certamente foi decisiva para aumentar esse limite até 100% - disse Bonsenso.
Para Thiago Nykiel, diretor executivo da consultoria Infraway, especializada no setor aeronáutico, a MP é muito positiva e quem deve ganhar é o consumidor. Para ele, ela abre perspectivas para que empresas estrangeiras se instalem no Brasil - com CNPJ brasileiro - e aumentem ainda mais a concorrência. Com isso, a tendência é que diminua a concentração no segmento, atualmente dominado por quatro empresas.
— A MP abre o leque para que empresas low cost venham ao Brasil e aumentem a oferta de voos, reduzindo o custo por assento - diz Nykiel.
Procurada para comentar a MP, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou que não comentaria a decisão do governo. Entre as empresas aéreas, não houve consenso na avaliação da medida. Em nota, a Latam informou que é favorável ao capital estrangeiro nas companhias aéreas, "pois esse é um setor que exige capital intensivo, e a medida estimula o crescimento, gerando riqueza para o Brasil".
A Azul informou, em nota, que vê com preocupação a assinatura da medida provisória que abre o setor aéreo ao capital estrangeiro.
"Por não haver equilíbrio de concorrência e reciprocidade entre as companhias aéreas brasileiras e estrangeiras, a Azul se posiciona contrária à proposta e sustenta que a ausência de contrapartidas não trará benefícios para as empresas aéreas do Brasil", escreveu a companhia.
A Gol e a Avianca não se posicionaram sobre a MP.
João Sorima Neto, O Globo