Lyndon Baines Johnson (ou LBJ) era o 36º presidente dos Estados Unidos, catapultado ao poder cinco anos antes, após o assassinato de John F. Kennedy, de quem fora vice. Naquele ano de 1968, ele cogitava tentar a reeleição, apesar de o país estar atolado na guerra que ceifava toda uma geração — a de Doris. Mas a estagiária não foi demitida. Não apenas ela concluiu o programa na Casa Branca, como posteriormente ajudou o ex-ocupante da Casa Branca a escrever suas memórias. À época Johnson reagira à publicação do artigo com um comentário típico do político que foi: “Se eu não conseguir convencê-la do meu ponto de vista, ninguém conseguirá”. Não conseguiu. Tampouco tentou a reeleição.
Doris Kearns Goodwin acabou tornando-se referência mundial como biógrafa de presidentes e historiadora da Presidência dos Estados Unidos. Seu livro mais recente, “Leadership in turbulent times” (Simon & Schuster) chegou às livrarias dois meses atrás. Apesar de focar em figuras do passado, o estudo tem grande serventia a candidatos à história presente e futura, de qualquer país. Nele, a autora revisita quatro presidentes sobre os quais já escrevera densos volumes (Abraham Lincoln, Teddy Roosevelt, Franklin D. Roosevelt e LBJ), mas com foco estreito no fator liderança.
Entre os atributos comuns aos quatro analisados está a habilidade de se cercar de conselheiros seguros, desafiadores, que argumentam, debatem e discutem até a tomada de decisão pelo presidente, e que então se mobilizam em torno da ideia mestra. Soa banal? Não é. Ninguém nasce líder, você se torna um, ou não, independentemente de ter sido vitorioso nas urnas. Tornar-se um grande líder em tempos de crise continua sendo o que tantos desejam e tão poucos conseguem — tão mais complexo do que o mero exercício do poder.
Em entrevista recente ao site “Daily Beast”, a autora lista algumas ferramentas comuns ao quarteto que estudou: curiosidade intelectual, uso da inteligência emocional, capacidade de “encontrar tempo para pensar”, habilidade de crescer com erros. Todos foram confrontados com desafios de vulto e haviam passado por adversidades consideráveis: Lincoln convivia com depressão, Franklin Roosevelt com poliomielite, Teddy Roosevelt perdera a mãe e a mulher no mesmo dia de 1884, LBJ amargara uma derrota política precoce.
Kearns Goodwin acredita que Kennedy não teria conseguido fazer passar a histórica legislação dos Direitos Civis assinada por LBJ, assim como William McKinley não teve a compreensão de Teddy Roosevelt para a revolução industrial que batera à porta do seu mundo. Compreender para além do próprio horizonte ajuda na arte de liderar.
Ser capaz de uma exploração interior ou readquirir fôlego fora da bolha do poder, também: Lincoln assistiu a uma centena de peças de teatro em plena Guerra Civil (descontando a que lhe foi fatal) e Franklin Roosevelt manteve seu happy hour diário com os conselheiros mais próximos durante toda a Segunda Guerra, com a proibição de se falar do conflito. Neste quesito a exceção foi LBJ. Sua ideia de relaxamento consistia, no máximo, em entrar na piscina de seu rancho texano, e sentar numa boia, telefone, bloco de anotações e caneta ao alcance das mãos.
Hoje em dia a historiadora costuma ser consultada por CEOs e líderes empresariais desejosos de aprender como presidentes tomam decisões e exercem liderança. E uma das perguntas que lhe fazem com frequência é prosaica: o que faziam aquelas grandes figuras nacionais para combater a insônia em tempos graves e de pressões constantes? Lincoln lia comédias de Shakespeare, Teddy punha-se a escrever cartas, FDR se imaginava criança sem poliomielite, responde a autora.
Em uma dessas ocasiões, Kearns Goodwin devolveu a pergunta ao CEO. Quis saber como ele conseguia dormir. “Tomo Ambien”, ouviu. Ela conclui que presidentes da nação com cabeça de CEO têm tudo para não dar certo.
Dorrit Harazim, O Globo